Escrevi no último número que o capitalismo produz as infra-estruturas de um múltiplo processo de entorpecimento aproveitado pelas elites políticas e pelos seus intelectuais orgânicos. Considerarei, de forma breve, três formas culturais de anestesia política:
1. Cultura da informação
2. Cultura do kitsch
3. Cultura do espectáculo
A cultura da informação é um dos mais interessantes exemplos de despolitização em curso no capitalismo deste século.
O eixo vital dessa cultura tem a ver com factos (contra factos não há argumentos, não é?), com técnica, com informação em bruto, com um processo de fornecimento massivo de coisas neutras e neutralizadas em permanência pelos mais mais variados canais de formação pela informação assexuada.
O conhecimento surge como um processo alimentar básico e imediato: servimos refeições de coisas, prontas a digerir, sem crítica, simples, compreensíveis, sem ideologia, sem as agruras do que faz pensar (e se parecemos estar a fazer pensar, é no sentido neutral, inócuo, de fazermos não pensar uma vez mais, pelo doce jogo dos sofismas), sem o risco do que faz colocar questões políticas de fundo; de coisas que tornam natural tudo o que fazemos e nos fazem fazer, de coisas que procuram evacuar os mecanismos produtores de relações sociais, de coisas (e quantas são, cada vez mais!) que nos levam a eliminar a consciência das desigualdades sociais, da injustiça social. O celular é o mais brilhante produto da informação coisal e socialmente neutra.
A expressão tecnologias de informação, que tanto amamos empregar no nosso país, é o mais eficiente resumo de um mundo que se pretende asseptizado, docilizado, inofensivo, anestesiado pelos enzimas do equilíbrio social, de um mundo que é distribuído em massa pela indústria das coisas e rentabilizado diariamente pelos intelectuais dos factos e das relações sociais tornadas naturais, imutáveis, de um mundo que faz casar, por exemplo, um computador, a internet e a informação.
Este é, afinal, um mundo no qual e para o qual os gestores e os intelectuais da descerebralização procuram a todo o transe mostrar que não há contradições sociais, que não há mais nem direita nem esquerda, que desapareceram as clivagens sociais, que a verdade depende dos óculos que usamos, que tudo é um mero ponto de vista, que a ciência tem de ser neutra, bem comportada. E se problemas há, só podem ser obra de disfunções, de défices afectivos, de ressentimentos psicologica e medicamente tratáveis, de empenhamentos sociais vãos, de mãos invisíveis, de arruaceiros. A cultura da menoridade intelectual tornou-se regra.
A cultura da informação é um dos mais interessantes exemplos de despolitização em curso no capitalismo deste século.
O eixo vital dessa cultura tem a ver com factos (contra factos não há argumentos, não é?), com técnica, com informação em bruto, com um processo de fornecimento massivo de coisas neutras e neutralizadas em permanência pelos mais mais variados canais de formação pela informação assexuada.
O conhecimento surge como um processo alimentar básico e imediato: servimos refeições de coisas, prontas a digerir, sem crítica, simples, compreensíveis, sem ideologia, sem as agruras do que faz pensar (e se parecemos estar a fazer pensar, é no sentido neutral, inócuo, de fazermos não pensar uma vez mais, pelo doce jogo dos sofismas), sem o risco do que faz colocar questões políticas de fundo; de coisas que tornam natural tudo o que fazemos e nos fazem fazer, de coisas que procuram evacuar os mecanismos produtores de relações sociais, de coisas (e quantas são, cada vez mais!) que nos levam a eliminar a consciência das desigualdades sociais, da injustiça social. O celular é o mais brilhante produto da informação coisal e socialmente neutra.
A expressão tecnologias de informação, que tanto amamos empregar no nosso país, é o mais eficiente resumo de um mundo que se pretende asseptizado, docilizado, inofensivo, anestesiado pelos enzimas do equilíbrio social, de um mundo que é distribuído em massa pela indústria das coisas e rentabilizado diariamente pelos intelectuais dos factos e das relações sociais tornadas naturais, imutáveis, de um mundo que faz casar, por exemplo, um computador, a internet e a informação.
Este é, afinal, um mundo no qual e para o qual os gestores e os intelectuais da descerebralização procuram a todo o transe mostrar que não há contradições sociais, que não há mais nem direita nem esquerda, que desapareceram as clivagens sociais, que a verdade depende dos óculos que usamos, que tudo é um mero ponto de vista, que a ciência tem de ser neutra, bem comportada. E se problemas há, só podem ser obra de disfunções, de défices afectivos, de ressentimentos psicologica e medicamente tratáveis, de empenhamentos sociais vãos, de mãos invisíveis, de arruaceiros. A cultura da menoridade intelectual tornou-se regra.
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