Vamos lá a mais um pouco desta série.
A independência foi o produto da vitória na luta armada.
Durante alguns anos ainda, digamos que até à morte de Samora Machel em 1986, a memória da luta armada continuou viva: um exemplo está no uso de fardamento militar por parte de dirigentes civis.
Mas o fardamento era bem mais do que um utensílio militar. Na realidade, o fardamento militar era o símbolo de prontidão combativa e de vida regrada numa luta já prevista na luta armada: a da libertação social.
Sejam quais forem os critérios que usemos para qualificar o período 1975/1986, durante 11 anos foram feitas experiências no sentido de enxertar na luta de libertação nacional de 1962/1975 a luta de libertação social.
A independência foi o produto da vitória na luta armada.
Durante alguns anos ainda, digamos que até à morte de Samora Machel em 1986, a memória da luta armada continuou viva: um exemplo está no uso de fardamento militar por parte de dirigentes civis.
Mas o fardamento era bem mais do que um utensílio militar. Na realidade, o fardamento militar era o símbolo de prontidão combativa e de vida regrada numa luta já prevista na luta armada: a da libertação social.
Sejam quais forem os critérios que usemos para qualificar o período 1975/1986, durante 11 anos foram feitas experiências no sentido de enxertar na luta de libertação nacional de 1962/1975 a luta de libertação social.
Essa luta de libertação social produziu inimigos, inimigos que, uma vez mais, foram teorizados de múltiplas maneiras.
(continua)
5 comentários:
SOBRE A REFERÊNCIA, a:
“…uso de fardamento militar por parte de dirigentes civis”, e,
“...o fardamento militar era o símbolo de prontidão combativa e de vida regrada numa luta já prevista na luta armada: a da libertação social.”
Tenho uma visão diferente: no meu ponto de vista, o uso do fardamento militar era fundamentalmente, um SINAL de ligação ao poder, logo, um poder também. A coberto da farda podiam cometer-se, e cometeram-se muitas arbitrariedades.
Na FRENTE não havia patentes (divisas, galões, estrelas, etc. nos fardamentos dos seus membros).
Quando da criação das FPLM, DEMAGÓGICAMENTE, também não se introduziram patentes.
Havia hierarquias, mas não expressas em símbolos no fardamento.
O próprio Samora, como Comandante em Chefe, usava farda, sem patentes.
E faziam propaganda e gala dessa forma de estar, entre camadas: todos iguais (só que uns mais iguais que outros).
Passado algum tempo, concluiu-se o óbvio: nas forças armadas as hierarquias tinham de ser diferenciadas por patentes:
Surgiram então as vistosas patentes (apanágio de qualquer força militar), do Marechal Samora Machel, dos Generais, Majores-Generais, Tenentes-Generais, Coronéis, Majores, Capitães, etc., etc.
Foi a partir desse momento que os civis deixaram de usar a farda como SINAL de fazerem parte do poder: passaram a mostrar o poder fazendo-se acompanhar por ajudantes de campo, guarda-costas, etc, (um protocolo à altura de chefes).
Com este patenteamento SINALIZARAM-SE e ACOMODARAM-SE os que na FRENTE tinham estatuto de chefia (o tal Grupo Hegemónico e seus mais próxims colaboradores)para que pudessem continuar, ou passassem a usufruir regalias à altura da sua condição.
Patentearam-se os que integraram as forças activas e os que, vindos da FRENTE (de combate ou da rectaguarda) foram colocados noutras funções civis. Estes últimos (homens e mulheres) foram patenteados e passaram à reserva.
Alguns, mesmo na reserva, não resistiram à tentação de, muitas vezes, aparecerem fardados nas Instituições onde desempenhavam funções, para que não fosse posta em dúvida a sua ligação ao poder.
É pois provavel que, inicialmente, o uso da farda pretendesse ser "símbolo de prontidão combativa e de vida regrada”, mas rapidamente, se transformou em simbolo de ligação ao poder.
SOBRE A REFERÊNCIA: “Sejam quais forem os critérios que usemos para qualificar o período 1975/1986, durante 11 anos foram feitas experiências no sentido de enxertar na luta de libertação nacional de 1962/1975 a luta de libertação social.”
Concordo! As nacionalizações da saúde, educação, casas funerárias, profissões liberais, habitação, lojas rurais, economia em geral, são prova evidente da pretensão do Estado querer controlar tudo, com o pretexto (sonho lindo) duma melhor repartição dos recursos disponíveis.
Mas o enxerto não pegou, definhou rapidamente, e, em 1984, com Samora,(quando a economia bateu no fundo),já se negociava a adesão de Moçambique ao FMI e WB, logo, já se havia optado pela viragem para economia de mercado (pré-condição para o FMI e WB terem apoiado o PRE (Programa de Reabilitação Económica)em 1987.
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Obrigado pelas sugestões. Devo confessar que previ o período de transição 1984/86, mas acabei por o eliminar.
interessante seria saber como era feita essa teorizacao do "inimigo".
existiam criterios para "criacao" do "inimigo"?
ou seriam "inimigos" todos aqueles que ousassem demonstrar pensamento alternativo ao da FRELIMO?
Cumprimentos
Abdul Karim
Obrigado pelo comentário e pelas perguntas. Vamos a ver a continuidade da série.
Considero o período 1984/86 um importante marco na vida do país.
> Foi o RUIR de todo o sonho socialista! No 4º Congresso, o último de Samora, este esclareceu o Partido das mudanças em curso, com a inevitabilidade de negociações com o WB e FMI.
> Disse claramente que a abertura da economia ao mercado significava que o bem-estar, até então garantido pelo poder político, passaria a ser assegurado por quem tivesse poder económico.
> Por isso, os membros do Partido, que até aí não podiam ter actividade privada, foram autorizados e incentivados a envolver-se em negócios: a fazerem pela vida!
Foi o ponto de partida para a 2ª Republica: reprivatização do sector empresarial do Estado; venda das casas do APIE; resurgimento da actividade privada, na medicina; no ensino; na advocacia e outras profissões liberais; da liberdade de culto, etc., etc., - enfim, o enterrar do Estado Social!
Rapidamente os membros do Partido e Governo açambarcaram os melhores patrimónios em processo de alienação.
> Infelizmente, na maioria dos casos, os equipamentos foram vendidos para a sucata e as instalações fabris arrendadas para armazenamento de produtos, que passaram a ser importados.
> Situação que se mantém, com o envolvimento de destacadas figuras públicas: hoje, está na moda a especulação imobiliária,a coberto de mais ou menos sofisticados esquemas de cedência de patrimónios de empresas públicas e outras instituições controladas pelos poderes do Estado.
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