10 agosto 2007

2006/2007: início de uma nova era criminal em Moçambique

I
Por hipótese, o período que se estende de Janeiro de 2006 a Agosto deste ano parece constituir-se como o início de uma nova era na história criminal do país em geral e na de Maputo em particular. Não é o crime em si que a caracteriza, mas a multiplicidade de zonas criminogéneas, a profundidade de irradiação e a sua situação em rede.

II
Assim, o recrudescimento dos linchamentos, após os picos de 1991 e 1992 (18 o ano passado, sete já este ano); o assassinato dos detectives especializados da extinta brigada mambas; os assaltos espectaculares com armas de fogo a instituições públicas e privadas; os roubos dos discos duros a vários níveis; e, finalmente, o assassinato ontem de dois polícias da brigada anti-crime, em pleno coração da cidade de Maputo, são ingredientes de um processo cuja lógica está ainda por estudar, ingredientes e lógica que incluem, ainda, o roubo sistemático de viaturas, o tráfico de seres humanos, o narcotráfico, os desvios de dinheiro e as diferentes modalidades de corrupção.
Tenho para mim que as modalidades criminais apresentadas só na aparência são dispersas.

III
Importa encontrar o elemento federador da criminalidade poliédrica que inunda o país - acompanhada de ameaças de morte via celular - e que tem, faz já alguns meses, os polícias agora como alvo.
E esse elemento federador certamente passa pelo conhecimento do alargamento e da sofisticação dos métodos e dos objectivos dos sindicatos do crime.

IV
A integração regional, a abertura das fronteiras, a agilização dos mecanismos de penetração, vai, potencialmente, fazer com que o nosso país seja inundado não apenas com os produtos agrícolas, industriais e educacionais das economias fortes da região, mas, também, com as suas redes criminais, especialmente as da África do Sul.

V
Enquanto isso, Maputo parece estar em autêntico estado de sítio, especialmente à noite, com a polícia na rua, com a generalização das rusgas e com o ministro do Interior operando rapidamente mudanças na direcção do Ministério do Interior.
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Gostava muito que as hipóteses apresentadas pudessem constituir tema alargado de debate, não importa a nacionalidade de quem queira intervir.

7 comentários:

Salvador Langa disse...

Mano ja sabe que tem gente recebendo ameacas de morte no Maputo la no celular dizendo que se quiser pessoa nao vai ser morta podemos negociar mas nao deve trazer policia?

JCTivane disse...

Posso confirmar isso, também já ouvi. Acredito que a ideia seja assustar as pessoas ainda mais. Tenho dito.

mozinovador disse...

No meu jovem Blog dedicado a questoes de ciencia, tecnologia e inovacao por acaso faco referencia ao problema.

http://mozinovador.blogspot.com/

Por acaso creio que, ao mesmo este tipo de situacoes ja ha muito deviam ser debeladas apos os exemplos que assistimos a quando do Julgamento do Caso Cardoso.Mas, somos o pais que somos...

Anónimo disse...

Quem telefona diz que recebeu ordens na Africa do Sul para matar a pessoa que recebe o telefonema...

Carlos Serra disse...

Mais alguém tem dados?

Anónimo disse...

Conheco parentes de alguem que no momento esta a ser ameacado de morte, pedem dinheiro, carro, e a pessoa ja foi abordada cara a cara, levaram todas as suas posses no momento e continuam a ameacar-lhe e a sua familia de morte. Comunicou-se a policia que no momento esta a fazer uma "investigacao".

Anónimo disse...

Professor,
 Somos um poliédro com faces comuns com a Africa do Sul. Temos problemas comuns. Não podemos fugir à influência do que lá se passa, vejamos: economia de país desenvolvido; óptimas infra-estruturas económicas; policia, defesa e segurança com meios humanos, materiais e financeiros fortes, MAS, (1) mais de 40% de população desempregada (lá não há o auto emprego no sector agrícola famíliar); (2) inexistência de sistema de segurança social adequado,LOGO, instabilidade social, CRIMINALIDADE, dia a dia mais sofisticada.
 Do lado de cá do poliédro comum, temos: (1) uma economia frágil, mal gerida; (2) níveis elevadíssimos de desemprego; (3) um apelo fortíssimo ao consumo; (4) uma cultura de conformismo, em vez de exigência e rigor; (5) infra-estruturas, equipamentos, meios humanos e financeiros das forças de polícia e defesa e segurança fragilíssimos; (6) somos corredor de drogas, albergue de traficantes, que coabitam em parcerias económicas com políticos e governantes;(7)temos um sistema de segurança social sem estratégia, sem controlo, esbanjador, sem capacidade para “amortecer” os danos da degradação dos níveis de vida de quem não tem meios de sobrevivência; LOGO, temos instabilidade social, CRIMINALIDADE e, tal como na face de lá deste poliédro comum, continuaremos a ver a criminalidade crescer e a sofisticar-se.
 E porquê o estado de sítio, particularmente em Maputo (cidade e província)? Bem, criminosos sim, mas não estúpidos: em Maputo concentra-se, provavelmente, mais de 70% do PIB. O resto do país são trocos, fica para os estagiários e amadores.
 Precisamos de governantes que tirem o casaco, a gravata, arregacem as mangas e trabalhem identificação e resolução dos problemas: precisamos de renovação, de uma elite com outros valores.
Um abraço
Florêncio.
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PS - Hoje mesmo soube de mais um assalto, com metralhadoras,na estrada da Ponta do Ouro, próximo da Catembe. O condutor optou por não parar, avançou, o carro foi baleado mas, felizmente, não houve feridos.