03 fevereiro 2008

Acesso "étnico" desigual à riqueza no Quénia


A Sra. Sarah Childress escreveu no The Wall Street Journal que a "violência tribal" no Quénia chocou observadores internacionais e quenianos. Mas por que razão as tensões étnicas fizeram a sua erupção com tanta força horrível? Ela faz essa pergunta e procura analisar o que está por trás do fenómeno. Afirma, por exemplo, que um grupo étnico está mais favorecido do que outros no acesso à riqueza, num país que estava a ter, afinal, um boom económico. Então, muitas vezes protestamos não porque as coisas correm pior, mas porque as coisas correm melhor. A esse propósito, a autora cita Steve Morrison, director do programa africano do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank de Washington (obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência). Mas - permitam-me acrescentar algo - a história dessa teoria é antiga e remonta a Alexis de Tocqueville, tendo sido depois aproveitada pelo historiador francês François Furet para analisar a revolução francesa do século XVIII.
Se quer ler em português, use este tradutor aqui.
Aproveite também ver este vídeo sobre o Quénia.

4 comentários:

Anónimo disse...

A senhora Sarah Childress demonstra, nesse seu artigo, como é que o mecanismo de exclusão funciona? Creio que, mais do que afirmar que uma etnia é mais favorecida do que outras, o mais importante era dizer como. Será que um Luo é impedido de entrar na escola ou na universidade por ser Luo? Ou um Luo não pode abrir uma barraca, uma loja ou uma empresa? Será que as empresas de construção civil ou de consultoria não ganham concursos só por serem de Luos?

Aqui neste país, se alguém perguntar como é que funcionava o mecanismo de exclusão colonial, qualquer pessoa próxima dos 50 anos poderia explicar sem gaguejar. Haviam empregos e posições reservados para os colonos. Joaquim Chissano chegou a ser o único negro a frequentar o maior liceu do país. Havia o trabalho forçado mal pago, para os moçambicanos.

Como é que funciona o mecanismo de exclusão no Kenya?

Obed L. Khan

Anónimo disse...

Os Luos devem ser os Machanganes lá da terrinha. E não é verdade que Chissano fosse o único negro a frequentar um liceu, havia mais outros do que pensa como o Guebuza e o Mocumbi, no antigo António Enes. Sem contar com o antigo Liceu Salazar e outros liceus da antiga colónia.
(Observador Ndau)

Anónimo disse...

Existe de forma cega a intenção de negar que o sul é mais favorecido em Moçambique. Que é para lá que se concentram os "grandes". Como disse é uma "intenção cega". Queria ver alguém não do sul a defender o contrário. Que o digam governante não do sul a governarem no sul. Gente eu acho que é essa atitude que faz com que dum momento para outro surjam casos como do Quénia. Devíamos parar de minimizar os problemas. Deixar de mistificar as coisas. Olha Xongondo a desabafar!!!! Não é promover tribalismo não. ele já existe em algun lugar dentro de nós.

Anónimo disse...

Provavelmente o observador Ndau pode apontar uma mancheia de moçambicanos que frequentavam o Liceu no período a que me refiro. Mesmo negar (não sei com que fundamento) que Chissano chegou a ser o único negro a frequentar o maior liceu de Moçambique. Não creio, todavia, que negue os mecanismos de exclusão que indiquei (que nem eram os únicos).

A pergunta permanece: a tal Sarah mostrou como funcionam os mecanismos de exclusão étnica no Kenya? Ou como funcionam eles em Moçambique. A melhor maneira de combater um fenómeno negativo é saber como ele se manifesta. Aparecer e dizer que no Kenya há exclusão étnica no acesso aos recursos é pouco.

Obed L. Khan