03 junho 2011

Sobre ritos de iniciação feminina à maturidade em Moçambique (2)

O segundo número desta série.
Pressuposto: tomarei apenas em conta os dados que foram divulgados por El Mundo e reproduzidos pela Rádio Moçambique, os quais podem não coincidir com a metodologia e com os resultados da pesquisa original.
Eis um sumário de seis pontos que vou procurar desenvolver:
*Natureza e sexo: hegelização dos Africanos
*O que são ritos de iniciação
*Ritos de iniciação em Moçambique
*Ritos de iniciação na Zambézia: nluga e emuáli
*Alteridade pedagógica
*Conclusões
(continua)

5 comentários:

Salvador Langa disse...

Ora aqui está mais um tema "mais". Aguardo.

izumoussufo disse...

Aqui tambem há cerimónias e ninguém diz que é para ter relações.

Xiluva/SARA disse...

Como se nossos pais obrigassem as filhas a aprender a ter relações...

Anónimo disse...

Os ritos de passagem e/ou de iniciação são uma prática comum em todas as sociedades e marcam os momentos mais importantes na vida dos seus membros. O baptismo, o casamento e as cerimónias fúnebres são alguns exemplos de tais rituais. Estas cerimónias representam uma transição particular para o indivíduo, assim como a sua aceitação e participação como membro activo da sociedade à qual está inserido.

Eu vivo actualmente na Dinamarca e cá, após o nascimento de um bebé celebra-se o Baptismo. Neste ritual o padrinho do Baptismo do bebé manifesta o desejo do bebé de ser batizado segundo o ritual cristão e protestante da Igreja dinamarquesa. Quando este "bebé" atinge os cerca de 14 anos de idade ou frequenta a oitava classe e ja se sente "maduro" bastante para pessoalmente manifestar a sua vontade, passa por mais um ritual, a confirmação de fé, no qual o jovem vem reafirmar a desejo manifestado pelo padrinho aquando do baptismo.

Também viví e estudei em Portugal e lá, quando um novo estudante ingressa no primeiro ano do curso universitário, passa por um ritual particular chamado de “praxe académica”. É um ritual de iniciação a vida académica em que os "caloiros" (também chamados de bichos ou animais) são sujeitos à uma série práticas que podem implicar algumas agressões físicas, bebedeiras forçadas ou outras de mau gosto. Estas práticas tem em vista a "morte" do caloiro enquanto bicho ou animal para poder renascer como doutor na noite da Serenata quando o seu padrinho traçar a capa do traje académico.

Nas cidades do Brasil, quando um jovem completa os 15 anos sai, sai pela primeira vez, na companhia dos amigos para celebrar este acontecimento e isso pode implicar bebedeiras exageradas, o seu primeiro beijo e/ou a primeira experiência sexual. Nos EUA celebra-se com muita estravagância os "sweet sixteen".

Na província nortenha do Niassa em Moçambique, um jovem Yao, ao atingir a purberdade é submetido ao rito de iniciação chamado unyago.O unyago é um ritual que marca a transição de criança para adulto na cultura Yao que pode ser na forma de Lupanda ou Jando e Nsondo . Jando é a cerimónia de iniciação masculina e Nsondo, femenina.

Todos estes rituais marcam fases novas na vida dos participantes, quer seja de adulto, de doutor ou apenas de nova pessoa na comunidade a que está inserido. Nas chamadas sociedades tradicionais, como as sociedades do campo em Moçambique, estes rituais são celebrados com especial atenção de modo a marcar a memória e a vida dos jovens candidatos.

Serão os rituais ocidentais melhores que os rituais africanos? será o Baptismo na Espanha melhor que o Jando em Lipende?

Nasci e viví em Lichinga até aos meus 18 anos e em 2007 voltei ao Niassa para estudar o "Unyago". Tenho informações que também gostaria de partilhar convosco e hei-de enviar ao Professor.

A. Katawala

Carlos Serra disse...

Obrigado a todos, obrigado em especial ao Katawala, aguardo as informações. Deverei seguir uma linha analítica muito próxima da sua na continuidade.