01 março 2010

Os distantes fumos seiscentistas

(...) o tempo q lhe concedem, q não he mais senão emq.to tem que gastar (...)"
Escrevendo para o rei português em 1648, o então capitão de Sena, Francisco Figueira de Almeida, afirmou que no antigo Império de Muenemutapua (ou Mwenemutapwa ou Munhumutapwa, como queiram, escolhei a grafia; expressão de uso popular:
Império Monomotapa) - com sede no actual Zimbabwe e apanhando o centro do nosso país -, as povoações (muzindas) tinham chefes chamados fumos ou encosses, todos dependentes de um mambo.
Os fumos eram eleitos entre os que mais posses tinham localmente. O seu reinado durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Eram obrigados a tudo gastar: comida, pombe, jóias, tecidos, etc. Quando nada mais lhes restasse, eram distituídos e passavam a pertencer ao grupo dos grandes por mérito, com direito ao uso de um chapéu de palha e de um bordão.
Fonte: Almeida, Francisco Figueira de, Carta q Franc.co Figr.ª de Almeida, Capitam de Sena, esvreeuo ao Governador Dom Nunes de Alues, dando lhe conta do q hia obrando, acerca da guerra, in Gomes, Antonio, Viagem q fez o Padre Ant.º Gomes, da Comp.ª de Jesus, ao Imperio de de (sic) Manomotapa: e assistencia q fez nas ditas terras de Alg´us annos (séc. XVII), 3, 1959, separata, p. 205.
Imaginai se a história se repetisse e se os chefes actuais, certamente de bem mais posses que os fumos, fossem obrigados a inscrever-se na regras seiscentistas das antigas muzindas
.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro, prof. Uma especie de potlach?
Cumprimentos
Carlos Bavo

Carlos Serra disse...

Ontem como hoje, em meio rural a desigualdade social é olhada com suspeição. A crença é a de que o enriquecimento só pode ser conseguido à custa de outrem, com recurso, por exemplo, à magia. Creio ser essa a base de muitas das crenças que aparecem disfarçadas de irracionalidade, que nos surgem aberrantes, como não fazendo sentido.

Unknown disse...

caro prof.,
a meu ver, hoje seria praticamente impossível proceder de acordo com as regras seiscentistas, porque: i) mais do que crença - como prof. afirma no comentário anterior - a realidade tem nos mostrado que os ricos de hoje (na sua maioria) têm no sido à custa dos outros (não através da magia), mas sim à custa do erário público; ii) os chefes de hoje (na sua maioria) chegam ao poder menos ricos e saem de lá quase que rebentados de riqueza (sumptuosas mansões, luxuosas viaturas, chorudas contas bancárias, etc), portanto, a ser possível o regresso ao seiscentismo, nos dias de hoje, tal seria simplesmente um acto de devolução das fortunas públicas outrora roubadas pelos chefes ao resto da sociedade a que eram supostos servir.
abraço,
thomas selemane

Carlos Serra disse...

Mas creio que de evz em quando vale a pena recordar a história...Abraço.

Unknown disse...

Sim. Vale a pena recordar a história. Concordo. "Não vamos esquecer o tempo que passou!" Não era (ou ainda é) assim???
Abraço,
Thomas