09 fevereiro 2008

Tipo e características de luta na revolta popular de Maputo (2)

No dia 5 de Fevereiro, dia das novas tarifas dos chapas, começou a revolta popular na cidade de Maputo.
Mas qual das cidades da cidade de Maputo? No bairro da Polana? Na Sommerchield? Na imediações dos condomínios? Na cidade dos guardas privados?
Não: começou lá na periferia, aparentemente começou em Magoanine, lá onde os moradores mais têm sofrido com os chapas.
Começou lá onde as pessoas vivem apinhadas em agregados familiares enormes, lá onde a fixação de novos moradores é constante nos interstícios reinventados das ruelas, lá onde a iluminação é precária, lá onde as condições sanitárias são péssimas, lá onde o roubo espreita tudo e todos a partir das 18 horas, lá onde o desemprego campeia, lá onde rareia a concepção de futuro face a um presente de sobrevivência permanente, lá onde se odeia o Poder da cidade do cimento protegida, lá onde a polícia pouco circula de noite, lá onde o desenraca é a lei da vida, lá onde viver e manter-se tem um ponto de interrogação sempre à frente, lá onde tudo se fez para que as festas de fim-de-ano pudessem ser um pouco mais fartas num desapertar de bolsa catárquico, lá onde há milhares de crianças que estudam nas escolas públicas, lá onde se estava nas margens das matrículas de 2008, lá onde a ansiedade para com um novo ano estava e está em cada morador, lá onde, finalmente, se foi sabendo que pão e chapas iriam aumentar de preço, lá onde não se sabe do que se passa nos corredores do mercado internacional, nos elegantes gabinetes ministeriais e nas estradas certinhas das estatísticas macro-económicas.
Lá onde apenas uma gota era necessária para fazer transbordar o copo de água.
1.ª adenda às 14:46: certamente devido à descrição e à arqueologia permanentes da revolta popular de 5 de Fevereiro, este diário atingiu ontem a média recorde de 1029 leitores/dia, jamais por ele atingida anteriormente ou por qualquer outro blogue em Moçambique. Previsão: a média irá baixar pouco a pouco nas próximas 2/3 semanas, até se situar, de novo, na anterior média dos 350/400 leitores/dia.
2.ª adenda às 15:42: recordei-me, há momentos, a propósito de riqueza e de pobreza, de uma postagem que escrevi em 2006 com o título "A riqueza da pobreza segundo Irmã Emmanuelle".
3.ª adenda às 22:14 de 10/02/08: tempo haverá para falar da velocidade acrescentada da revolta face ao uso do celular, este meio de aceleração da velocidade da história.

4 comentários:

mãos disse...

Bom dia professor.

Peco seu email.Pretendo mandar algumas fotos do lancamento do livro de Cemild Bahule. o emal Carlos@zebra.uem.mz, devolve os meus emails.

Ouri Pota

Carlos Serra disse...

carlos@zebra.uem.mz
(escreva tudo com caixa baixa)

jpt disse...

Caro Carlos Serra, ausente de Maputo durante estes dias, sem comunicações regulares e ouvindo apenas extractos do que se passava, que me surpreendiam e até afligiam, regresso agora a casa - ecoo aqui os elogios que me lhe fizeram, pela cobertura "em cima" dos acontecimentos. E noto aqui, também, enquanto vou post acima e post abaixo, que para além do noticioso dos dias aqui foi deixado um inestimável documento historiográfico. Vénia

Carlos Serra disse...

Obrigado.