10 agosto 2007

Linchamentos em Sofala


Os linchamentos continuam na ordem do dia e desta vez a notícia chega-nos de Sofala:
"Nas últimas duas semanas tivemos dois casos. Um no bairro de Matadouro (Inhamizua) e outro em Dondo. Em ambos casos as população imolou as vítimas com fogo ateado a partir de gasolina e pneus”. Segundo conta a fonte, nos casos, a Polícia não conseguiu deter os culpados porque os populares foram tão solidários que deram nenhuma pista as autoridades que se fizeram àqueles locais. No caso de linchamento ocorrido no bairro do Matadouro sabe-se apenas que se tratou de três indivíduos que foram surpreendidos a roubar numa residência. Com gritaria dos donos da casa a vizinha acudiu e os 3 puseram-se em fuga. Para infelicidade de um deles, acabou caindo nas malhas da multidão e mais tarde acabou sendo sacrificado com recurso a fogo."
Tenho escrito muito sobre linchamentos neste diário. Recorde, por exemplo, esta entrada.

4 comentários:

Xiluva/SARA disse...

Um perfeito horror. Mas acredito que as pessoas devem andar cansadas.

Carlos Serra disse...

Um cansaço multidimensional, pode crer. Mas haverá altura em que eu eu outros, dentro de algums meses, tentaremos mostrar como, a partir do eclipsei do social, que é, sempre, tb, o eclipse do cultural, drenam para a anormalidade a anormalidade das suas vidas, reconstituídas numa neo-normalidade e numa reposição de sentido que importa mostrar.

Anónimo disse...

Professor,
 A degradação da qualidade de vida é brutal. O comportamento das elites no poder uma monstruosidade. As nossas estatísticas um logro; enganamo-nos com ilusórios exercícios de autêntica masturbação mental, irrealistas. Vivemos de mão estendida. Achamo-nos injustiçados quando nos condicionam a “esmola”.
 A equipa de investigadores do Professor observa que na cidade de cimento – onde a possibilidade de identificação e denúncia, logo, de punição dos linchadores é mais provável, não há linchamentos do tipo “pneu em cima”; nas zonas suburbanas, onde o policiamento público e privado é escasso, a população assume a responsabilidade colectiva, não há denúncias; na realidade, intimamente, todos se assumem capazes do mesmo comportamento brutal, logo, “pneu em cima”, justiça pelas próprias mãos (dado que o Estado não se faz presente). Temos exemplos por esse mundo fora de situações semelhantes onde as comunidades assumem colectivamente certos actos: quem matou? Foi o Povo!
 Em todo este processo há um aspecto (psíco-químico?) que julgo importante aprofundar para melhor compreendermos o fenómeno: como funciona o nosso cérebro? De uma forma grosseira podemos dizer que é composto por uma enorme teia de ligações eléctricas com corrente em diferentes voltagens, controladas por sofisticados sistemas de fusíveis.
 A questão está em saber que IMPULSO EXTERNO faz com que indivíduos com comportamentos irrepreensíveis se transformem, em fracções de segundo, em seres cruéis, boçais. É como se um impulso externo intensificasse a corrente e esta forçasse alguns dos fusíveis, sem os queimar, mas passando e provocando danos a jusante, de tal maneira que regressado à realidade, depois do acto consumado, o linchador e coniventes não sentem qualquer sentimento de culpa. Fizeram justiça!
 O que nos faz “perder a cabeça”… quando não estamos condicionados pela presença de quem possa denunciar e punir?
Um abraço,
Florêncio.

Carlos Serra disse...

Obrigado, Florêncio, tentaremos (eu e a minha equipa) reflectir sobre as multidões temporárias...