Confira um dossier com peças por mim seleccionadas da edição do semanário "Savana" de 19/03/2010. Aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
7 comentários:
Professor Serra,
Bem haja. Para quem está longe da pátria e que se interessa positivamente pelo progresso do país, este Diário recomenda-se. Está por isso de parabéns pela inovação, sempre inovando!
A entrevista do ministro Sumbana é interessante. Como sabe, sou amantes de muitas áreas, entre às quais do património. A ilha de Moçambique é um lugar onde decidi viver o resto dos meus dias, livrando-me das cidades poluentes do mundo. Não só das cidades, mas sobretudo dos homens maus. Em cidades pequenas, salinas, os "feiticeiros" não tem campo de manobra.
A ilha está a cair de podre. Os esforços com vista a sua reabilitação e/ou restauração não passam de contos de fada. Há muito que a ilha deixou de ser um lugar verdadeiramente turístico e fonte de divisas. Dizia-se na altura em que por lá andei que por estar nas mãos da Renamo (até muito recentemente) ela estava condenada à morte. Agora que passou para as mãos da Frelimo, creio que ainda assim nada mudou. Senão teria já sabido.
A conversa que tive com o ministro Artur, em Évora, foi exactamente em torno da importância da ilha no turismo nacional. Deu-me garantias, mas não basta, é preciso fazer mais do que isso.
O que a ilha precisa é de acções. Acções de sujar as mãos e não de encher o estômago. Já foram publicados vários relatórios importantíssimos sobre a ilha. De Bernardo Honwana et al é a mais recomendável.
A execução desses relatórios tornaria a ilha um lugar turístico ímpar no mundo. Já é em si de uma beleza ímpar, mas podia ser mais do que é. A sua beleza, repito, só o Poeta Rui Knopfli sabe representar. O espólio nacional precisa de ser conservado de modo a que as gerações vindouras possam se orgulhar dos que, pedra sobre perda, ergueram a construção do país. E há países a viver do turismo, temos o exemplo de Cuba, da Tailândia, de Cabo-Verde, etc.
Estou a ver que o país precisa de técnicos de património. Há muita confusão neste conceito. Confunde-se património com a antiguidade. Ainda pior quando dois conceitos se confunde protecção por reabilitação...
Por último. O que é que os agentes dos TICs estão a fazer para promover o turismo? Nada. O que é que o governo faz para promover o turismo? Nada. O que é que a comunidade faz para promover o turismo? Maldita gripe que não me deixa escrever mais.
Zicomo
Professor,
Achei interessante uma peca em que Guebuza aparece a dizer que nao aceita ingerencia dos doadores na vida interna do pais.
O que se sabe e que os doadores exigiram:
- Desfrelimizacao do Aparelho de Estado;
- Accoes concretas de combate a corrupcao;
- Inclusao de mais partidos na vida politica, por meio de reformas legais
- etc
Agora, se Guebuza acha que exigir estas questoes, que em todo o mundo sao consideradas principios, e ingerencia, entao a governacao em Mocambique esta a trilhar caminhos fora dos principios internacionais actualmente em voga.
A segunda questao que achei interessante e o argumento do Governo de que a desfrilimizacao do Ap. Estado e assunto de partidos politicos.
Como e que o Governo aceita que faca lobbies para que a AR altere o seu regimento. Este nao e um assunto de partidos politicos? Se o Governo consegue se comprometer nesse aspecto da alcada do poder legislativo, como e que nao consegue reunir os partidos e exigir a sua saida do Ap. Estado?
De resto, se exigir o fim de celulas de partidos no Ap. Estado e contra a liberdade de consciencia politica (como alguns dizem), entao acto continuo qualquer valor que se pretende preservar, como manifestacao religiosa, podem ser claramente exibidos no Ap. Estado. Significa que qualquer pessoa pode decidir criar um Nucleo da sua igreja no seu sector de trabalho, e fazer reunioes e tal!...
O Governo deve reconhecer que esteve errado e corrigir as coisas.
Torres,
Os Doadores são bem-vindos, mas não devem aproveitar-se desta condição para impor.
Eu conheço muito bem o comportamento moral de alguns doadores, garanto-lhe que não são santos como o Torres pode imaginar.
Trabalhei com alguns deles em várias frentes e sei que, parafraseando o professor Mataruca "não há almoço grátis".
As cinzas na cabeça de Guebuza não estão lá à toa, tanto que não está à toa na cabeça de Mugabe. É preciso ler cada cinza que estes dois homens transportam.
Zicomo
Caro Viriato,
Provavelmente temos que ter o mesmo conceito de "ingerencia".
Para mim, exigir o cumprimentos de principios nao tem nada de anormal. Os doadores estao a exigir principios que sao aceites em todo o lado.
E como exigir a manifestacao de liberdades politicas, religiosas, etc.
"Ingerencia" esta a ser mal evocado neste caso. Tanto e assim que o Governo nao consegue demostrar em que assuntos os doadores estao a se imiscuir.
Ja agora, qual e o teu conceito de "ingerencia"?
Não é bem assim, chamuale Torres! É preciso ter sempre o cuidado de aprofundar as coisas e não limitar-se na superficialidade das informações fornecidas pelos jornais do dia. Pessoalmente não vejo com bons olhos esta pressão dos Doadores.
O Governo nunca foi contra a fiscalização das ajudas, até porque, este esforço adicional é bem-vindo para ambos. Porém, um Estado independente como o nosso não pode ser uma fechadura de vários buracos, nem deve guiar-se por prazeres de quem o ajuda.
Há ingerência quando deixa de fiscalizar as ajudas para entrar num campo que apenas diz respeito aos moçambicanos. Não pode os Doadores impor ao Governo aquilo que cabe ao Governo fazer.
Há ingerência quando os Doadores deixam de ficslizar as doações para impor ao Governo que mude a lei eleitoral. Esta é uma tarefa que diz respeito ao parlamento e demais órgãos de soberania. Os Doadores podem opinar, mas não devem impor nem fazer chantagens.
Torres, eu não sei quantos anos é que você tem ou se alguma vez já assumiu cargos de chefia, mas garanto-lhe que não é fácil curvar-se perante este tipo de exigências. Já não estamos naquela fase em que o país é comandado pelo telefone a partir da metrópole.
Os Doadores estão a fazer chantagem barata, de baixo culto. Até parece que aquilo que impoe vai mudar alguma coisa. É a mania de ser e de estar de certos indomáveis de pensar que podem e devem quando lhes apetece. É um cancro que infelizmente sou obrigado a ouvir e a resistir todos os dias.
Zicomo
Nunca se concebeu a ideia de ver quem tem as armas na mao a responder as perguntas de quem nao as tem...
Doa a quem doer. Estejamos onde estivermos.
Viriato,
A exigencia dos doadores faz sentido. Veja o que a Frelimo faria sem a pressao internacional? Estariamos todos de tanga a bajular os seus chefes!
Consegues perceber a arrogancia de Paunde ou de Itai Meque, que querem destruir a democracia? Para ti esta bem assim? Pelos vistos, sim.
Para mim nao, e qualquer pressao, seja interna ou internacional e bem vinda.
As coisas comecam assim mesmo, com esas pequenas palavras, gestos, e depois culmina com ditaduras das mais crueis.
Se e para salvar a pluralidade de ideias, estou com quer quer que seja.
Hitler comecou assim mesmo e levou o seu pais a destruicao. Nao queremos isso em Mocambique.
Mocambique e um pais plurar, e ninguem tem o direito de impedir isso a ninguem.
Se a imprensa esta a esconder coisas, nao sei. O que sei e o que esta publicado em jornais. O que esta escondido nao entra em debates.
Nao ha nenhuma ingerencia e ponto final. Acompanhe a evolucao do conceito "ingerencia". Ha-de notar que ja nao cobre principios internacionais como democracia, direitos humanos, inclusao, preservacao ambiental, etc. Evocar isso ou pressionar para que tais valores sejam garantidos num pais nao e nenhuma ingerencia.
Estamos no seculo XXI, meu irmao. Ja nao se apoiam governos a torto e direito. Apoiam-se governos que se guiam por valores.
Nao se apoiam governos por mero fanatismo. Apoiam-se governos responsaveis e tolerantes.
Nao apoie pessoas, nem grupos. Apoie ideiais, venham donde vierem.
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