Falando em nome da bancada da Frelimo, partido no poder, eis como Edson Macuácua definiu a Renamo, numa intervenção feita quinta-feira antes da ordem do dia, na Assembleia da República: "A Renamo não foi concebida democraticamente e nem foi moldada para ser democrática. Foi, sim, estrategicamente fecundada e configurada para agir como um mero instrumento de desestabilização da independência, a soberania, da paz, da democracia ou seja instrumento para a desestabilização do povo e do Estado moçambicanos. Foi por isso que a guerra de desestabilização esteve prenhe de massacres, assassinatos, mutilações, raptos, violações, sabotagens económicas, destituições, roubos, actos tipicamente terroristas que não têm nada de democracia."
Perante esse exercício básico de desqualificação (que consiste em retirar autenticidade e patriotismo ao campo adversário, dotando-o de uma natureza destrutiva irremediável e incurável), certamente reacendido face à proximidade das eleições, permita-me pedir-lhe que leia ou recorde aqui algo que escrevi há uns anos atrás sobre o que chamei configuração sociológica.
4 comentários:
"A Renamo não foi concebida democraticamente e nem foi moldada para ser democrática. Foi, sim, estrategicamente fecundada e configurada para agir como um mero instrumento de desestabilização da independência, a soberania, da paz, da democracia ou seja instrumento para a desestabilização do povo e do Estado moçambicanos. Foi por isso que a guerra de desestabilização esteve prenhe de massacres, assassinatos, mutilações, raptos, violações, sabotagens económicas, destituições, roubos, actos tipicamente terroristas que não têm nada de democracia”.
Professor.
Mais uma vez sou tentado a comentar sobre o assunto interessante que levanta. É uma questão, quanto a mim, complexa. Pode, por isso, ser vista de vários ângulos. A perspectiva que adopta da construção de “identidades sociais e políticas” ou até etnicas tem o seu valor, mas também as suas limitações. final todas têm alguma. O seu valor, no meu entender, reside no pressuposto relacional, construcionista e não essencialista das identidades que adopta. Esse pressuposto permite-nos dar conta da mudança. Neste sentido a Renamo não se definiria apenas pelo que foi e partir - do ser- mas do “estar e do “vir- a ser”- duma essência, imutável inerte, e por si só fora da relação que estabelece com outros actores no campo político. Ela se definiria, e aí reside a força do seu argumento, na relação, neste contexto particular, mais com a Frelimo. Parte dessa relação é bem documentada nos debates da Assembleia da República. O precesso de construção de identidades sociais, neste caso políticas, teóricamente envolve pelo menos três eixos:
1) O eixo da identificação = apelo a elementos de similaridade (somos da Frelimo);
2) O eixo da Identização = apelo a elementos de diferença (não somos da Renamo) e 3) um terceiro eixo da trajectoria biógráfica (apelo a elementos da génese e trajectória histórica). A recuperação de elementos de cada um desses eixos é feita estrategicamente pelos actores (partidos políticos) em função do que está em jogo no campo politico em determinado momento. Neste contexto pre-eleitoral, por exemplo, se pode entender a ênfase que Macuacua da aos elementos do terceiro eixo (génese) para caracterizar a Renamo. Os elementos históricos da génese da Renamo são controversos, não só em termos políticos mas ciêntificos. É só lembrarmos as teses sobre a origem da Renamo e da Guerra em Moçambique. No meu entender e de alguma literatura sobre o assunto, há mais elementos de evidência que corroboram a tese da génese “terrorista” da Renamo do que o argumento da paternidade da democracia. É verdade que também há aquela literatura (Michel Caheniana) que tenta argumentar sobre a base social e apoio que a Renamo teve durante a guerra. Ao levantar estes aspectos não quero justificar, de modo algum, as intenções por detrás do apelo da génese da Renamo por Macuacua hoje, desconheço-as. Do ponto de vista histórico nao vejo desqualificação no excerto de Macuacua, porém do ponto de vista futurologico, existe sim uma tentativa de dizer: uma vez terrorrista sempre terrorista.
Gostei do que escreveu, especialmente da perspectiva dos dois eixos. Mas foi justamente a inexorabilidade da identidade renamoana produzida pela Frelimo que quis salientar. Mas tal como ontem escrevi aqui algures, a forma como a Renamo lê a Frelimo é, ela também, completamente prisioneira da mesma inexorabilidade. Estes quadros de inexorabilidade identitária recrudescem quando estamos em período eleitoral ou dele próximos, como é o caso. Entretanto, ontem coloquei um desafio à Ivone Soares a propósito do que Moisés Mabunda e Francisco Alar disseram da Renamo e por isso vamos aguardar os comentários dela.
Deixem- me dizer uma coisa: em que se fingido académico não se sabe se se é frelimista ou outra coisa? Do resto é uma maneira de academicamente se fazer de imparciais, em particular em Mocambique. Há um certo académico, que dispenso dizer o seu nome, que aconselhava o governo de Guebuza para dispensar diálogo com a Renamo e isso é pura e simplesmente pela opcão política, pois que no fim, sabe ele que põe em perigo a paz que pelo diálogo emergiu. Agora que me diga esse acadédimo em que o povo mocambicano ganhou pelo seu conselho. Neste tipo de análise, podemos até ir ao que se chama de Cahenianismo. O que é Cahianismo, afinal? Será uma versão anti-frelimista? Será o que estou tentando descrever (lutando para não fazer)em resposta ao Paul Fauvet, já que entre 1984-1985 estive como civil e por cima, adulto e professor/director duma escola secundária e centro internato, numa zona de guerra e sei do que era lá? Terá Macuacua a mesma experiência minha? Até tenho aí na AR um deputado da Frelimo para discutir sobre tudo que o Macuácua diz.
Mais problemático até fica quando assassinatos, massacres, raptos, violacões em Mocambique só se conota à Renamo. Compreendo que a uns se deve à idade, a outros o lugar onde viveram e o tipo de informacão que consumiram em toda sua vida.
Não sei do que o Patrícilio sabe, mas seria bem se com essa base tivessemos uma oportunidade de dizer muita coisa que por aí se esconde. Nisso seria uma Comissão de Verdade e Reconciacão.
Há muitos que gostariam de dizer a verdade.
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Não darei esse gostinho ao macuácua. De cuacuadas bastam as que ouvimos num exercício autentico que assemelha a audição de uma caixa de ressonancia.
Quando tiver mais disposição talvez dispense uns minutos para reflectir sobre o que o rapaz é obrigado a pensar do meu Partido, RENAMO.
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