Tenho o péssimo hábito de me espantar com certas coisas.
Por exemplo, espantei-me quando hoje li no "Notícias" estar constituído o "júri da sociedade civil" que vai "seleccionar os oito membros da sociedade civil para a Comissão Nacional de Eleições", ainda que, segundo o mesmo jornal, falte conhecer duas mulheres a indicar pelo Fórum Mulher até sexta-feira.
Segundo o matutino, o tempo não tem sido suficiente para que "a sociedade se organize melhor neste processo", processo que deverá dar origem à indicação de oito pessoas da "sociedade civil" para comporem a CNE.
De que sociedade civil falamos? Foi algum dia lançado algum inquérito público à "sociedade civil"? Quem mandatou as organizações citadas pelo "Notícias" para falarem em nome da "sociedade civil" e elegerem o júri? Quem mandatou o Observatório Eleitoral para aparecer, de repente, com tão grande visibilidade condutora? De que legitimidade usufruem?
É por formas como essa (s) que podemos correr o risco de, logo à partida, introduzirmos dúvidas sobre a idoneidade dos processos eleitorais.
4 comentários:
Boas questões. Mais uma: Falar de sociedade civil significa falar de todo o povo moçambicano? Eu também estou representado nela? O Fórum Mulher representa todas as mulheres; desde camponesas, trabalhadoras de casas particulares, empresárias, académicas, etc?
O Observatório Eleitoral, eu sei, foi fundado e patrocinado pela Cooperação Sueca. Anne Gloor, da SDC, foi a mulher quem dirigiu o processo. Em 2002, eu também fiz parte deste processo quando ainda pensava que se tratava de um processo democrático. Quase todas as organizações estavam presentes: camponeses, sindicatos, pessoas singulares, partidos políticos-incluindo a renamo, associações estudantis, religiosos,..
A medida que nos aproximávamos as eleições, começou a se peneirar. Já os estudantes, camponeses, mukheristas, etc não figuravam da lista dos membros componentes. estes, já não recebiam os convites. Os "confusos" já não apareciam, dentre os quais, partidos políticos-todos foram banidos.
Ficou um grupelho de 6-8 organizações, nomeadamente: CEDE de Brazao Mazula, Conselho Islâmico de Sheik Carimo Abdul Sau, AMODE de Otília Aquino, EISA de Miguel de Brito; mais uma "personalidades". Isso e o que compõe o tal Observatório Eleitoral. COm muito dinheiro por distribuir para sancionar seja o que for.
Errata:
Onde se lê: cooperação Sueca, deve se ler: Cooperação Suíça, quero rectificar.
Sabe, Egídio, até nem quero falar de outras coisas, como propostas que foram feitas e não constam do documento que foi posto a circular...
Tudo indica que temos um caminho longo para a democracia. É que ninguém deve ser professor da democracia quando ele não é democrata. Viu-se a oportunidade, os mais espertos correram para lá.
Tudo isto é batota. Um grupo de espertos em Maputo que nem sequer se preocupa em consultar as bases, as províncias, distritos. Quem disse que eles são melhores que os que vivem nas províncias?
E não tomam a sério o que devia ser sério. A responsabalidade nas eleicões vindouras é pelos vistos muito grande. Seriam estas pessoas que tomariam a cautela, procurando representar à sociedade civil e sobretudo um reconhecimento pelos competidores. Eles sabem, de certo, do descredito da dita sociedade civil tanto ao nível interno como internacionalmente.
Enquanto a democracia não for inclusa nos livros escolares, no currículo escolar continuaremos a assistir democratas que não crêem em democracia.
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