Três mesquitas de construção precária foram queimadas na cidade de Lichinga. Confira aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
5 comentários:
Folgo em saber que não há suspeitas de envolvimento de cristãos nesta saga. É que se assim fosse, talvez seria a primeira vez que estaria a ouvir de conflito entre cristãos e muçulmanos no país. Não que não haja animosidade (feriados islâmicos onde a Igreja Católica se opôs veementemente), mas isso sempre foi resolvido com debate.
Para mim, o que contribui na não violência religiosa no país é o facto de muitas famílias serem mistas, ou seja, muitas famílias moçambicanas são constituídas por cristãos e muçulmanos, principalmente no norte do país. Tudo acaba ficando entre família. Minha própria mâe e irmãs são cristãs enquanto eu, meu irmão e meu pai somos muçulmanos. E ao ritmo em que vou, vejo-me a desposar uma cristã. Onde existem laços sanguíneos torna-se difícil virar-se contra este ou aquele quando há animosidade religiosa, penso eu.
Agora, posso crer que seja de facto fruto de conflito inter-religioso. Cabo Delgado já nos oferecu vários exemplos de intolerância no passado, principalmente por causa dos ides. Não me causaria espanto que esse fogo posto tivesse a ver com o facto de estarmos prestes a entrar no jejum - uma forma de privar uma facção de ter um sítio próprio de culto de modo, principalmente se tiver uma opinião divergente sobre como os ides devem ser celebrados. Se na base de visualização de lua local ou global. Acho que no passado acompanharam as divergências que existem no seio dos muçulmanos quanto ides.
Pode tratar-se de um caso "menor", pode ser o preâmbulo de algo maior. Os conflitos de primazia e direcção são de alguma forma frequentes no país. Por exemplo, nas igrejas protestañtes, especialmente nas evangélicas. Aguardemos.
Aguardemos sim. os conflitos de "primazia e direcção" são de facto a face do fenómeno de conflito religioso no país. No seio dos muçulmanos isso também existe, mais as coisas não acabam como acabam os conflitos dos protestantes, por exemplo. Mas tenho em mim (aínda vou documentar isto) que o que causa maior preocupação no seio dos muçulmanos são os conflitos intramuros (escaramuças porque voces celebraram o Ide hoje e nós celebramos amanhã, disputa de uma mesquita ou sua liderança). Os extramuros são mais ao nível de lideranças, principalmente por qualquer reivindicação contra a Igreja Católica.
Nas igrejas evangélicas, por exemplo, a dificuldade de acesso aos cargos pastorais do topo provoca rapidamente a cissiparidade: o desgostoso funda a sua própria igreja e procura atrair crentes da antiga. E por aí fora.
Os últimos desenvolvimentos (jornal Zambeze) não são encorajadores - aliás, nem mesmo que fosse muçulmanos contra muçulmanos o acto seria encorajador. Vamos ver se reinará a sensatez e calma, principalmente porque estou ouvindo que os muçulmanos andam enraivecidos.
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