31 outubro 2008

Sociologia (2): a beleza feminina não existe em si (continua)

E lá estou eu a prosseguir esta série, sempre ao jeito das notas soltas, como se escrevesse num pequeno caderno de notas. A chamada sociologia habita os cadernos de notas, os olhos, os instantes, a fotografia dos sentidos sociais. Só depois surgem os produtores de manuais e criam uma coisa áulica, proteínada, chamada...sociologia. Etc.
Oiçam lá: a feminilidade existe? Claro, hora das perguntas: que é feminilidade? Quem a define? Para quem define quem a define? Tem gente que de tanto propôr perguntas desse tipo torna o social etéreo, evanescente, pura essência.
Mas vamos lá: aquela mulher é bonita, é feminina. Por quê? Aqui está uma pergunta tenebrosa. Por exemplo, há quem (masculinamente falando) considere feminina uma mulher generosamente forte, há quem considere feminina uma mulher magra, os conceitos de feminilidade variam consoante os grupos sociais (pecado, direis: e consoante as pessoas elas-mesmas? Bem, veremos). E depois há aquele vasto e extenso mundo urbano-feminino da socialização-purificação do corpo: arranjo de unhas, depilação, cabeleireiros, banhos especiais, etc. E depois há os conceitos de feminilidade em mundo rural. Que mundos do mundo!
Bem: independentemente do prisma pelo qual nós, homens, analisemos a feminilidade - a beleza da mulher social e grupalmente considerada - , o que está em causa são quatro coisas:
1. A feminilidade não existe em si.
2. Ela é socialmente construída.
3. Ela é masculinamente construída.
4. Ela é femininamente aceite porque masculinamente construída.
Pausa. 

Sociologia (1): o rés-do-chão do social

Sabem, não tenho jeito para a culinária de sociologia de manual. Querem que vos prove isso? Aí vai, em jeito de notas rápidas.
Acho que a coisa mais sociológica que podemos sugerir aos estudantes é, exactamente, a coisa menos sociológica: cabelos, pés, mãos, narizes, orelhas, etc. Há tempos iniciei com os meus estudantes não uma lição sobre o chatérrimo Parsons ou o elegante Bourdieu, mas uma lição-pesquisa colectiva sobre mechas, as mechas das mulheres.  Hipóteses lançadas: é possível fazer a história do país pelas mechas, a sociologia do país pelas mechas, a alegria e tristeza do país pelas mechas, a moda do país pelas mechas, os processos de cruzamento cultural pelas mechas. Resultado: as mechas são coisas pelas quais criamos uma ponte para a sociologia, para as mechas enquanto fenómeno social total. Foi pelas mechas, mas podia ter sido pelos pés ou pelos lábios. Tudo isso, lábios, pés, mãos, coisas do corpo, são unicamente pré-condições do social. As mulheres não existem enquanto tais, apenas existem enquanto construções sociais. Pelas mechas, por exemplo. Ou pelos sapatos. Ou, como quase sempre, pelas gramáticas masculinas, pelos prontuários androcêntricos. O pé só é sociológico se inscrito num sapato. E os sapatos variam, os sapatos dos presidentes dos conselhos de administração do país não são os sapatos e os chinelos do Xiquelene, os sapatos das deputadas não são os sapatos das mamanas do Xipamanine ou os chinelos das camponesas do Zóbuè. Os cabelos variam, cabelos-preços variam, mãos-manicure são uma coisa, as outras mãos são outra, tudo varia, tudo varia socialmente, estatutariamente, desigualmente. Temos de conhecer as regras, as chaves de acesso, os fios de Ariadne. Mas esperem, quem disse que os pés são meros apêndices carnais? Os pés também variam pelo tratamento que lhes damos, tratamento social, etc. Bem, pausa.

Espantar-me na rua (2) (continua)

E lá prossigo esta série.
1. Somos, em cada dia, o coágulo daquilo que em nós se tornou natural. Olhamos as coisas, sentimos as coisas, apalpamos a vida pelo prisma das coisas tornadas naturais, inquestionáveis. Não é tanto o natural que se torna social, quanto o social que se torna natural. O social naturalizado é o que, saído de nós, aceite por nós, colocamos nos museus, nos arquivos.
2. Aquela gente ali come docemente. O restaurante é belo, do género tosco prepositado, com lâmpadas discretas para simular uma atmosfera de um rural adaptado à cidade. Quem certamente não sabe disso são os pedintes, os vendedores de batiques e as crianças que desde manhã cedo petiscam o ar livre em suas roupas recolhidas nas latas de lixo, mundo que, de fora, retina tensa, mira os camarões e as galinhas que não comerá.
3. A Avenida Mao Tsé Tung já tem as primeiras mulheres da noite. Hoje, como se diz em Maputo, é sexta-feira dos homens.

A má consciência das estatísticas


Na verdade, os números sempre apagam a realidade viva de vidas com as da imagem.

Trabalhadoras do sexo denunciam existência de narcotráfico no corredor da Beira

Os cabelos brancos da corrupção


Imagem reproduzida daqui.

Novo questionário: prisão e escola


Há um novo questionário situado no lado direito deste diário. Obrigado por participar. Clique com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

Deviz Simango: fecho do questionário


Apenas 36 pessoas participaram no questionário em epígrafe, situado no lado direito deste diário. Amostra pequena. Todavia, claramente Deviz Simango aparece como competente (13 votos) e ganhador das eleições em Novembro na cidade da Beira (11 votos). Nenhum comentário desabonatório. O questionário permanecerá ainda alguns minutos, após o que será substituído por outro. Clique com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

Ensino superior em Moçambique (2)

O economista João Mosca prossegue o seu trabalho de análise ao ensino superior em Moçambique. A questão agora é analisar a qualidade. Afirma, em trabalho publicado no semanário "Savana" desta semana (p. 10): "A qualidade no ensino superior é um tema sem consenso. O que é qualidade no ensino superior? Os que criticam o conceito, argumentam que qualidade está no interior das pessoas e que essa, teoricamente, depende de um conjunto de factores, muitos dos quais não institucionais. Outros, argumentam que não se podem comparar coisas diferentes: escolas com séculos e universidade recém-criadas. Umas localizadas nos centros do conhecimento e outras nas periferias onde prevalece o analfabetismo e a iletracia em vários aspectos. Finalmente os que refutam as variáveis e parâmetros de análise que necessariamente beneficiam uns e prejudicam outros."

A crise que estamos a viver

O sociólogo e historiador norte-americano Immanuel Wallerstein, que durante anos colaborou com o Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, escreveu um trabalho com o título em epígrafe, reproduzido pelo "Savana" desta semana (p. 7). Eis o primeiro parágrafo: "Começou uma depressão. Os jornalistas ainda estão timidamente a perguntar aos economistas se podemos ou não estar a entrar numa mera recessão. Não acreditem nem por um minuto. Já estamos no início de uma completa depressão mundial, com desemprego extensivo em quase todo o lado."

A teimosia de Mugabe

Sobre o impasse na partilha de poder no Zimbabwe, Dumisani Muleya, editor do semanário zimbabweano “The Independent”, escreveu um trabalho, com o título em epígrafe, que o "Savana" desta semana reproduz (p. 4). Confira aqui.

A "hora do fecho" no "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, da qual vos dou, desde já, um aperitivo:

Este diário no UOL brasileiro

Eis: Thays Almendra, da equipa de interação do UOL (o maior portal do Brasil), entrevistou-me ontem a propósito da selecção do diário de um sociólogo pelo BOBS2008 como um dos 11 melhores weblogs em português. Pode acontecer que ele passe a figurar nos "Legais convidados do UOL". Prazer e honra para mim. E para o nosso Moçambique. Logo que possível, dar-vos-ei a conhecer a entrevista.

"Raptos" de crianças: "Notícias" toma posição firme

Nota: clique com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

30 outubro 2008

Espantar-me na rua (1)

A partir de hoje tereis aqui uma secção permanente com o título em epígrafe. Segui-me, voltarei um pouco aos tempos em que, jovem repórter, me espantava lá onde todos tinham esgotado o espanto.
1. Avenida Julius Nyerere, 21:10. Com um longo e alto muro em construção, o espaço da presidência da República na cidade de Maputo parece ainda maior. Um espaço enorme, vincadamente dominador, agora panóptico. E ao passar por ele hoje, longo, iluminado, brilhante, impositivo, lembrei-me de, em 1974, ter visto em Dar es Salaam, capital da Tanzania, a casa, a presidência do mwalimu Julius Nyerere: edifício pequeno, branco, sóbrio.
2. As crianças de rua nas avenidas Julius Nyerere e 24 de Julho. Patrão dá mil!
3. Um jovem dos seus 17/18 anos passa dias no cruzamento das avenidas Julius Nyerere e Eduardo Mondlane com uma criança às costas, amarrada numa capulana, pedindo esmola. Regra geral, junto dele está um outro jovem com a mão direita aleijada, pedindo esmola também.
4. Sinal vermelho na Mao Tse-Tung, viatura estacionada, uma jovem de minissaia, lábios de rouge em excesso, seios generosos. Boa noite meu. Vai? Serviço completo, tá ver ali?

Elísio cria agregador de notícias sobre Moçambique

O Elísio Leonardo criou e testa (repito: testa) um agregador online de notícias consultável aqui, do género deste, deste e deste. Pediu-me a minha opinião. Ei-la: ideia excelente, caminho técnico a prometer muito, layout sóbrio e atraente. Conclusão: avance sem parar. Parabéns.

Cartoon


O cartoon tem certamente em conta os incêndios registados no Ministério da Agricultura e num departamento do Ministério das Finanças. Clique com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

Ministério do Interior


Reparam que é apenas parte da peça do "Savana". Se e quando puder, aqui colocarei o texto na íntegra. Clique com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

Por que se vota em Obama?


O candidato presidencial norte-americano Barack Obama tem suscitado um espantoso leque de interpretações em todo o mundo. Se para uns ele representa mais um presidente - de oratória malandra - que vai estar ao serviço de uma América tradicionalmente belicosa e destruidora, para outros representa o sonho de uma América diferente, mais solidária. Mas mais: uma quantidade enorme de análises tem-se debrucado na raça de Obama, uns dizem que ele é negro, outros que é misto. Seja como for, Obama tornou-se já um mito, um poderoso mito deste século.
A minha pergunta é a seguinte: por que razão multidões seguem Obama, o louvam e o exigem? A minha resposta é a seguinte: porque Obama é a tradução de um programa social que faz fortemente sentido para os Americanos. É uma espécie de messias num mundo cansado de guerra, de futuro bloqueado, de individualismo, de frustração.
Nota: a foto foi-me enviada pelo Maximianio. Mas eu gostaria de conhecer a fonte original...

Obama obamaiza os Estados Unidos





O meu obrigado ao Maximianio pelo envio das fotos. Mas seria desejável que eu pudesse aqui indicar a fonte original...

Negócios em Moçambique


São 2334 artigos desde 1992 sobre o mundo de negócios em Moçambique. Espreite títulos e primeiras linhas aqui, no Africa Intelligence. Se quer ler em português, use o tradutor google situado no lado direito deste diário. Clique com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

As ironias do destino: afinal Comiche tem bases


Durante semanas, algumas pessoas surgiram em vária imprensa do país afirmando que, afinal, Eneas Comiche, edil de Maputo (na foto com os braços ligeiramente levantados), era um homem sem bases, que não tinha pensado nas bases péri-urbanas em seu projecto municipal, que, afinal, era um edil de urbanismo bourgeois. Uma fracassada candidata a edil pela Frelimo na cidade de Maputo sustentou que o problema de Comiche foi o de não ter pensado nessas bases, nos sofredores da periferia. Mas, agora, foi ontem inaugurada a Avª. Sebastião Marcos Mabote, ligando a Praça da Juventude e a via do Grande Maputo, nos arredores da cidade-capital. E, de acordo com o "Notícias", "Milhares de moradores juntaram-se espontaneamente à caravana, num sinal de festa pela abertura da rodovia, durante a marcha que desde ontem é possível em cerca de dez minutos, contra quase uma hora ou até mais em casos de congestionamento nas vias alternativas no período de obras."
Pois é, pois é. Imaginem se Comiche - o melhor edil que Maputo teve desde 1975 - tivesse tomado a decisão de se recandidatar como independente como fez Deviz Simango na Beira...Que base das bases seria para desgosto dos basistas! Oié, Dr. Comiche!

Que lógicas funcionam nas "cabeças" dos eleitores? (6) (continua)


Vamos lá prosseguir um pouco mais esta série.
Considerei os seguintes seis factores que estão em jogo quando votamos em Moçambique:
1. Avaliação do governo
2. Perfil do candidato
3. Exequibilidade do programa proposto
4. Potencial persuatório da engenharia política
5. Extras identitários
6. Forças de persuasão e/ou de compulsão
Falei-vos um pouco do primeiro factor no número anterior. Passo agora ao segundo.
As avaliações populares certamente variam em função de muitas variáveis. Mas, dado que a maioria do nosso povo é camponesa, creio, por hipótese, que qualquer candidato será avaliado menos por aquilo que nele é colectivo (partido, por exemplo) do que por aquilo que nele é pessoa, esta pessoa. Quanto menor for a escolaridade e quanto mais rural for a comunidade, maior será a tendência para avaliar esta pessoa e não aquele partido, aquele programa. Interessará menos o programa do partido, do que o programa desta pessoa (portanto, é pela pessoa que um partido apanha boleia). Nas cidades e em meios escolarizados, o programa do partido em si tem maior êxito, tanto maior quanto maior for a taxa de escolaridade.
Por hipótese, o candidato será avaliado pelo seu estatuto (tese forte: pessoa rica vence melhor que pessoa pobre), por aquilo que antes fez ou tentou fazer em prol dos outros (potencial de redistribuição), pela honestidade, pela clareza do que diz, pela exequibilidade do seu programa. Sobre si recairá o ónus dos êxitos e inêxitos dos antecessores. Mas não só. Em certos meios com uma memória viva ainda de um passado de luta, o potencial de força, de heroicidade em feitos de guerra, poderá ser um atributo importante. Pausa agora.

Manchete do "Savana"

O "Savana" desta semana apresenta um trabalho sobre a gestão financeira do Ministério do Interior e sobre a justificação de milhões de dólares no exercício de 2006. Título da peça: "Irregularidades financeiras no MINT". Voltarei ao tema logo que possível.

O que "é" o lobolo? (6) (continua)


Vamos lá prosseguir mais um pouco esta série.
Certamente devemos ver o lobolo como uma prática múltipla, atravessada por campos culturais que o tempo ao mesmo tempo estruturou, sedimentou e adaptou. O antropólgo Paulo Granjo tem, num belo livro da sua autoria, a seguinte definição: "Trata-se de uma cerimónia em que a linhagem de origem de uma mulher é cerimonial e economicamente compensada pela passagem dos direitos sobre os eventuais descendentes dessa mulher para a linhagem do marido, pelo que os filhos dela passarão a ter plenos direitos de pertença à linhagem paterna." (sugiro que leiam, dele, este excelente texto aqui)
Revendo os textos que aqui tenho colocado, imediatamente se verifica que a mulher é o eixo de todo um conjunto de práticas. Mas trata-se da mulher em si? Da mulher enquanto ser biológico natural e reprodutor?
Defendo que não. Deixem-me avançar com esta hipótese: não é a mulher enquanto tal, a mulher natural, que está em causa, mas a mulher social enquanto repositório de três potenciais:
1. Potencial de gestação
2. Potencial laboral
3. Potencial de reprodução do simbólico
Esse três potenciais aparecem dissolvidos em dois tipos de discursos:
1. O discurso integrador através dos espíritos dos antepassados
2. O discurso reprodutor através da estabilidade familiar

Eleições, legitimidade e engenharia eleitoral (4) (continua)

Escrevi há tempos uma coisa natural, a saber: seja qual for o tipo das eleições 2008/2009, Frelimo e Renamo vão organizar a engenharia eleitoral em função do quadro posicional apresentado aqui.
Agora, vamos como as coisas vão passar-se na campanha da Renamo:
1. As coisas que a Frelimo construiu não funcionam como deve ser. São maus os serviços prestados pelas escolas, pelas universidades, pelos hospitais, etc. Até o Ali disse que a qualidade do ensino é má. Os serviços de saúde funcionam bem apenas quando o Garrido aparece de surpresa.
2. Cabora-Bassa é nossa? Mas de que serve distribuir energia se falta comida e os salários são baixos e há desemprego por todo o lado? Ademais, quem está a dirigir a barragem são comunistas da Frelimo, eles querem tudo para eles e mandam energia apenas para os sítios onde há camaradas. Não é assim que fazem quando há cheias?
3. Sim, temos o fundo dos sete milhões de meticais que o Guebuza sempre diz que servem para produzir comida e arranjar emprego. Mas esse dinheiro vai apenas para os camaradas e seus protegidos, o povo continua na desgraça.
4. Falamos muito em biocombustíveis e revolução verde. Mas tudo vai servir apenas para alimentar as empresas estrangeiras, dar dividendos aos comunistas e matar o povo à fome.
Temos de ver bem as coisas, meus irmãos: a Frelimo anda aí a dizer que os preços estão altos por causa do mercado internacional. Nada disso: é por causa da má gestão do Estado, a preocupação da Frelimo é, apenas, a de favorecer os camaradas com suas políticas comunistas. Vejam lá quantos corruptos há. São tantos que, finalmente, graças às denúncias da Renamo, os marxistas decidiram prender alguns.
Finalmente:
1. Essa gente da Frelimo continua a dizer que destruímos o país. Mas quem destruiu o país foram eles, os comunistas marxistas, com as nacionalizações, os campos de reeducação, as chicotadas, os fuzilamentos, os ataques aos chefes tradicionais e a Deus e por aí fora.
2. Nós, da Renamo, viemos acabar com isso, trouxemos a democracia. Vocês poderiam estar aqui hoje se não fosse a nossa luta de libertação democrática? Haveria eleições multipartidárias?
3. E aqui para os irmãos da Beira: esse Deviz Simango afinal é da Frelimo, também é comunista, andava disfarçado a roubar como todos os camaradas dele. Por isso ele não deve governar. O Manuel vai limpar tudo e salvar a democracia.

Sobre a detenção de Obadias Simango

Está detido Obadias Simango, vereador da área de Comércio, Indústria e Turismo de Deviz Simango, edital da Beira. O jornalista Fernando Veloso tem um longo texto no qual procura mostrar as razões por que o vereador foi detido, consultável na página 4 do semanário "Zambeze" desta semana ou aqui, no "Canal de Moçambique".

Crise capitalista mundial: empresários de Moçambique querem garantias do BM

Entretanto, permitam-me sugerir-vos que passem os olhos por este blogue, que arrola diversos textos sobre a crise.

Situação agrava-se no Congo

Milhares de deslocados no Congo, forças governamentais em fuga ante o avanço dos guerrilheiros de Nkunda, o presidente Kabila apelou, uma vez mais, à intervenção de Angola. Confira aqui no "Notícias" de hoje.

29 outubro 2008

Solta-te

Em epígrafe, o título do blogue do Shirangano, 23 anos, ama a mulher, tem um filho, estuda jornalismo. Ontem escreveu sobre a revolução verde. E, no fim da postagem, escreveu esta frase: "Vamos combater a ignorância absoluta dos nossos dirigentes...!". Confiram aqui.

Frelamo

O que se passa na Beira - sismo político - tem várias veredas. Mas creio que a mais importante dessas veredas é a que o "Magazine Independente" chamou "coligação Frelimo/Renamo": dois inimigos políticos em luta contra um mesmo homem, Deviz Simango. E é neste contexto que vejo generalizar-se o acrónimo Frelamo, cunhado a partir do Frel da Frelimo e o amo da Renamo. Mas também já li de outra maneira: Frenamo.

Deviz Simango: homem a abater

Segundo o semanário "Magazine Independente" desta semana, Frelimo e Renamo estão intimamente coligados na luta contra Deviz Simango (na imagem), edil da cidade da Beira. Para Manuel Pereira e Fernando Mbararano, ambos da Renamo, com a prisão de Obedias Simango, vereador do município, chega ao fim o reino das quizumbas (sic). O candidato da Renamo, Manuel Pereira, intitulou Simango de "perigoso cadastrado". Entretanto, na tentativa de barrar a campanha de Deviz, a Renamo interpôs novo recurso no Ministério da Administração Estatal, sexta-feira passada, enquanto fontes do semanário adiantaram que a procuradoria provincial da República poderá ouvir nos próximos dias outras pessoas próximas de Deviz, acusadas do desvio de cinco milhões de meticais do cofres do Estado para a sua campanha pré-eleitoral e de venda de terrenos, não sendo fechada a hipótese de o próprio edil ser ouvido (p. 2).
1.ª adenda às 16:55: não tenho memória, no nosso país, de uma caça política ao homem tão tenaz e impiedosa quanto a que está a ser levada a cabo pelo que o semanário chama, em trabalho de Isaías Natal, "coligação Frelimo/Renamo".
2.ª adenda às 19:04: curiosa a generalização do acrónimo Frelamo, para definir a citada "coligação".

MA: polícia suspeita de fogo posto - segundo "Magazine Independente"

Em trabalho de Lourenço Jossias, o semanário "Magazine Independente" desta semana afirma que a polícia suspeita de fogo posto no incêndio do Ministério da Agricultura ocorrido dia 17, cidade de Maputo. Foram encontrados três pneus no quarto andar e dois no terceiro, além de uma garrafa plástica com um líquido muito inflamável". O fogo começou no quarto andar (p. 4).
Nota : recordem aqui, na postagem com o título Que xicuembo habita o Ministério da Agricultura?, a minha interrogação sobre por que razão, no espaço de ano e meio, dois sectores chave daquele ministério foram afectados pelos incêndios, designadamente Economia e Inspecção Geral.

Melita


A moçambicana Melita tem cinco blogues e está em Oslo.

BOBs2008: apenas três blogues africanos seleccionados na África subsariana

Apenas três blogues da África subsariana foram seleccionados pelo júri no BOBs2008: este diário, o angolano do Pululu (para Prémio Repórteres sem Fronteiras) e o blogue do costa-marfinense Yoro (escrevendo em francês, mas com traduções para inglês e alemão, concorrendo para o Prémio Melhor Weblog em Francês, prémio ganho o ano passado pelo congolês Cédric Kalonji, frequentemente referido neste diário) - bonne chance, boa sorte para ambos! Não tenho conhecimento de árabe para saber se foram seleccionados blogues africanos para o Prémio Melhor Weblog em Árabe).
Adenda: concorreram mais de 8500 blogues, videoblogs and podcasts. Foram apurados 176 finalistas em 16 categorias.

BOBs2009: convite aos bloguistas (5) (continua)

ItálicoVamos lá, então, prosseguir um pouco mais esta série, com o objectivo de incentivar os bloguistas a participar no BOBs2009. Para lá chegar, preciso de radiografar algumas das características dos blogues existentes no mercado virtual da terra.
Como já vos disse, um dos extremos não do espectro solar, mas do espectro blogar da nossa terra, é o blogue do sabichão emproado em seu papel de deus omnisciente (regressarei aos sabichões no próximo número; mas acrescento desde já que, felizmente, são muito poucos, ainda que persistentes, os blogues da sabichonice). O outro é o blogue gustativo-confessional, cheio de tristeza, de inquietação, em alguns casos; cheio de gostos múltiplos em outros (do tipo gosto de sorvete de baunilha), de confessionalismo veemente e dorido (do tipo sofro ou o dia é angustiante), de nervuras egocêntricas muito fortes (do tipo para mim isso é assim ou sou eu que tenho razão), com alguns sólidos representantes no espectro blogar.
Das cores encaixadas entre os dois extremos, temos, por exemplo, o blogue copia e cola. O que faz o autor desse tipo de blogue? Copia coisas e enxerta-as no blogue, transforma o blogue num eco de jornais ao qual tenta emprestar o ar de coisa original. Com alguma frequência, é um plagiador nato, silencia deliberadamente as fontes do que copiou. Por vezes usa um layout disfarçador.
Temos, ainda, a cor do erotismo. Pausa agora.

Que lógicas funcionam nas "cabeças" dos eleitores? (5) (continua)


"(...) o tempo q lhe concedem, q não he mais senão emq.to tem que gastar (...)"
Escrevendo para o rei português em 1648, o então capitão de Sena, Francisco Figueira de Almeida, afirmou que no antigo Império de Muenemutapua (ou Mwenemutapwa ou Munhumutapwa, como queiram, escolhei a grafia), as povoações (muzindas) tinham chefes chamados fumos ou encosses, todos dependentes de um mambo. Os fumos eram eleitos entre os que mais posses tinham localmente. O seu reinado durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Eram obrigados a tudo gastar: comida, pombe, jóias, tecidos, etc. Quando nada mais lhes restasse, eram destituídos e passavam a pertencer ao grupo dos grandes por mérito, com direito ao uso de um chapéu de palha e de um bordão.
Ora, naturalmente, as coisas são hoje diferentes. Os nossos mafumo são personagens diferentes e o uso triste que, aqui e acolá, é feito dos sete milhões, comprova isso.
Disse-vos, em número anterior, que a avaliação do governo era o primeiro dos seis factores que estão em jogo quando votamos. Mas o que é governo? Aqui está uma pergunta cuja resposta provavelmente nada tem a ver com a imagem ao mesmo tempo múltipla e unificada que formamos e difundimos no conforto urbano dos nosssos gabinetes e dos nossos artigos de jornal. Governo é uma coisa cujo significado pode variar localmente, regionalmente, péri-urbanamente, urbanamente, ruralmente.
Mas, independentemente dessas variações, a primeira coisa que as pessoas fazem é avaliar aquilo que cada estrutura, cada chefe, cada Nação local, faz por eles, não quando o chefe do Estado as visita e o fulgor ruidoso das coisas toma conta das vidas, mas naqueles dias rotineiros sem Guebuza. Os cidadãos não estão interessados em saber que, estatisticamente, verbalmente, em discursos inflamados, a vida melhorou, que a Nação vive agora melhor. Ou que os preços estão mais altos porque o mercado internacional é perverso e os gestores dos combustíveis são instáveis. Nestas circunstâncias os olhos da vida são mais importantes do que os ouvidos dos comícios.
O que as pessoas querem saber, diariamente, é o que aquele chefe – governo é isso, aquele chefe, quanto mais pequena e distante do mundo do néon for a localidade – fez por elas. O que fez por elas e não por eles. Se foi capaz de ser, um pouco que seja ou fosse, o fumo de que vos falei. Se foi capaz de dar aos sete milhões – por exemplo - um destino diferente daquele que, triste muitas vezes, encaixado em redes patrimoniais e clientelistas, a nossa imprensa tem reportado.

Paunde

Os manifestos eleitorais pulsam cada vez mais fortes. Assim, "De acordo com Filipe Paunde, nos municípios dirigidos pela oposição, nenhuma promessa feita durante as eleições de 2003 foi cumprida. Por isso, vai pagar caro nas próximas eleições." - anuncia o "Notícias" de hoje. Ao contrário, nos municípios dirigidos pela Frelimo o desenvolvimento é visível, sustentou Paunde. Por exemplo, a nudez passou para a história e as pessoas andam de sapatos ou de chinelos, mesmo no campo. Leia aqui, na íntegra, o optimismo de Paúnde, que afirma que na Beira a única coisa de jeito feita pela oposição foi "a recolha, uma recolha muito deficiente, do lixo".

28 outubro 2008

Zenaida, você deszenaidizou?

Um dos mais belos e raros blogues do nosso espectro blogar pela sua ironia cura-gastrites (a ironia é um género muito raramente cultivado entre nós), é o da Zenaida. Ora, coisa de magoar, a Zenaida não posta desde 28 de Agosto. Deszenaidizou, Zenaida?

BOBs2009: convite aos bloguistas (4) (continua)

Vamos prosseguir a série.
Sabem que raramente falo de mim. Permitam-me hoje isso, mimar, está bem? E faço-o para chegar onde quero chegar: ao convite do título em epígrafe e às características dos nossos blogues.
Dizia-vos eu, no número anterior, que este diário era, nos seus primórdios, uma chatice altaneira, um infermo de eruditismo petulante. Eu estava gloriosamente convencido de que a sociologia era uma bíblia, um livro sagrado que, como uma espada justiceira, me permitia desferir golpes purificadores nos senso-comunistas, de todos aqueles (muitos) que é suposto não saberem pensar, que é suposto andarem na cave do cérebro com as suas infantilices populares, com a sua sub-neuronialidade estrutural.
Pouco a pouco tentei curar-me dessa síndroma de imuno-deficiência doutoral. Mas não só disso, de outras coisas também. Esssas outras coisas, das quais darei conta no número seguinte, vão permitir-me entrar nas tais cores (algumas apenas) do espectro blogar da terra.

BOBs2009: convite aos bloguistas (3) (continua)

Não no espectro solar, mas no espectro blogar da nossa terra, talvez possamos considerar várias cores encaixadas entre dois extremos: o blogue do sabichão, do auto-proclamado sábio que passa a vida a caçar os senso-comunistas (deixem-me lá usar este novo neologismo para falar do senso-comum, com travessão) e o blogue gustativo-confessional do género "gosto muito de comer sorvete" ou "a vida pesa-me imenso na alma".
Antes de prosseguir, devo abrir um parêntesis para falar da chateza que era o meu blogue nos seus primórdios: petulante, oracular, vaidoso, academicista, cheio de auto-divindade mandarinesca para impressionar a paróquia senso-comunal. Permitam-me uma pausa.

Fábio em sua escrita maputizadora


O Fábio Zanine, jornalista brasileiro, lá vai escrevendo sobre Maputo no seu blogue, regularmente citado neste diário. Comunistas ontem, capitalistas hoje, numa dialéctica parfaite: eis o tema. Leiam aqui.

BOBs2009: convite aos bloguistas (2) (continua)

O que é um blogue? A internet está cheia de respostas. Para mim, um blogue é a conjunção de três grandes afirmações:
1. Afirmação identitária (sou eu, distingo-me, não sou como os outros)
2. Afirmação libertária (na net sou imediatamente livre, anónimo ou não, posso dizer e fazer o que na vida real nem sempre posso ou consigo)
3. Afirmação temática (o meu tema é este ou os meus temas são estes, é dessa maneira que me afirmo)
Naturalmente que cada um de nós tem uma maneira - ou tem várias - para dar corpo a essas três afirmações.

BOBs2009: convite aos bloguistas (1)

Como sabem os leitores, este diário foi pelo segundo ano consecutivo seleccionado com um dos melhores blogues em português pelo BOBs. Ora, tal como o ano passado fiz, renovo aqui o meu convite aos bloguistas que são de Moçambique ou que têem o nosso país como sua matriz temática, para se candidatarem ao BOBs (=best of blogs), ao BOBs2009. Este ano e também pela segunda vez, concorreu o Ouri Pacamutondo, do belo Mãos de Moçambique. Mas não me ficarei pelo simples convite, pois escreverei um pouco sobre os nossos blogues. Aguardem.

Lenna

Escreve prosa e poesia em português e em inglês, ostenta, no lado direito do blogue, uma foto do farol do Estoril, praia do Macúti, cidade da Beira. Confiram aqui.

O oráculo de Delfos e a mina Monarch

A história precisa ser absolutamente revista. Já se escreveram muitas páginas sobre o que o oráculo de Delfos, lá por terras da Grécia, predisse, muito antes do nascimento de Cristo. Dizem os historiadores que ele predisse, por exemplo, que Édipo mataria o pai Laio e casaria com a mãe. O que os historiadores nunca disseram é que certamente o oráculo predisse que um dia não eram necessários estudos geológicos (por exemplo, para apurar a capacidade) na mina Monarch, localizada na região de Penhalonga, província de Manica, para que a Delta Trading já saiba, pelo voz do seu director Moraes Lasse, citado pelo "Notícias" de hoje, que "estamos a falar de bons milhões de onças que podemos extrair".