30 outubro 2007

Cabora-Bassa: o que significa ser nossa?

O chefe de Estado, Armando Guebuza, garantiu hoje que Moçambique vai pagar até 31 de Dezembro o montante em falta (700 milhões de dólares) para que a barragem de Cabora-Bassa seja definitivamente moçambicana (Rádio Moçambique, noticiário das 15 horas). Já anteriormente o ministro da Indústria e Energia, Salvador Namburete, tinha sido definitivo: "Cahora Bassa vai ficar com os moçambicanos e falta pouco. Nós temos o compromisso de pagar ao governo português até ao dia 31 de Dezembro deste ano e esta dívida será liquidada em breve." Mas quem deverá saldar a dívida é um consórcio bancário formado pelos bancos Calyon (francês) e o BPI (português), vencedores de um concurso público aberto pelo governo moçambicano. Eis, então, a pergunta da santa ingenuidade: se é um consórcio bancário que deverá saldar a dívida e partindo do pressuposto sensato de que os bancos não são agências de caridade, o que significa exactamente sustentar que Cabora-Bassa vai ser nossa?

21 comentários:

Anónimo disse...

Sera que os nossos ilustres deputados ja perguntaram isso ao Governo?

Isto nao eh negocio da tia Joana, eh um assunto de interesse nacional e nao temos ki fazer as coisas as escondidas. Abram o jogo e sejam transparentes.

Ora bolas!!!

Egidio Vaz disse...

Parece-me iogualmente pertinente perguntar o que é ser ''Made in Mozambique''.
Andamos tão à deriva, que custa-nos compreender que vivemos a vida dos outros.
A ''nossa'' barragem so a é por estar dentro de Moçambique.
Aliás, seria ainda interessante saber porque é que o Gvoerno está tão interessado em ''ter'' a Barragem nas suas mãos? Por ser ou poder ser a maior fonte de rendimentos? Ou será por ter sido obra do colonialismo português? Se a última questão for afirmativa, ainda faria outra: e daí? O que se faz a cada dia que passa para contrariarmos o ambiente colonialista em que vivemos? Será a decisão do Governo em preferir Bancos e não Estados (ainda que Portugal tenha igualmente se endividado para construí-la) consentânea com o espírito que clama pela paternidade da HCB - A TAL DE AUTOESTIMA?
O problema deste país é sempre o mesmo:somos muito bons em encetar fugas para fernte, senão vejamos:
1. Quando foi da crise dos chapistas (por causa da subida dos combustíveis e depois da TRACK, a solução que o Ministro trouxe foi de introduzir comboio. Pergunta 1: e onde estão os tais comboios? A quem carrega? São eles funcionais em termos de horários de trabalho dos trabalhadores?
2. Quando foi da subida sucessiva dos combistúiveis, incluindo gás de cozinha, o mesmo ministro justificou que era porque na África do Sul fazia frio e que por isso mesmo houve subuda da procura lá e os fornecedores viram os seus estoques rompidos. Pergunta 1: Afinal, não contratos de fornecimento, em que cada parte cumpre com o que promete? Será quie se trata de negógio informal, em que os clientes são os que querem comprar? Ainda nesta senda, o ministro anunciou a instalação de uma refinaria. Até hoje ainda não a temos.
Sempre que se verifica a subidade combustíveis, a justificação é de que porque não temos nenhuma refinaria. Sabemos n'so que na Nigéria, o preço de combustível é tão alto que nem parece que são seus produtores.
Fujamos um pouco para vermos o pão:
Agravou-se o perço do pão e o Governo sugeriu-nos que coméssemos o pão de madioca, pois o preço do trigo nunca deixaria de subir. E a UEM veio em apoio dele para se prontificar em ensinar-nos a produzir pão de mandioca.
de novo Namburete:
Quando foi da última subida de combustíveis, trouxe-nos um outro discurso: Biocombustíveis!!!!
Quer dizer, sempre que há um problema, avançam-nos soluções de muito longo prazo, algumas das quais sem pernas para andar!
E agora esperamos que a barragem seja nossa para todos pudermos ter energia a baixo custo.
Puxa!!!
Abraços.

Carlos Serra disse...

Não me tinha apercebido desses exercícios de fuga para a frente, por si feitos com a habitual e saborosa causticidade, ainda bem que os recordou. Só num ponto: nunca mais ouvi falar no pão de mandioca. Sim, tb me tenho interrogado sobe o "Made in Mozambique". Forte abraço!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O problema não reside nos proprietários, mas em saber que a barragem vai dar emprego e contribuir para o desenvolvimento. O capital é capital: pertence a quem pertence. Mudar de mãos pode levar à corrupção e à morte do empreendimento. Nada pertence ao «povo», nem os bens públicos. Os moçambicanos deviam saber isso: a história ensina-lhes isso. E vejam o caso de Angola!

Anónimo disse...

Se bem que concorde com a ideia de fuga para a frente, por outro lado fico tentado a dar alguma razão aos nossos governantes quando procuram responder aos problemas que se lhes colocam com soluções a médio/longo prazo.
É que, não é uma solução passageira, do tipo "aspirina", que resolve as coisas, mas sim uma intervenção profunda.
E aí estou de acordo que a solução para a subida galopante dos combustíveis passará por se construir uma refinaria e [eventualmente] pelos biocombustíveis; Que a solução para os TPM passará por renovar a frota com autocarros movidos a gás; que a solução para o pão passará pela tal nova receita que inclui farinha de mandioca; que a solução para o tratamento dos dontes do HIV-SIDA passa pela construção de uma fábrica anti-retrovirais, etc.
A minha crítica não é contra as medidas que são tomadas para produzir produzir resultados somente a médio/longo prazo.
Afinal de contas, o tal futuro melhor que os nossos governantes tanto apregoam prepara-se, não surge do nada.
Penso que é assim que as coisas devem funcionar, sob pena de transformámo-nos no país das soluções "aspirina".
Agora, critico é se essas soluções depois nunca mais avançam.
Se sugerem soluções a médio/longo prazo (refinarias, fábricas de anti-retrovirais, receita de farinha de mandioca, etc) mas depois não avançam com isso, então aí critico.

Melhores cumprimentos,

Anónimo disse...

Caros companheiros, se eu compro mobiliário com crédito bancário, como soi fazer-se na Europa e em muitos países desenvolvidos, e um compadre me perguntar de quem são as cadeiras, as mesas e a cama em que durmo o que devo responder? Que são do Banco?

É próprio da pobreza supor que tudo deve ser pago a pronto. Os que estão à frente de nós em desenvolvimento compram tudo a crédito. E nem por isso deixam de ser proprietários.

Obed L. Khan

Anónimo disse...

Sobre o pão de mandioca, há aspectos que eu esperava ver os nossos sociólogos, economistas e outros comentarem. Os únicos comentários que me lembro de ter visto resumiam-se em querer saber se pão de mandioca continuaria a chamar-se pão. Mas há outras questões a abordar:

Primeiro: a solução de sermos nós próprios a produzirmos trigo não resolveria o problema do preço. Os produtores de trigo moçambicanos não o venderiam barato às panificadoras nacionais, por patriotismo, quando no mercado aberto internacional poderiam vende-lo a preços melhores. Ou seja, o preço do trigo produzido em Moçambique tenderá a ser igual ao preço internacional.

Segundo: a mandioca é produzido pelas nossas mães, tias e parentes ao longo de todo o país. A possibilidade de este produto entrar no mercado seria uma forma de metermos na modernidade essas nossas mães, tias e parentes. Teriam acesso a um mercado garantido, gerando renda monetária. Não viria ninguém ensinar-nos a produzir mandioca (talvez com base em grandes latifundios que usariam tractores, autocombinadas, etc. como aconteceria no caso do trigo)

Terceiro: é bem possível que nem toda a mandioca tenha a possibilidade de produzir farinha com os teores requeridos. Mas essa seria tarefa do Ministério da Agricultura proceder a uma adequada extensão e fomento de boas práticas.

Em resumo: pão de mandioca não é uma solução maluca como se pretende apresentar. É evidente que a sua operacionalidadee não depende só do Governo. Afinal estamos num país que promove a livre empresa. E não no comunismo.

Anónimo disse...

Sobre o pão de mandioca, há aspectos que eu esperava ver os nossos sociólogos, economistas e outros comentarem. Os únicos comentários que me lembro de ter visto resumiam-se em querer saber se pão de mandioca continuaria a chamar-se pão. Mas há outras questões a abordar:

Primeiro: a solução de sermos nós próprios a produzirmos trigo não resolveria o problema do preço. Os produtores de trigo moçambicanos não o venderiam barato às panificadoras nacionais, por patriotismo, quando no mercado aberto internacional poderiam vende-lo a preços melhores. Ou seja, o preço do trigo produzido em Moçambique tenderá a ser igual ao preço internacional.

Segundo: a mandioca é produzido pelas nossas mães, tias e parentes ao longo de todo o país. A possibilidade de este produto entrar no mercado seria uma forma de metermos na modernidade essas nossas mães, tias e parentes. Teriam acesso a um mercado garantido, gerando renda monetária. Não viria ninguém ensinar-nos a produzir mandioca (talvez com base em grandes latifundios que usariam tractores, autocombinadas, etc. como aconteceria no caso do trigo)

Terceiro: é bem possível que nem toda a mandioca tenha a possibilidade de produzir farinha com os teores requeridos. Mas essa seria tarefa do Ministério da Agricultura proceder a uma adequada extensão e fomento de boas práticas.

Em resumo: pão de mandioca não é uma solução maluca como se pretende apresentar. É evidente que a sua operacionalidadee não depende só do Governo. Afinal estamos num país que promove a livre empresa. E não no comunismo.

Anónimo disse...

Não assinei o artigo anterior: Obed L. Khan

Anónimo disse...

As vezes depende de que lado do prisma agente de senta.

Ora bem, produza mandioca, faca-se pao, comamos..e ta tudo resolvido.

No preco do trigo, talvez o Obed esqueceu de fazer uma discriminacao de custos que certamente influenciariam na diferenciacao entre o custo do tripo nacional no mercado internacional e o custo no mercado nacional.

A proposito..Obed ja comeu pao de mandioca misturado com trigo? Que tal o gosto?

Abracos

PP

Anónimo disse...

O pão de mandioca tem um sabor excelente. Se eu não lhe informar pode até não descobrir que nesse pão há uma certa percentagem de farinha de mandioca. Vou-lhe dar o nome de uma das padarias que fez o teste.

Obed L. Khan

Carlos Serra disse...

O Obede, sem dúvida que a mobília, a cama, as cadeiras, tudo é seu. Claro que é a crédito, mas que mal tem isso? O problema começa quando tem de reservar espaço em tudo isso para os accionistas, digamos que para os da Manitiba Hydro, do Canadá, por exemplo. Claro que é tudo, depois, uma estão de golpes de rins à maneira, dependendo da proteína espacial. E nesta coisa de golpes de rins, há os que gostam e os que não gostam, os que deixam andar e os que não deixam. Questão de gosto, afinal.

Anónimo disse...

OK Obed. Bom saber que o pao de mandioca, tambem eh pao gostoso.

Entao, enxertamos o pao de mandioca na boca desta gente..e nao se fala mais no trigo.Quem quizer pao de trigo, que pague o preco do pao de trigo. Como alguem diz MANDIOKEMO-NOS e mudemos esse habito secular de que pao..so eh pao com trigo nele.

Pelo que me constou, na questao da mandioca os panificadores, que so quem produz e vende o pao, para alem de terem um conhecimento previlegiado sobre as opcoes dos cosumidores foram muito pessimistas em relacao a ideia.

Ok, se o trigo nacional nao nos ajuda...sera que o trigo externo ajudara? Se este tambem nao ajudar, entao o Obed sanciona que a solucao eh mandiocanizar o pao.Good. E sera que essa mandioca, que hj eh produzido com base em agricultura familiar sera suficiente para abastecer o mercado? Ok, Industralizemos a agricultura mandiokeira.

PP

Carlos Serra disse...

Estava eu agora a ler as vossas contribuições, quando pensei na mandioca a dois níveis: no da história e na dos gostos. Entrada em Moçambique na segunda metade do século XVIII via algumas estacas creio que trazidas de Magagáscar (a hipótese brasileira é inviável), espalhou-se pouco a pouco a partir da Ilha de Moçambique pelo sertão, pelo centro do país (o Sul foi-lhe sempe "resistente"). Permitiu duas coisas: assegurar alimento em tempo de seca forte aos camponeses e alimentar os escravos que da ilha partiam para a Índia e para as Américas. Depois temos os padrões de gosto. Creio que a partir dos anos 60, o governo colonial tentou estimular o fabrico de pão de mandioca aqui no Sul, mas as experiências não foram bem sucedidas. Acontece que as pessoas não gostaram. E quando falo de pessoas, falo de colonos e de colonizados. Claro, os gostos podem ter mudado, mas julgo que seria sensato ter em conta um estudo perceptivo a esse nível. Uma coisa são os nossos gostos (podemos, vários de nós, oscilar entre um belo pão mandiocado e um pão de centeio no Polana, consoante dias e disposições) e outra, os gostos dos outros. Mandioquemos mais este diálogo. caso eu tenha cometido erros do que escrevi, corrijam-me, por favor. Obrigado.

Anónimo disse...

PP, se calhar a solução não seja industrializar o cultivo da mandioca. Falo de industrializar no sentido de deixar de ser familiar e passar a ser com base em latifúndios que produzem com capital intensivo. Em várias partes do mundo a agricultura familiar é, também, bastante produtiva. è necessário apenas que os camponeses tenham acesso a insumos apropriados e a mercados. Cultivar a mandioca (ou qualquer outro produto) com base na agricultura familiar tem imensas vantagens para um país subdesenvolvido como o nosso.

Não percebi o primeiro comentário do Professor Carlos Serra. Mete uns actores canadianos de que nunca ouvi falar. Pelo que não sei o que têm a ver com compras a crédito... ou com Cahora Bassa.

A questão dos gostos. Diga-me professor, quando pessoas como nós, os "intelectuais" do país, escrevemos para tudo o que é sítio a ridicularizar a solução de pão na base de mandioca, isso pode ter efeitos nos gostos ou não. Ou seja, o gosto das populações pode ser induzido ou não?

Como eu disse, já comi pão com componentes de farinha de mandioca. Se não me tivessem informado, eu não teria descoberto que o pão não era o clássico com base, apenas, no trigo.

Obed L. Khan

Carlos Serra disse...

Obede, é um dos nomes indicados como podendo vir a gerir Cabora-Bassa. Não é comércio a retalho, é a grosso.

Anónimo disse...

Há algum problema em se contratar uma gestão profissional para Cahora Bassa, independentemente dessa gestão ser moçambicana, portuguesa, chinesa ou canadiana? Sinceramente Professor, continuo a não entender! Está a sugerir que um empreendimento só é moçambicano se a gestão for de nacionais?

Outra questão seria se o Professoor tivesse dados fiáveis que indicassem que o empreendimento vai ser cedido, enm termos de propriedade ou posse, aos canadianos. Não é isso que está a sugerir pois não?

Conheço um criador moçambicano, que foi meu professor na década de 80, contratou especialistas brasileiros para virem organizar e gerir sua herdade. Esse empreendimento deixou de ser moçambicano por isso?

Obed L. Khan

Anónimo disse...

O Professor não respondeu à minha pergunta sobre gostos.

Obed L. Khan

Anónimo disse...

Boa pergunta. O que significa ser "nossa"! Aposto que o pacato cidadão estava tão esperançoso de ver as exorbitantes taxas de energia reduzirem consideravelmente nas suas facturas mensais, já que Cabora-Bassa é "nossa"...

Anónimo disse...

Creio que está a haver uma confusão aqui. Não há um economista para explicar que os custos de produção de energia são independentes da nacionalidade dos proprietários dos empreendimentos? Se os preços de energia baixarem não há-de ser pelo facto de "Cahora Bassa ser nossa".

Anónimo disse...

Anónimo,de maneira nenhuma descato os custos de produção, e outros gastos. A própria hiro-eléctrica precisa de criar meios de seu próprio sustento. Não existe produção sem custos. Se baixa ou sobem pode ser em função dos custos de manutenção, de inflação, ou dos lucros. Não quero de forma alguma dizer que se a Barragem está para os moçambicanos, necessáriamente todo moçambicano deve consumir enregia "de borla"...