Não no espectro solar, mas no espectro blogar da nossa terra, talvez possamos considerar várias cores encaixadas entre dois extremos: o blogue do sabichão, do auto-proclamado sábio que passa a vida a caçar os senso-comunistas (deixem-me lá usar este novo neologismo para falar do senso-comum, com travessão) e o blogue gustativo-confessional do género "gosto muito de comer sorvete" ou "a vida pesa-me imenso na alma".
Antes de prosseguir, devo abrir um parêntesis para falar da chateza que era o meu blogue nos seus primórdios: petulante, oracular, vaidoso, academicista, cheio de auto-divindade mandarinesca para impressionar a paróquia senso-comunal. Permitam-me uma pausa.
2 comentários:
Não sou uma dessas taradas da escrita que pensam que colocar sujeito-verbo-complemento e sem erros é o suficiente para torná-los intelectuais e aptos a pegar na caneta e planta-la no mais íntimo dos editores (web e outros) a tornar-se um editor amanhã. Que me importam os louros e favores se no mais profundo, eu sei que minhas palavras são inúteis e ineteligentes, mas que fazem sentido. A partir deste nível de precisão só tiro um prazer: o de ser compreendida. E, no entanto, quando digo precisão, só o penso furtivamente porque quando eu irei reler amanhã o que escrevi, eu não irei compreender nada. Este repertório de ideias assaltam-me, por isso fiz um blog, com razão ou sem ela, pouco me importa. Eu escrevo, é o principal. Gosto de mim mas não o suficiente para admirar-me. Eu odeio-me, mas não o suficiente para calar-me. Época mítica da livre expressão, se for, eu escrevo estas observações com complacência, pensando ser lida e admirada pelo meu estilo que afinal não é um. Leio muito, penso muito, sofro muito. Mas eu não escrevo o suficiente. Se eu escrevesse mais, eu compreenderia o mistério da Bíblia, da Vida, da criação do Big Bang, como a maioria de vocês. Será esta a loucura que anima-me? Talvez. Mas, doce e amarga de uma só vez, um não subtil sentido que me conforta e reforça a ideia da escrita automática. É bonita a escrita automática, e tão pratica. Despertar no meio da noite por um servo (Balzac ou Zola ou outro não sei ...) e escrever no papel as primeiras palavras que vêm à mente. Eu não dormia, quando escrevia estas linhas. Estava simplesmente embriagada. Lisa
Lisa: belo texto. Belo mesmo.
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