Nenhum ovo dá origem a um pinto se um calor local não lhe der um empurrão (palavras minhas para uma ideia de Mao Tse Tung).
Foi formada uma comissão de inquérito para, em duas semanas, averiguar as causas das explosões do paiol de Malhazine.
Três juristas, incluindo o presidente do Tribunal Administrativo. Não faço a mínima ideia de quais foram os critérios usados para seleccionar três juristas, mas algo de muito forte me diz que foi uma má escolha. Bastava um jurista. Para quê três? Não seria bem mais sensato seleccionar uma equipa multisectorial?
Entretanto, estamos confrontados com um relatório muito técnico, muito preciso, muito rigoroso, escrito por Adrian Wilkinson da SEESAC (South Eastern and Eastern Europe Clearinghousing For the Control of Small Arms and Light Weapons).
Os membros da comissão de inquérito terão, em curto espaço de tempo, de revelar a mesma capacidade para obter um relatório do mesmo nível do que aquele que foi executado por Wilkinson, confirmando ou informando o que ele escreveu.
Mas estarão ainda confrontados com uma questão bem mais complexa do que aquela que Wilkinson teve de resolver, a saber: averiguar a responsabilidade de quem, eventualmente, permitiu ou tem permitido que o paiol seja um constante perigo para as pessoas e para o meio ambiente.
O pinto que provocou a tragédia (explosões) saiu de um ovo (paiol) depois que sobre o ovo agiu uma dada causa ou um conjunto de causas (o "calor" surgido no vocabulário de muitos de nós).
Mas o problema central não é esse.
O problema central é saber quem, eventualmente, foi e é responsável pelo "calor" gerado de forma sistemática, tendo em conta que já em Janeiro houve explosões no paiol de Malhazine. Melhor: quem é o "calor" que gera "calor".
O sempre jovem Marx diria que é necessário verificar se a impossibilidade de solução do problema não está contida nas premissas da questão tal como esta foi formulada. Frequentemente, diria ele se hoje viesse a este país, a única possível resposta consiste em criticar e eliminar a questão tal como foi colocada.
Por outras palavras, a questão central reside em saber usar outras premissas para se obter uma solução correcta.
Não é a decomposição autocatalítica ou não é a ignição do fósforo branco (por exemplo e por possibilidade) que constitui a questão central. Não é esse o "calor" principal. Nem deve constituir questão central estar sempre a estudar as causas técnicas dos problemas do paiol de Malhazine. A questão central reside na gestão humana das condições que podem ou não dar origem aos fenómenos citados, gestão que, se inadequada, pode gerar uma tragédia.
E houve, de facto, uma imensa tragédia.
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