11 junho 2008

Os riscos do efeito borboleta social na África Austral (4) (continua)

Prossigo a série, sempre no campo das hipóteses
Os problemas de recusa do Outro - de caça ao Outro, de linchamento do Outro - começaram em Alexandra, periferia da cidade de Joanesburgo. Poderiam ter começado em outro bairro da periferia de uma cidade sul-africana. Mas começaram aí. Por quê? Não sei. Se quisermos pôr de lado a teoria do acaso causal, podemos pensar, por hipótese, que aí, nessa periferia de Joanesburgo, estavam e estão concentrados diversos factores que, agrupados, catalizaram o ataque aos estrangeiros, ataque que, depois, alastrou para outros bairros de outras cidades.
Tratou-se, trata-se de xenofobia? De progrom simples? Todos os indicadores apontam para um ataque contra estrangeiros de outros países independentemente do grupo étnico. Por exemplo, os ataques foram dirigidos não contra grupos Shona ou Ndebele do Zimbabwe, mas contra Zimbabweanos (voltarei, proximamente, a este problema do termo qualificador).
Foi o ataque dirigido contra pessoas das classes média e alta (deixe-me dizer as coisas assim, de forma instintiva)? Não. Foi contra os pobres de outros países.
No apartheid, brancos puniam pretos. Agora, no pós-apartheid, pretos punem pretos. Ficamos intrigados com isso. Mas estamos face a um racismo sem raça, a um apartheid preto, a um comportamento bem mais familiar do que pensamos. Estamos perante o espírito retrospectivo do cipaio (voltarei a esta imagem).
E estamos perante uma situação em que fenómenos objectivamente falsos (do tipo "os estrangeiros tiram o emprego aos sul-africanos") são, porém, sentidos como subjectivamente verdadeiros.
Mas por quê? Veremos isso no próximo número, tentarei aprofundar certas coisas, coisas como, por exemplo, a tese de que os Moçambicanos são por natureza trabalhadores e submissos.

Sem comentários: