As palavras não têm poder em si. A sua força e a sua eficácia chega-lhes do contexto específico em que são formuladas e da autoridade da instância que as profere. É neste sentido que se insere o livro com a capa em epígrafe - As novas palavras do poder/abecedário crítico, escrito por 67 autores das mais diversas áreas científicas sob direcção do belga Pascal Durand, da Universidade de Liège, e surgido em Paris em Março -, reunindo mais de 130 palavras, expressões e sintagmas-mana que, à força de se repetirem no discurso político e na imprensa, fazem-se largamente esquecer como formas ideologicamente claras da "economia de mercado", da era da empresa. A sua recorrência é tão forte - escreveu Durand - que as palavras são mergulhadas na invisibilidade de que se rodeia o poder no que há de mais de mais intrusivo e de mais naturalizado. Nada de menos visível do que o banal; nada de mais eficaz que uma ideologia tornada quotidiana. Sugiro-vos que procurem encontrar esse livro, cuja edição em francês possuo (Les Éditons Aden) e que, provavelmente, tem já, também, uma edição em inglês.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
2 comentários:
Nenhuma rua do mundo vai dar fora do mundo
porque toda a sua massa se foi acumulando
sem espaço para o azul sem janelas para os astros
Para que são as palavras senão para esvaziar o mundo
e encontrar um lugar vago e ainda um pouco selvagem
com flores de areia e constelações de cal?
Só então poderemos conciliar o corpo e a ausência
e as palavras formarão o volante oásis
de uma terra ao ritmo de uma respiração aérea
E então poderemos conhecer o mundo
longe da sua aglutinação com o seu horizonte aberto.
(...)
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excerto de um poema de António Ramos Rosa
in " As palavras ", ed. Campo das Letras, 1ª edição, Fevereiro 2001
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As palavras gastas (metáforas do poder), são ocas por dentro, não respiram. Tapam-nos o azul ...
ligitimam coisa nenhuma. São ruído.
AtlânticoAbraço
Obrigado, Isabel.
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