01 agosto 2007

Erotismo bloguista em Moçambique (6) (continua)

Achei bem colocar aqui a opinião de Cássia, uma brasileira leitora deste diário, antes de prosseguir a teorização que procuro efectuar. Ela respondeu à seguinte pergunta, por mim feita na sequência do debate nesta série: Oiça, Cássia, deixe-me tentar meter-me no seu argumento e fazer-lhe esta pergunta: acha que caminhamos para uma espécie de era à George Orwell (no pior dos sentidos, o de "1984") e de Aldous Huxley (no melhor dos sentidos, recorde-se de "O melhor dos mundos" e de "Regresso ao melhor dos mundos") em que o erotismo à distância, de net, poderá surgir como uma espécie de pílula substituta da realidade, uma aspirina ou algo assim? Algo de tão mais forte quão mais forte se tornar a distância em relação à realidade ou a sua recusa?

"Caro Carlos, a substituição da realidade por um espaço virtual onde tudo é possível já é concreto para milhares de pessoas, pelo menos as que embarcam no Second Life (um simulador virtual em três dimensões, lançado em 2003 e que tem seus espaços construídos por seus próprios membros. Os usuários se cadastram em http://www.secondlife.com/ e podem criar personagens para viver situações baseadas na vida real).
O Second Life permite aos seus usuários viver o que a realidade não permite: aparência física ideal, superação das dificuldades de relacionamentos, enfim, recriar-se a si mesmo e viver plenamente seus desejos ocultos. O tempo real complica as possibilidades da imaginação, pois quando o signo e a coisa se transformam no mesmo, falha-se o desejo. O erotismo encontrou no mundo virtual uma forma de driblar essas dificuldades. Amparado no anonimato permite que as pessoas expressem, sem medo, sua sexualidade, oferecendo estímulo para que a fantasia se desenvolva. Como bem colocastes no post, na pornografia - ou erotismo - “o corpo em si tem de ser abolido e simbolicamente reconstruído como objecto .” O que exprime à perfeição a idealização que fazemos do outro nos relacionamentos virtuais.
Nesse mundo artificial e perfeito (a exemplo do que ocorreu nos modelos concebidos por Huxley e Orwell - lembre seu comentário), as pessoas que se sentem inadequadas no mundo real encontram satisfação plena a ponto de muitas delas desistirem dos relacionamentos reais. O modelo começa a falhar, na medida em que projetamos nossas expectativas reais - pois não há possibilidade de alienação total - e passamos a desejar a presença, o toque, da pessoa idealizada. Caso o encontro aconteça, o engano se confirma, a decepção acontece e o sofrimento nada a deixa a desejar a qualquer relacionamento do mundo real que termine em desilusão. Quanto à pergunta do post que me fez, sim, todos os seres humanos têm necessidade, em menor ou maior grau, de fantasias, de evasão, de fuga da realidade. Das superstições às religiões, do cinema à literatura, dos sonhos que temos acordados às fantasias sexuais desde sempre convivemos com realidades artificiais. O momento é das relações virtuais através da Internet, mas outros mecanismos de superação já estão nesse momento em gestação para substituir a Internet.
Cássia"

3 comentários:

Salvador Langa disse...

Xi mana Cassia vc deixa nos a pensar. Vc tem tido muitas tristezas?

Anónimo disse...

Risos...Este não é um texto autobiográfico, cara Esfinge. Eu apenas observo. Por outro lado, quem está imune à tristeza e decepção no mundo real - ou em qualquer outro?
Um abraço

Cássia

Anónimo disse...

;) somos todos obsevadores e cobaias ao mesmo tempo...