15 julho 2009

Psicologia dos produtores da pátria (5)

Mais um pouco desta série, mais algumas ideias frustes.
As tentativas (frouxas e populistas que fossem) para enxertar a libertação social na terminada luta de libertação nacional não foram, certamente, produto de unanimidade. O grupo hegemónico liderado por Samora, forte da sua vitória sobre o colonialismo, teve certamente de fazer face àqueles para quem não fazia sentido fazer sacrifícios, quando tantos foram feitos na luta armada. A independência não devia ser plenamente usufruída? Não chegara a altura de, finalmente, os Moçambicanos vencedores, produtores da pátria, saborearem o gosto da riqueza, do bem-estar social pleno?
Bem, em 1974 o pensamento de Samora foi publicamente expresso. Primeiro exemplo:
"Queremos chamar atenção ainda sobre um aspecto fundamental: a necessidade de os dirigentes viverem de acordo com a política da Frelimo, a exigência de no seu comportamento representarem os sacrifícios consentidos pelas massas. O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores. A corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as cunhas, o nepotismo, isto é, os favores na base de amizade, e em particular dar preferência nos empregos aos seus familiares, amigos ou a gente da sua região fazem parte do sistema de vida que estamos a destruir (....) Para que se mantenha a austeridade necessária a nossa vida de militante e assim se guarde no sentido do povo e dos seus sacrifícios, todos os militantes da Frelimo que receberam tarefas de governação do Estado tal como no passado deve renunciar as preocupações materiais, nomeadamente aos vencimentos. É evidente que por maioria de razão não se pode tolerar que um representante nosso possua meios de produção ou explore o trabalho de outrem. Combatemos durante dez anos sem qualquer preocupação de ordem financeira individual, empenhados apenas em consagrar toda a nossa energia ao serviço do povo. Esta é a característica do militante, do quadro, dos dirigentes da Frelimo."
Prosseguirei mais tarde.
(continua)

1 comentário:

Viriato Dias disse...

Um excelente estudo este. E pedia ao professor para que postasse mais artigos que ilustrassem ou que fossem de encontro com o tema em questão. Ainda agora, só para enfatizar um aspecto que nada tem haver com o tema em questão, e sim com o facto da figura do presidente Mugabe estar a ser vítima por alguma imprensa nacional ou estrangeira, incluindo meus caros, aqui neste diário, colocando-lhes, para o feito, a seguinte questão:

Há quanto tempo está a rainha Isabel II(?) no trono, na Inglaterra, que não pode ser substituida por uma outra (o)? Não estamos por acaso perante uma ditadura? Quantos como ela gostariam de estar lá? Será que o dinheiro que os estados gastam, cujos sistemas é por via da monarquia, não sentem o cargo das despesas para acomodar as mordomices das rainhas, reis, etc? Haverá uma explicação para isso?

Infelizmente, para todos o Mugabe é que é o culpado!

Um abraço