20 julho 2007

Pensar Mafambisse

De acordo com o "Savana" de hoje, quatro mil trabalhadores sazonais da Açucareira de Mafambisse, na província de Sofala, afirmam que prosseguirão com a sua greve caso o salário não lhes seja aumentado de 66 para mil meticais diários. Queixam-se de que são forçados a trabalhar 14 horas por dia contra as oito estipuladas pela lei. Ameaçam mesmo queimar o canavial caso as suas reivindicações não sejam satisfeitas.
Nos confrontos com a polícia, foi morto um trabalhador de 23 anos e feridos dois.
A empresa, propriedade de um grupo sul-africano, prometeu distribuir equipamento de protecção no prazo de quatro semanas.
Um trabalhador afirmou que em lugar de combater o crime onde ele deve ser combatido, a polícia reprime trabalhadores que reivindicam os seus direitos ("Savana", 20/07/07, p. 3).
Este é um caso que pode e deve ser visto de vários ângulos. Eu apenas vou considerar apenas dois:
1. A necessidade de conhecermos as condições em que trabalham operários urbanos e rurais no nosso país. Este é um problema que deve ser encarado de frente e com honestidade. Glosamos muito o investimento, fazemos tudo e mais alguma coisa para o atrair, mas não estamos nunca interessados em conhecer as condições sociais nas quais vivem e trabalham os nossos trabalhadores. É a era do Capital, sabemo-lo. Mas a luta dos sazonais de Mafambisse mostra que a Era dos Trabalhadores e da Justiça Social ainda não terminou. Nem terminará. E é obsceno saber, por exemplo, que a empresa proprietária da açucareira só agora promete distribuir equipamento de protecção, com a agravante de dar um prazo de quatro semanas para cumprir a promessa.
2. A necessidade de o Estado ter muita prudência em lidar com este tipo de situações na Beira. Porque pode acontecer que, em caso de precipitação policial, não seja apenas o canavial a ser incendiado.
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A imagem mostra um quadro do pintor brasileiro Nely Affonso Rodeghiero intitulado "O canavial".

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