01 outubro 2007

Calce baixo, calce baixo!

"A partir de um certo ponto não há retorno. É esse o ponto a alcançar" (Frantz Kafka)
Estamos em 1976, a independência fôra a 25 de Junho de 1975. Os passos múltiplos da revolução, do combate contra o inimigo não menos multiplamente múltiplo. Temos um Estado rizomático, atento a tudo, nada lhe escapa, nem a altura desmesurada das solas e dos saltos dos sapatos. Efectivamente, descobriu-se que solas e saltos eram demasiado altos. As alturas sapatais provocam gastos desnecessários em matérias-primas, elevando os custos de produção. Acresce que a moda também era má para a saúde. Impunha-se, então, pôr cobro à situação, pelo que várias medidas foram tomadas por despacho do então Ministério de Indústria e Energia datado de 28 de Outubro de 1976. Corações abnegados tiveram a capacidade de fixar as alturas máximas para sapatos e socas. Imagine-se quanto trabalho não foi necessário para fixar, por exemplo, em 65 mm a altura máxima dos sapatos de mulher. Outras obrigações e diversos interditos foram estabelecidos (veja o artigo 6 concernente à forragem em cabedal, salvando-se os dignos sapatos de mulher modelo Luís XV). Historiadores rigorosos, escutai: com os bons préstimos dos boletins da República pode fazer-se a história de muita coisa. Basta apenas paciência anti-sapatal. Clique duas vezes com o lado esquerdo do rato para ampliar a imagem abaixo:

5 comentários:

Anónimo disse...

> Já imaginaram os sapos que Mário Machungo teve de engolir para na época assinar coisas destas... tanta capacidade para descer,só mesmo por nacionalismo.
> Também houve parâmetros para o comprimento do cabelo, das mini-saias, das pinturas, etc.
> O tempo em que Frelimo era o Partido, o Governo, a Religião, a Moral; o tempo do "É, ou não é??": Éééé!!
> Preciosidades destas têm que ser avaliadas à luz da conjuntura da altura, com os olhos de então!
FM

Carlos Serra disse...

Sim, com os olhos de então.

Egidio Vaz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Egidio Vaz disse...

Seria interessante saber se na verdade o objectivo era de possibilitar que todos pudessem ter a oportunidade de comprar sapatos (ja que com a poupanca da materia prima, mais sapatos seriam confeccionados)ou se era para prevenir as pessoas de possiveis doencas provocadas por saltos altos. Porque afinal, pelos motivos alegados, apenas podemos assim compreender.
Abracos.

Carlos Serra disse...

Bons olhos te vejam Egídio!!!! Forte abraço!