22 abril 2006

Sandwich de sociologia

Um dia pedi aos meus alunos da Cadeira de Metodologia de Investigação que levassem as cadeiras da sala de aulas, as pusessem em frente ao edifício do Centro de Estudos Africanos, lá onde agora há uma quase terminal de chapas (ganhos académicos, claro) e, sentados, registassem o que viam e ouviam.
Por ali passavam estudantes, professores, viaturas. Havia e há lá todo um mundo aparentemente uniforme, o mundo de todos os dias, um mundo que, de tão igual, certamente levaria a ter 65 estudantes com um quadro de observação igual, apenas diferindo nos pormenores.
Enganei-me, espantei-me do meu espanto, o que é bem saudável.
Com efeito, praticamente cada estudante registou de forma distinta o que viu, ora com um registo auditivo mais intenso, ora com um registo visual mais profundo.
O resultado da experiência, colectivamente discutido, foi o de quão difícil é gerir a diferença humana e social.
O espanto acaba, afinal, por vencer o hábito, todos os dias, nos solavancos da vida.
Escutai: a sociologia é uma sandwich feita com espanto, amor e desconfiança, temperada com um pouco de paciência, a que uns juntam estatística e outro apenas o coração.

P.S. Voltarei a este texto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Afinal, a sociologia não é assim tão importante quanto mais a rainha das ciências sociais como suponha a classificação de Auguste Comte. Contudo, é utilitária, pois dá-nos pistas capazes de interrogar de forma adequada aspectos e percursos sociais. Além disso é herdeira de um conhecimento plural de sinais que percorre o corpo solar da decifração de caudais da cidade até sumcubir nos espasmos explicativos. O seu rigor repousa no acaso, dai a sua índole filosófica da qual não se consegue libertar, não obstante usufruir de uma sofisticada cátedra de técnicas de análise de dados.