E termino esta breve série.
Havia duas questões: a primeira, sobre o facto de ter sido Deviz Simango, edil da Beira, a inaugurar a Praça André Matsangaíssa no populoso bairro da Munhava, periferia da cidade; a segunda, sobre o significado de a praça ostentar o nome de alguém que não pertence à produção oficial de heróis no país. Sobre a primeira questão já escrevi. Vou à segunda, agora.
Em declarações prestadas à Agência Lusa, o porta-voz da Frelimo em Sofala, Zandamela Juga, considerou a edificação da estátua "um acto ilegal" e ferido de "incompetência". Por quê? Porque, segundo ele, a autorização para a construção da estátua devia emanar do Ministério de Administração Estatal e não a Assembleia Municipal da Beira.
Do ponto de vista do centro hegemónico de produção de heróis em Moçambique, Juga tem completa razão. Mas o problema principal até nem está aí. Na realidade, o problema principal está em que a estátua inaugura menos uma homenagem física a Matsangaíssa, do que um segundo centro produtor de heróis pela primeira vez na história do país.
Um segundo centro produtor de heróis em Moçambique que se reclama da legitimidade é, naturalmente, um motivo de intensa discórdia. Por quê? Primeiro porque confere nobreza, heroicidade e mérito a alguém não reconhecido pelo primeiro centro; segundo, porque nasceu de uma decisão municipal, de uma decisão descentralizada.
Dupla heresia, portanto.
Dupla? Tripla! Mas por quê tripla? Porque quem inaugurou a estátua não foi Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, mas Deviz Simango, Deviz que a Renamo amputou da sua candidatura ao município da Beira e a quem proibiu de fazer uso dos símbolos do partido.
Mas vamos lá ao cabo das contas, como amava dizer o falecido Aquino de Bragança, através do nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Balói, com uma teoria prigogineana, a da bifurcação: "(...) é natural que onde uma ou outra força política exerça o poder tome medidas que afirme a sua posição os seus princípios. É assim, apenas assim, que pode ser vista a inauguração da estátua."
Adenda: a Vavá do nyikiwa fez-se a seguinte pergunta: o que temem aqueles que atacam Deviz Simango? Resposta: "As entidades e pessoas que tentam silenciar Daviz, acabaram fazendo-o um favor: divulgaram as suas habilidades e a sua coragem ao mundo. Na minha opinião, as entidades e as pessoas que temem o avanço de Daviz como independente receiam que ele abra caminhos para outros Davizs escondidos ou adormecidos."
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