08 março 2010

Nós e eles

O ano passado uma equipa por mim dirigida trabalhou em algumas das nossas cidades registando percepções de Moçambicanos sobre estrangeiros e destes sobre aqueles (livro a publicar esta ano). Por exemplo: um taxista moçambicano ouvido na cidade de Nampula, com o seu retrato-cliché: "Penso que a maior parte dos estrangeiros está cá para fomentar algumas práticas ilícitas (roubos, prostituição e tráfico). São pessoas que chegam ao país na maior parte das vezes sem um tostão no bolso e de forma ilegal, mas, com o passar de poucos meses, tornam-se donos das maiores e mais bem recheadas lojas de roupa, electrodomésticos e cosméticos de todo o tipo.(...) Será que o nacional não tem capacidade? Se muitos deles chegam ao país como refugiados e sem nada, como é que se justifica que, passado pouco tempo, eles prosperem tanto? Para mim existe algo muito estranho por detrás disto."
Um professor e comerciante maliano ouvido na mesma cidade, igualmente com o seu retrato-cliché: "Para mim os Moçambicanos são pessoas muito passivas, acolhedoras, mas muito preguiçosas e invejosas. Gostam de se lamentar em vez de trabalhar. São pessoas que ainda não se aperceberam que neste país há um bom ambiente de negócios, basta-lhes apenas terem um pouco de cabeça e muita ambição. Muitos dos Moçambicanos não têm palavra, não gostam de honrar com os seus compromissos e são essencialmente oportunistas. Não respeitam as suas mulheres nem a religião que professam. Gostam de beber e de ter uma vida fácil."

Adenda: leia ou recorde uma série minha em dez números com o título Eles e nós: representações sociais num bairro de Maputo, aqui.

9 comentários:

Anónimo disse...

O Malawiano nos definiu!!! E eu acho que isto ]e tudo a conjugação do colonialismo e do socialismo cientifico (muito paternalismo)aliados à cada vez menor qualidade da educação e aos metodos usados para educarmos os nossos filhos que não incentivam o pensamento individual, mas sim o colectivo. Na verdade os moçambicanos nao gostam muito de honrar os seus compromissos e muitos, sobretudo os chefes gostam da vida facil. Pena que o nosso Malawiano tenha tanta razao!
Temos que MUDAR e deixar de nos queixar!!!
MF

Anónimo disse...

Está ai um verdadeiro raio-x do moçambicano feito por um estrangeiro. Quem será o primeiro leitor a discordar dele?

Mas ele se esqueceu de um detalhe: O moçambicano é tão medricas, tão medricas que para concordar com ele aqui neste blog muitos usam o anonimato!!!

Professor, falando em séries antigas, vou enviar um email para si com uma sugestão que pode ajudar novos leitores a acompanharem melhor suas séries antigas neste blog.

Reflectindo disse...

Primeiro, eu gostaria de saber se aquele professor e comerciante é maliano ou malawiano.

Segundo, acho que o MF tem razão, embora eu receie que o estrangeiro saiba que existem os mesmos problemas no seu país de origem que os nossos. A questão é tentarmos ver se no Mali ou Malawi os estrangeiros não fazem negócios com sucesso. Será que ele fez isso lá no seu país? E se não fez, porquê será? Não estou aqui a procura de desculpas, mas propôr um aprofundamento. Concordo na maior parte do que o estrangeiro disse.

Terceiro, acho que o MF alerta-nos para mais um caminho de análise. Que impacto tem o colonialismo e o socialismo cientifico? Vejamos que em questões de desenvolvido há que analisar até o impacto religioso...

Quarto, o anónimo confirmou como se é medricas?

Quinto, na análise disto devia-se incluir o consumismo. Acho que gostamos mais de consumir que poupar e investir. Estou errado?

umBhalane disse...

Bom, eu até tinha um comentário, que julgo que era adequado e "bom", mas como se continua a confundir colonialismo com colonização,

mesmo académicos, então...

fico a "ver".

Deixa-andar.

Carlos Serra disse...

Por um lamentável lapso técnico, um comentário do José Chagas foi rejeitado, pelo que apenas encontrei como solução para publicação a cópia do que ele escreveu:
"José Chagas deixou um novo comentário na sua mensagem "Nós e eles":

Esta discussão é tão velha como a emigração e/ou a imigração e nada tem a ver particularmente com Moçambique.
É exatamente igual á discussão sobre o assunto em Portugal, Espanha, França ou USA.
O facto é que, regra geral, o imigrante ganha características no seu novo país que, aplicadas no país de origem, teriam evitado a sua emigração.
Recordo que os portugueses, nas décadas de 60 e 70, eram considerados os melhores trabalhadores em França...
Parece-me oportuno realçar que este raciocínio se aplica aos e(i)migrantes por razões económicas."

umBhalane disse...

José Chagas

Concordo absolutamente com o seu comentário relativo aos emigrantes Portugueses (França, como em quaisquer outros Países - Brasil, RSA,...)

Mas quero adicionar um elemento.

Os emigrantes Portugueses dessas décadas eram de facto bons artífices, operários, rústicos e bastante trabalhadores,

mas tinham excelentes "oficiais", isto é, estavam bem enquadrados - as estruturas em que se foram inserir eram/são muito mais eficazes, competentes, que as que vigoravam/vigoram ainda hoje em Portugal.

Os quadros estrangeiros, as condições de vida são muito superiores, e a mentalidade muito mais aberta, criativa, ganhadora,...

E, isso, faz também uma grande diferença.

ricardo disse...

Aprendi duas coisas nesta vida...

1-Que no estrangeiro, todos mocambicanos sao "malawianos";

2-Que a "domesticao" cria a dependencia ao dono.

Por isso,

1- Mandem vir mais estrangeiros para ensinar os mocambicanos;

2- Que o dono "destranque" a sua mente, para que os seus possam caminhar mais alem.

Carlos Serra disse...

Maliano e não malawiano.

Anónimo disse...

...a maioria dos moçambicanos continuam no mesmo sítio de sempre,no limbo,á espera que o seu País aconteça realmente...enquanto uma minoria vai se safando como pode:uns magnificamente,outros razoavelmente,outros medianamente e outros desenrascando-se.
O País,esse não tem o sentido nacionalista do orgulho de ser moçambicano, do não admitir abusos,do rebelar-se pela sua dignidade,do exigir as condições básicas q que tem direito
...o povo vive asfixiado ,impotente, perante o desinteresse que o poder tem para com ele,pela falta de exemplos,pela falta de formação etc ...
vai-se vivendo uma existência encenada, ao sabor do vento que sopre no momento !!!!

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