28 julho 2007

Erotismo bloguista em Moçambique (3) (continua)

O último parágrafo do segundo post desta série fala do corpo, do corpo do qual fazemos segregar o erotismo para o dotar de uma vida quase autónoma, ao mesmo tempo distante e próxima, à mão e furtiva, desejada mas silhuetada.
O problema central da sexualidade reside, claro, no corpo.
Mas o corpo que aqui me interessa nesta série só tem sentido se for descontruído e reconstruído com o magma de um certo tipo de erotismo.
Ele tem de ser despojado simultaneamente daquilo que nele é mera corporalidade e daquilo que nele é, também, mera instintualidade sexual.
Ele tem de ser reinventado de acordo com a imaginação.
Mas que tipo de imaginação? A imaginação compensatória.
A imaginação compensatória ocupa o corpo para o dotar de uma espécie de nova vida, a vida erótica compensatória. Ao arquétipo da sexualidade difusa, pura, sobrepõe-se o modelo da sexualidade imaginada e multifacetada. Digamos que, afinal, se trata de uma sexualidade trabalhada, quase cerebralizada (a imaginação tem disto: também pensa), mesmo se fizermos uso de coisas mágicas como a webcam (no caso do erotismo à distância, do qual falarei proximamente), as quais, aparentemente, reenviam para a sexualidade instantânea, pronta-a-consumir.
Por isso no erotismo o sexo torna-se hipersexo, também hipertexto (no caso dos blogues eróticos, uma das modalidades do erotismo à distância) com uma redacção como esta, encontrada num blogue moçambicano: "Minha pele ainda arde no fervor do que foi a tua língua perdida entre as minhas coxas". Ou, num casamento harmonioso entre a estética e o sonho recorrente: "A cada trago de mim, uma assinatura lacrada para o vício de te ser eternamente. Bastará o primeiro gole para saberes enfim, que não existo."
Prosseguirei (talvez com novo post dentro de instantes) para, pouco a pouco, entroncar a tríade síndromas/subconsciente/net no corpo reinventado pela imaginação compensatória.
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Manterei no anonimato os blogues dos quais as citações serão extraídas.

7 comentários:

Salvador Langa disse...

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiii mano mano, essa coisa estar mesmo hot. estou ansiosa com o resto.

Xiluva/SARA disse...

gostaria de saber porque razao falar de sexo livremente tem a ver com compensacao. Nao e uma coisa natural? No resto texto belo.

JCTivane disse...

Na minha opinião pessoal os autores de blogs porno são todos os falhados. Tenho dito como sempre.

Su. disse...

Na minha humilde opinião, pq afinal to aqui a falar com um sociólogo e há que manter o respeito…

Compreendo e concordo com o que diz, escrever sobre erotismo eleva o corpo, eleva o acto a algo perfeito, ali o sexo acaba por ser ainda melhor, porque nos transcende, e liberta-nos de certa forma para a criatividade, é como uma história de amor, um romance, em que tudo é perfeito, o cenário a musica de fundo, os sentimentos, seja lá o que for, ali os pormenores são elaborados para serem belos e inesquecíveis e… e perfeitos! O sentimento de bem estar preenche-nos porque imaginamos, porque nos deixamos embarcar no sonho das palavras que nos embalam, mesmo que momentâneo, criamos situações perfeitas, porque na realidade sabemos que o real nem sempre é perfeito, ou pelo menos como gostaríamos que fosse… no outro dia por exemplo, encontrei um blogue assim, e ali está um exemplo de compensação, pura, porque mesmo que a pessoa que o escreve possa ter o melhor dos sexos, nota-se que há ali uma falta, e é nítida… enfim, a pessoa gosta de escrever sobre o assunto, será pq é q tem muito e em qualidade?… isto é assunto que dava pano pra mangas! Pq também já encontrei quem viesse para a internet fazer blogs a mostrar partes do corpo… venda? Falta? Falha? Enfim assuntos para estudos profundos! À muita gente com a sua sexualidade mal resolvida. Por exemplo, pq é o Sr.Tivane, tao agressivo ao falar deste assunto?
Enfim,
Cumprimentos.

Carlos Serra disse...

Obrigado, Su, irei ver. Bem, o Sr. Tivane é sempre assim: tivana. É o seu direito.

Avid disse...

Aqui fica a mesma pergunta que a Sara fez…Porquê imaginação compensatória? Acho que a maioria das pessoas é levada a pensar desse modo...Acho que o assunto sexo é tão reprimido ao longo dos séculos de se falar abertamente que quando alguém o faz fica-se a pensar no que está em falta e no que está a mais. Acho a escrita uma arte como outra qualquer, quando um pintor ilustra sensualidade e/ou sexo na sua tela? Será mecanismo de compensação? Quando alguém escreve um romance de mais de 500 páginas e metade dela fala de cenas tórridas de “amor” dos seus personagens? Será mecanismo de compensação? Será que ao se utilizar a palavra amor em poemas e prosas se está a usar provas de que não se faz parte do grupo de pessoas sexualmente “mal” resolvidas?

Bom... eu acho o sexo tão natural como comer, dormir e tudo mais que a energia da vida me permite fazer na sua plenitude. Discordo plenamente (minha humilde opinião) que este tipo de escrita reflicta o que aqui se aborda neste post. Acho que esse mecanismo que aqui se fala pode estar ou não presente tanto na escrita erótica como em outro tipo de escrita qualquer.

Escrevo um blog com bastante navegação pelo erotismo, seria diferente se em vez de usar a palavra “f...” utilizasse a palavra “fazer amor”? COM CERTEZA!! Seria diferente se eu em vez de contar detalhes do que gosto e do que quero fizesse poemas cheios de pudores ilustrativos da mesma coisa? COM CERTEZA!!

Acho que ao chegar a palavra “amor” todos passamos por essa energia sexual renovada, de algum modo. Do sexo todos nascemos... não nos esqueçamos disso... por quê esconde-lo na hipocrisia daquilo que a educação e a religião (na maioria da vezes) nos ensina desde crianças...Sexo não é um mal que precisa ser combatido, pelo contrário acho que precisa ser escrito, cantado, pintado, sonhado, e principalmente...feito, muito e bem feito.

Porque escrever blogs que falem de politica, de cinema, de violência, de amor e não de sexo? Porquê esconder algo tão bonito como essa partilha, talvez a maioria discorde comigo... mas não será mal resolvida a pessoa que o faz na cama mas prefere o silêncio pós- sexo ( em palavras escritas, refiro-me) como se isso se tratasse de algo errado? Isso sim acho que demonstra algum tipo de carência.

Mas quem sou eu para achar alguma coisa...

Sexo é bom de qualquer jeito, feito ou falado, acho que é a forma mais primitiva do chegar a ser a partilha de algo tão belo como o corpo. Sabe tão bem falar dele que ...hehehe... acabei me perdendo nesta divagação matinal.

Bjs meus

Carlos Serra disse...

Aguardem a continuidade da série...