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I
Aqui fica uma série de fotografias da cantora sul-africana Kelly Khumalo actuando num espectáculo.
Da Kelly, aparentemente ela-mesmo. Como há uma Dama do Bling (nome artístico de Ivânia)aparentemente ela-mesmo.
Aqui temos a dança, o canto e o corpo (com a semi-nudez acentuada pelos pés descalços, por uma naturalidade ao mesmo tempo densa, espontânea e trabalhada), aqui temos os ingredientes onde muitos de nós encontram - e severamente policiam- o que já neste diário chamei, com humor, "sexualidade perigosa". Naturalmente que é difícil analisar sem emoção o período histórico, de cadência muito rápida, que atravessamos. Período de subversões que procuramos analisar com as categorias analíticas do passado. Leia-se, por exemplo, a preocupação de Juvelina Sumbana com o facto de a Dama do Bling não "esconder a barriga durante a gravidez". E leia-se, também, o violento ataque de José Belmiro à Dama no "Zambeze" de hoje (p. 5).
II
Mas o problema é que Kelly pode não ser a Kelly ela-mesmo, pode não ser (e não é) a Kelly que eu quero, uma certa Kelly, uma Kelly extraída à Kelly, uma outra Kelly.
Então, com a máquina fotográfica posso fazer de Kelly aquilo que eu quiser e quero, coisas que nem Kelly imagina que posso fazer, coisas como acentuar certas partes do seu corpo, dar a essas partes um coeficiente sexual bem mais amplo.
É nesse sentido que podemos construir Kelly e Ivânia. E em ambas colar um emblema moral, positivo ou negativo.
Deixem-me só acrescentar que a projecção sexualizante é encontrada, em escala acrescentada, nos blogues eróticos. Mas sobre isso falarei na continuidade do que estou a escrever.
III
E vamos de novo ao debate? Poderíamos, a esse nível, tentar ver a floresta e não apenas a árvore? Tentar ver as raízes da árvore? Ou o conjunto das raízes da floresta? Pode ser?
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Obrigado ao Teles Huo pelo envio das fotos de Kelly.
1 comentário:
Tema fascinante, professor, estou a seguir toda a série e da-me para pensar.
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