20 março 2007

Violência no Zimbábuè


"Nelson Chamisa, porta-voz do Movimento para a Mudança Democrática, MDC, foi agredido até ficar inconsciente no aeroporto de Harare, quando tentava embarcar num avião para Bruxelas."
Na foto, no hospital depois de agredido pela polícia, o líder da oposição, Morgan Tsvangirai.

17 comentários:

Egidio Vaz disse...

É simplesmente triste para um país que um dia prosperou, tendo produzido para a região, quantidades suficientes de alimentos, principalmente cereais, tabaco e outros produtos manufacturados como chocolate, queijo, etc. Aliás, o meu primeiro chocolate da vida, pelo menos consciente, foi o zimbabweano.Lá vão os tempos, e com muita saudade, em que ir ao Zimbabwe (para os que viviam na Beira ou Tete e Quelimane) era um luxo de fazer inveja aos vizinhos. Saudades também sinto quando recordo as meninas de Munhava e mesmo da Baixa da Beira disputando um COMRADE, soldado zimbabweano que, com as sua ração de combate nada mais era que um DEUS numa família que carecia de tudo, muito mais comida!
Com Mugabe vieram, com Mugabe desapareceram. Que pena.

GM disse...

Alguém se lembra das causas da crise e da irritação do ocidente? "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém chama violentas às margens que o oprimem" Palavras de um grande escritor alemão, citadas de memória.

Só para refrescar a memória: Quase todas as terras férteis do Zimbabwe estavam nas mãos de uma minoria racial. Mugabe tentou emendar uma inquidade histórica. Provocou irritação do ocidente. Foi bloqueado de uma maneira que nem Iam Smith foi. Lembre-se que o Ocidente não aplicou nenhuma sanção contra o regime minoritário branco. No entanto, as sanções contra Mugabe são efectivas. Não há alimentos no Zimbabwe, não há fertilizantes, não há insumos.

Numa situação daquelas (de crise generalizada) qualquer governo responsável suspende as liberdades democráticas... ou devolve a terra à minoria branca.

Um abraço

Egidio Vaz disse...

Insurjo-me fortemente contra você, Grabriel Muthisse.
Está a fazer uma análise criminosamente (ao seu intelecto, claro) simplista. Esta e a historia romântica de Robert Mugabe ante aos seus apoiantes, que já começam a rarear.
Alias a restrição das liberdades individuais a crise e esta á má implementação do acordo de lencaster, isso?
Não vejo nenhuma relação, senão mesmo, conspiratória, e aqui, estará inevitavelmente a conspirar contra os zimbabweanos. Vamos ao debate.

Carlos Serra disse...

Coloquei nova entrada sobre o Zimbábuè.

Anónimo disse...

De acordo, Egídio. É o pior que um intelectual faz sustentar atitudes criminosas do velho Mugabe levando o ocidente a lugar estranho. GM, Sabe de quantos e quais países ocidentais apoiaram a luta do Zimbabwe? Sabe do que Mugabe fez com as terras? Sabe de que os espancamentos selvagens não têm absolutamente nada a ver com terras? Então fico eu a pensar: na África temos santos se não fosse o ocidente.

GM disse...

Retiro o que disse. Nunca houve problema de terra no Zimbabwe. Foi tudo invenção do tirano Mugabe. Não há bloqueio económico contra aquele país. Todas as terras que Mugabe retirou aos seus legítimos proprietários as destribuiu pelos seus familiares. Assim está mais certo Egídio? Ou ainda cheira a apoio ao velho Presidente? Se tu quiseres posso radicalizar ainda mais minha condenação.

Um abraço não criminoso. Gabriel Muthisse

P.S. Há uma tendência neste blog para, sempre que alguém coloca um ponto de vista contrário, se lhe apresentar como adepto de teorias de conspiração. Mesmo que se coloquem factos que mereçam ser discutidos.Se os factos que coloco são criminosamente simplistas, onde estão os factos mais objectivos. Tudo se resume a que Mugabe gosta do poder, é ditador e não suporta a oposição? Se eu dissesse isto deixaria de ser criminosamente simplista? O que é que se deve fazer para que o Zimbabwe deixe de ser o barril de pólvora que é? Será que é só substituir Robert por Morgan?

GM disse...

O Egídio diz que são cada vez menos os que simpatizam com o velho presidente. Como o sabe? Sabe, por acaso, que na África do Sul e na Namíbia existem forças poderosas que reclamam medidas similares às de Mugabe? Sabe por acaso que o ANC deve gerir a crise no Zimbabwe a pensar na sua própria panela de pressão. E que, por exemplo, a opinião da África do Sul não se resume a Desmond Tutu e outras figuras proeminentes daquele país? Já ouviu falar nas bases do ANC e na pressão que exercem sobre os pronunciamentos públicos da liderança do Partido sobre esta crise?

As coisas são muito mais complicadas, Egídio, do que o mau feitio de Mugabe.

Abraços. Gabriel Muthisse

Egidio Vaz disse...

Caro Gabriel,
Abraços antes de falar. Receba. Já recebeu. Então, vammos falar.
O seu simplismo não se resume no facto de atribuir à actual crise política, o remoto dossier que vem desde o Acordo de Lencaster House. O simplismo vai para além disso. Emola as atrocidade cometidas por Robert Mugabe e seus cães, aos puros cidadãos que desejam manifestar.
Uma simples cronologia pode ajudar-me a mapear o "mato" por onde caminha:
- Quando em 2000 Mugabe quis, aliás iniciou a tal "Reforma Agrária", já era tarde. A economia zimbabweana estava a derrapar em resultado das más políticas económicas por este seguidas. Concomitante, a sua popularidade e a da Zanu estava a baixar significativamente. Dentro das Forças Armadas bem como dos Veteranos da Luta Armada, havia um grande descontentamento em relação àquilo que se chamava "privilegiação dos direitos económicos". Para estes veteranos, a questão não era da partilha dos despojos da luta de libertação nacional, nomeadamente a terra, mas sim do direito igual no acesso ás facilidade económicas como o crédito e outras beneses.
- Em 2000 Mugabe já ia no seu vigésimo mandato e já dava sinais de "exaustão" governativa.
Posso não ter sido escalrecedor. O Culpado será este espaço de comentários. Passo a fase seguinte.
- Chengerai Hunzwi, o rosto da operação de partilha de terras no Zimbabwe, morreu dois anos depois, em 2002. A "Reforma Agrária" que Mugabe desejou, não chegou de ser realizada.
O que sucedeu foi a simples pilhagem das terras de brancos zimbabweanos; farmas que na altura, produziam para o engrandecimento da economia do país.
Sim, havia porções de terras por partilhar, principalmente, nas regiões rurais. Milhares de hectares de terra arável e não exploradas podiam muito bem serem partilhadas dentre aqueles negros que queriam trabalhá-la.
O que acontetceu porém foi que um grupo de veteranos de luta pela libertação do Zimbabwe, aproveitando da deixa de Mugabe (tentativa desesperada de reganhar a popularidade) marcharam em direcção ás farmas já produtivas, despojaram os proprietários; sendo alguns deles mortos e, no fim, SUBIRAM os "tractores". Já empoleirados, perceberam que não sabiam conduzí-los.
Estou apenas a dá-lo a "fotografia histórica".

Mugabe, ele próprio, tolerou tais pilhagens, na esperança de ganhar apoio desta franja, muito importante. Foi o mesmo que aconteceu aqui em Moçambique, na altura das privatizações, em que a os antigos combatentes eram considerados no processo do "assalto" às empresas privadas. Você Muthisse sabe-no muito bem, como é que esses combatentes encostaram Chissano naquele tempo. Está documentado e não é nenhuma informaçãos secreta.
Portanto, do saque criminoso aos despojos dos brancos zimbabweanos (farmas) surgiu um movimento condenatório Internacional, liderado pela Grã-Bretanha. Seguiu-se-lhe a Commonwealth e a Austrália em particular. Em vão tentou Olusegun Obasanjo mediar o conflito. Mugabe insultou Tony Blair, acusando-o de ser homossexual. John Howard (Primeiro Ministro da Austrália)não escapou às verboreias do Sr. Mugabe, tendo sido "aconselhado" a dar também parte das terras australianas aos aborígenes.
Desprezou a Europa, dizendo que se quisesse passear iria a ÁSIA, poque também havia espaços bonitos. Mas foi a Roma no enterro do Papa João Paulo II.
Foi então no meio das sanções económicas, que você tão bem sabe como é que funcionam, que o regime começou a desmoronar.
Se fosse cínico, concordaria com a hipótese irónica que avançou e cito:Tudo se resume a que Mugabe gosta do poder, é ditador e não suporta a oposição".
Mas não, vou para além disso.
O Povo está farto de sofrer. E, se for a ver o que escrevi no primeiro comentário, é verdade.
Quem está na rua,meu caro, não são as tropas da ONU ou dos EUA e da Grã Bretanha. São zimbabweanos, carentes.
Quantas redacções já foram queimadas, fechadas; quantos jornalistas mortos, presos, torturados?
Quem tem razão não teme ser posto à prova. E agora, vamos a isto:
Mugabe está a tentar recandiatar-se. Há forte oposição dentro da própria ZANU. E, ele, já começou a criar bruxas internas, quando, ontem falou que dentro do partido, há quem não está a gostar dele. E o que acha que fará?
Vamos ao debate

chapa100 disse...

muthisse! nao acho que o egidio esteja a levar as coisas para um debate de conspiracao. e acho que neste blog, o nivel dos intervencoes as vezes é de grande de nivel, aqui nao basta so comentar, é preciso exercitar intelectualmente, e com argumentos ou questionamentos com objectividade. nao é tarefa facil, mas dizer que neste blog funciona uma conspiracao contra conspiradores, nao acredito muito. pode ate ser verdade, talvez nao esteja atento. o egidio convida-te a um debate serio. quem conspira nao debate.

o que a geracao que conduziu a independencia em africa e governou os primeiros 15 a 30 anos tem que perceber que as coisas mudaram, o presidente nyerere e mandela escreveram muito acerca da mudanca dos espacos de luta e afirmacao. pedir hoje que um pais inteiro se torne cumplice de lutas intestinais dentro da zanu é pedir muito a esta geracao - e pior quando parte dessa geracao usando capital historico de luta pela independencia, rouba quase um pais inteiro. mudam-se os tempos e muda-se a legitimidade de algumas lutas. nao é porque esta nova geracao perdeu os valores do nacionalismo - discurso ate bastente comum em mocambique - ou de identidade cultural, politica e valores de afirmacao de uma soberania. aqui seria interessante ler wole soyinka, ki-zerbo, e os textos do steve biko sobre o nacionalismo africano e os desafios de afirmacao africana - pena que nao deixaram viver este homem, produziu textos fantasticos, que hoje podes encontrar este pensamento no escritor Chinua Achebe -.

a africa do sul e namibia sabem que o processo tem que ser diferente, basta ler o manifesto eleitoral do ANC e da SWAPO. COSATU que esta a apoiar a luta?

e mais uma: hoje temos historicos e herois mocambicanos a fazerem negocios em hoteis, industria, com generais do ex-smith e ex-regime do apartheid. veja so as ligacoes dessa gente no congo, nas praias mocambicanas, e outros sitios. e mesmo assim acham que a historia nao mudou?

e como egidio diz vamos ao debate.

GM disse...

Caros Egídio e Chapa 100,

Não considero a terra um despojo da luta de libertação do Zimbabewe. A questão da terra, mais especificamente, a questão da sua distribuição equitativa foi o principal factor mobilizador para centenas de combatentes que pegaram em armas naquele país.

A questão da terra ficou sempre como uma espada de Dâmocles sobre a aparente estabilidade socio-económica do Zimbabwe. À verdade historica que o Egidio contou faltou acrescentar que a ZANU e Mugabe sempre procuraram uma solução pacífica para este problema.

A solução pacífica passava por justa compensação aos farmeiros brancos que iam perder suas propriedades (não apenas as terras improdutivas como refere Egídio). Repito que uma pequena minoria controlova quase todas as terras férteis do país. Esta compensação justa passava por obter os financiamentos necessários, em conformidade com os entendimentos de Lencaster House.

Os que se haviam comprometido a dar os financiamentos para compensar a minoria branca começaram com aquilo que os moçambicanos designam por manobras dilatórias. Isto durante décadas.

As manabras dilatórias esgotaram a paciência dos Zimbabweanos. Não apenas a de Mugabe. Duas alternativas se punham àquele povo irmão: deixar que a iniquidade histórica se perpetuasse devido à falta de disponibilização dos recursos financeiros prometidos, ou enveredar por uma solução revolucionária.

A opção da ZANU que não foi tão impopular como os detratores de Mugabe querem dar a entender foi tirar as farmas à força. Outros povos, incluindos os moçambicanos, haviam usado o mesmo procedimenmto no passado.

A minoria branca não é a única que sabe trabalhar a terra no Zimbabwe. Não partilho da visão racista segundo a qual as terras deixaram de produzir devido à incapacidade dos Zimbabweanos. Considero isto racismo do mais primário. Os Zimbabweanos têm tanta competência para produzir tabaco, citrinos, milho e outros produtos como qualquer outro povo.

O que aconteceu foi que iniciou-se imediatamente uma acção liderada pela Inglaterra destinada a isolar e bloquear o Zimbabwe. Os mercados para os produtos Zimbabweano foram fechados. A economia daquele país foi privada dos recursos essenciais para adquirir combustível, peças sobressalentes, equipamentos, fertilizantes e outros insumos. Foi isto que desarticulou a agricultura do Zimbabwe e não a incapacidade dos negros como alguns gostam de apregoar.

A falta de alimentos, a falta de combustíveis, a crise económica concomitante, criam uma situação política e de segurança explosiva, susceptível de aproveitamentos irresponsáveis. O Zimbabwe não é o primeiro país na história a tomar medidas de excepção numa situação semelhante.

É pura hipocrisia pretender que, numa situação de graves carências, o governo zimbabweano devesse permitir indiscriminadas manifestações políticas. É evidente que manifestações num contexto destes têm um potencial elevado de degenerar no caos social, político e de segurança. São inclusivamente previsíveis pilhagens e graves prejuízos à propriedade. Seria irresponsabilidade política permitir manifestações numa situação como a que se vive em Harare.

Não estou a dizer que algumas medidas que Mugabe tomou desde 2000 não tenham, algumas, sido ditadas por cálculo político. Mas isso é de esperar num político astuto como o velho Bob.

Pessoalmente, quando encaro a campanha de diabolização de Mugabe não consigo deixar de reflectir nestas coisas todas. E embora esteja na moda condenar Mugabe prefiro não cair na cilada da propaganda barata da BBC e seus similares. O Zimbabwe tem problemas concretos que, repito, estão para além do mau feitio do meu xará Robert Gabriel.

Um abraço. Gabriel Muthisse

Anónimo disse...

Fala-se de sancões como motivo da crise do Zimbabwe, será isso verdade? Será mesmo que esquecemos de factos que chegaram ao cúmulo há apenas 6 anos? Será que não nos lembramos das manifestacões em Harare nessa altura e que de facto Mugabe foi buscar o seu populismo com as terras como na guerra do RDC? Será que não sabemos da impopularidade de Mugabe em Harare?

Será este caminho de desenvolvimento de África? Duvido.

Egidio Vaz disse...

Mais uma vez cá estou,
Caro Gabriel,
Sabe explicar-me porque é que desde 1980 altura da Independência do Zimbabwe, Robert Mugabe e seu Governo não encetaram a reforma agrária? Sabe explicar-me porque é que só em 2000 é que houve condições para "essa reforma"?

Algumas questões para esclarecimento:
- Houve Reforma Agrária no Zimbabwe ou não? Se sim, qual foi o desfecho; caso o contrário, porque?
Um abraço,
Voltarei com algum comentário, daqui ha pouco.

GM disse...

Nao percebo o anonimo. Estaa a sugerir que sancoes economicas nao levam a crises? Estaa a sugerir que um paiis poderia continuar a prosperar mesmo quando sujeito a bloqueo?

Um abraco. Gabriel Muthisse

GM disse...

Egido,

Como eu tentei explicar, a abordagem inicial da ZANU e de Mugabe, sobre o problema da terra, foi de negociacao. Os acordos de Lencaster House preconizavam que a Inglaterra e (parece-me) os EUA iriam financiar o programa de partilha de terras. As manobras dilatorias ee que levaram a que atee 2000 o problema nao estivesse resolvido.

O que Mugabe pretendia fazer era uma reforma agraria. Reforma agraria nao se circunscreve a retirar terra de uns a entrega-la a outros. Inclui esquemas de financiamento aos novos proprietarios. Inclui que os novos proprietarios se beneficiem da extensao rural que, no passado, beneficiava apenas a minoria branca. Reforma agraria inclui acesso aos mercados, internos e externos. Ee evidente que isto nao foi feito.

O esquema de financiamento ficou torpedeado porque nao havia fertilizantes, combustiveis, pecas sobressalentes, equipamentos e outros insumos a comprar com os dolares zimbabweanos dos financiamentos. Simplesmente porque, devido ao bloqueo economico, o Zimbabwe foi privado das divisas essenciais para os importar. Ademais, os compradores de tabaco, citrinos e outros produtos zimbabweanos deixaram de compra-los naquele paiis.

Egidio, tu podes nao acreditar, mas o tipo de sancoes a que Mugabe foi sujeito nao se compara, nem de longe, com o remedo de sancoes a que foi sujeito Ian Smith. As sancoes a Mugabe sao efectivas e atingem gravemente a economia.

Nao ee verdade que Mugabe distribuiu as farmas pelos seus parentes. Mugabe ee impopular nas zonas urbanas, mas nao o ee tanto nas zonas rurais. Este tem sido o segredo das vitorias de Mugabe nas eleicoes. Claro que a propaganda ocidental se apressou a dizer que essa vitoria se devera a fraudes. Mas Egidio se lembra de certeza que os observadores africanos avalizaram aquele evento.

A relativa popularidade de Mugabe nas zonas rurais nao se deve aos seus olhos bonitos. Deve-se a que, pelo menos, parte do seu programa de reforma agraria (a partilha da terra) foi realizado com relativo sucesso. Os camponeses dispoem de terra para produzir, pelo menos, para a subsistencia.

Soo uma ultima coisa. O Egidio diz que os eventos de Lencaster House sao remotos. Julgo que ee para sugerir que nao teriam qualquer relevancia nos acontecimentos de hoje. O Egido acredita nisso?

Um abraco. Gabriel Muthisse

Egidio Vaz disse...

Acredito que os Acordos de Lencaster são tão actuais e que a actual crise nela encontra sua origem.
Todavia culpo o Mugabe pelo seu calculismo eleitoralista, que fez com que a pretendida reforma desse no que deu.
Para Mugabe, quando as coisas estavam bem; qjuando os zimbabweanos não se preocupavam com a questão da terra; quando eles viviam numa boa, a reforma agrária aguardou o tempo que aguardou: 20 anos.
Quando a economia começou a mostrar sinais de declínio, foi quando, de uma forma populista, começou a encetar a tal reforma agrária.
Portanto, Mugabe não é tão santinho assim. Quando a governação de um país se submete aos interesses meramente eleitoralistas, o caos que se cria torna-se insustentável.

Em Moçambique não foi assim. Quando se nacionalizou a terra, todos passamos mal. Mas foi o memento próprio. Todos aceitamos conviver com essa dor. E Samora ainda podia nos electriza com o seu discurso.
Imagina se tivesse acontecido depois do fim da Guerra Civil!
O que tentei ao longo de todos cometários foi exactamente interpelar o oportunismo político e a miopia política de Mugabe quando não pude fazer as coisas no tempo em que o povo estava consigo.
Mais, indaguei a pertinência das invasões em vez de uma reforma ordeira. Onde é que andava a Polícia, esta que sabe bater os opositores, quando os veteranos da guerra invadiam e até matavam os brancos zimbabweanos?
Um abraço, sempre.

GM disse...

Egidio, Fico feliz porque comeca a perceber-se, tambem nos teus comentarios, que o problema do Zimbabwe ee bem mais grave do que as noticias dos jornais deixam perceber. De toda a forma, noos nao debatemos para ter razao; fazemo-lo para trocar informacoes e fazer com que a nossa percepcao dos fenomenos abranja um quadro mais vasto do que tinhamos no inicio do debate. Eu percebi o ponto do Egidio.

Agora o Egidio pode ter a certeza de uma coisa. Partilha ordeira das terras nao era possivel. Aquilo que o Egidio chama "Reforma Agraria Ordeira" apenas poderia ser possivel com o concurso da Inglaterra e, talvez dos EUA.

Concurso na forma de financiamento para garantir as compensacoes pertinentes aos agricultores brancos. O Egidio sabe que os Ingleses nao aceitaram dar esse financiamento, contrariando o espirito de Lencaster House. Este ee o meu ponto Egidio. Toda a violencia, todo o oportunismo de Mugabe, os contornos actuais da crise no Zimbabwe encontram a sua base na recusa britanica em cumprir o que se acordou em 1979/1980.

Um abraco. Gabriel Muthisse

chapa100 disse...

usar a terra para ganhos politicos ou de qualquer outra forma de luta de classes é perigoso.

nao sei se a crise no zimbabwe foi motivada por erro de calculo politico de mugabe ou a falta de pagamento dos americanos e ingleses. e crises como aquelas no zimbabwe sao muitas pelo mundo fora. os sul-americanos, no chile, bolivia, equador,venezuela, brasil, mexico, optaram por uma outra via na resolucao do conflito "economico da terra". na reforma sobre a lei de terra em mocambique, tivemos debates interessantes, saudades que temos do DR. negrao, para explicar essas coisas que giram em volta da terra.

os problemas politicos e economicos zimbabweanos vem de uma heranca historica nao so da era do Ian smith mas tambem de como a zanu conduziu aquele pais ate hoje. e nao é exemplo raro em africa.

o mugabe é usado como arma de arremesso pelos lideres africanos para justificar o nacionalismo elitista e reproduzir/justificar uma relacao ambigua entre a nossa elite politica africana e os paises ricos - ex-colonizadores, hoje doadores e financiadores da riqueza dessa mesma elite-. se o problema é entre zimbabweanos, porque convidamos mugabe para nossas salas de conferencia para batermos palmas e ululular? se as sancoes sao injustas onde esta a solidariedade da verdade e nacionalismo africano p desobedecer o bloqueio? o que levou a frelimo a negociar a reversao da cahora bassa e nao esperar pela campanha eleitoral e compensacoes dos americanos, inglese e portugueses? o que faz mugabe diferente de chissano para deixar o poder? o que faz de nos mocambicanos previlegiados pela liberdade de imprensa e nao zimbabweanos? o direito a vida, a voz, liberdade politica, direito a justica, é um direito africano, nao é nenhum direito imposto pelos europeus e americanos, porque se negamos isso, negamos toda nossa historia de luta africana e a propria cultura africana. isso é negar a revolta dos barues, zixaxa, bonga, maguiguana e outros.

este paternalismo que alguns partidos africanos assumiram pos- independencia foi perigoso e hoje esta ultrapassado, serviu para manter unidade e estabelecer uma soberania. mas hoje nao serve. e mugabe tem que entender isso. os estados africanos modernos so podem sobreviver quando reconhecer que direito, justica, liberdade é tao nossa quanto europeia. isso pertence aos africanos.

entao mano muthisse, eu respeito a luta patriotica e nacionalista de mugabe e zanu pela independencia, mas a reforma agraria é bem vinda, e como deves saber gerir e produzir a terra nao é coisa facil. e a gente diz no chamanculo, mugabe saiu da estrada e entrou pela picada sem 4x4 e txufelou.