Prossigo a série, colocando de imediato dois pontos que tenho por fundamentais.
Quando do debate ontem na TVM, chamei a atenção para a virulência das mensagens enviadas por telespectadores e que corriam em rodapé no televisor à nossa frente. Várias dessas mensagens pediam a pena de morte para os professores turcos, uma apelou mesmo para a aplicação da sharia.
Essas mensagens traduziam um sentimento de revolta muito grande, mas de natureza muito violenta e, de alguma maneira, creio, xenófoba.
Essas mensagens traduziam um sentimento de revolta muito grande, mas de natureza muito violenta e, de alguma maneira, creio, xenófoba.
Ora - como rapidamente assinalei na TVM -, os supostos autores das sevícias sexuais denunciadas pelos alunos são turcos como podiam ser de outra nacionalidade qualquer. Não há uma substância turca – como não há uma substância nacional seja de que tipo for - destinada a seviciar particular e sexualmente os estudantes moçambicanos. Creio que aqui e acolá foi colocado um excessivo acento tónico na sexualidade estrangeira do fenómeno, reforçado pela natureza bizarra e insólita do caso que procurei relatar no primeiro número desta série. Mas a nossa imprensa está cheia de relatos de violações sexuais, mesmo nas escolas. E os autores dessas violações são moçambicanos.
Por outro lado, tenho para mim que não é correcto associar o fenómeno a uma malevolência intrinsecamente islâmica, a uma espécie de plano diabólico religioso com fins obscuros do qual as crianças fossem o alvo.
Entretanto, tal como ontem no programa da TVM, continuo a confrontar-me com a pergunta: o que é realmente importante neste fenómeno que, ao mesmo tempo, existe e, oficialmente, não existia? O que nele é, afinal, fundamental?
Por outro lado, tenho para mim que não é correcto associar o fenómeno a uma malevolência intrinsecamente islâmica, a uma espécie de plano diabólico religioso com fins obscuros do qual as crianças fossem o alvo.
Entretanto, tal como ontem no programa da TVM, continuo a confrontar-me com a pergunta: o que é realmente importante neste fenómeno que, ao mesmo tempo, existe e, oficialmente, não existia? O que nele é, afinal, fundamental?
Nota: fui informado de que as crianças estão num centro de reabilitação psicológica.
2 comentários:
De facto é difícil responder a pergunta de partida que o professor coloca. E talvez a investigação tenha que começar dai, determinando o que é mais importante nesse fenómeno: se a pobreza que aparece como denominador comum na origem dos menores (vêm de famílias socialmente vulneráveis), se na fé religiosa ou na promessa salvacionista pregada pelas religiões, ou se na evidente presença em moçambique de tentáculos de redes internacionais de abuso sexual de menores, trafico , pedofilia, etc.
Outra pergunta que, provavelmente, vale a pena fazer é a seguinte: o que é que a fé das pessoas envolvidas (agressores e agredidos) tem a ver com esse fenómeno? Ou seja, por que é que o camião das 40 crianças e agora a casa do Triunfo, vem acompanhado de adjectivos religiosos das pessoas em causa?
Estaremos perante "exploração" da pobreza ou da vulnerabilidade das instituições, da fé das pessoas ou da sexualidade das crianças? ou ambas juntas?
Enviar um comentário