18 abril 2006

A ciência nova

O que gostaria de salientar é que sou cada vez mais apologista de uma teoria de conhecimento nómada, transfronteiriça, aberta à alteridade, anti-representacional (franqueada, portanto, pelo papel activo do sujeito do conhecimento, como hoje a própria epistemologia das ciências "duras" demonstra e defende), anti-identitária (aberta, portanto, ao movimento, ao transitório, à mudança, à reelaboração). Sou defensor de uma reaquisição mesticizada dos saberes e das práticas científicas, mesmo de um diálogo com os saberes populares, com o "senso-comum". Devemos ler Einstein, Heisenberg, Hempel, Von Neumann, Prigogine, mas também devemos conhecer a "linguagem-vida" das barracas e dos dumba-nengues, conhecer o nosso cancioneiro e a nossa literatura, apoderarmo-nos da nossa mitologia, etc. É necessário, afinal, readquirir o espírito da "nova ciência" de Vico, o sentido da "gaia ciência" de Nietzsche, a oportunidade do retorno aos saberes tradicionais de Gadamer e Rorty. Nada é absolutamente só social ou "natural". Ou só científico. O ser humano, por exemplo, é, também, intrinsecamente, um ser físico e químico. Quem escreve teses deve também fazer literatura. Escrever não pode, em meu entender, certamente rabelaisiano, ser feito com régua e esquadro, no sentido daquelas horríveis teses policiadas em ciências sociais com xis milhares de palavras cuidadosamente programadas, nem mais nem menos, parágrafos "objectivos", estrutura narrativa descarnada, etc., monitoradas por diligentes tutores áridos, convencidos de que ciência é isso e apenas isso. Quero acreditar que a ciência do futuro será profundamente plural, dialógica, literária, anfibológica, polissémica, sem as fronteiras identitárias, tribais e binárias que a afectam faz mais de dois mil anos.

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