11 março 2008

Mulémbwè reconhece assimetrias à retaguarda das manifestações populares

Parece que, pouco a pouco, se toma consciência de que as manifestações populares ocorridas em Moçambique (desde o 5 de Fevereiro segundo muitos, desde 24 de Janeiro para mim) não foram obra de feiticeiros, de intelectuais histéricos, de meros arruaceiros de bílis incurável, de multidões candidatas ao hospício, de crianças instrumentalizadas por ogres odiosos, de títeres comandados por mãos invisíveis e de outras coisas mais que deram origem a montes de croniqueiros empaturrados de Le Bon e de crónicas cheias de sofismas e, aqui e acolá, permeadas de técnicas e de ameaças caras aos bufos. Não foram poucos aqueles que se agarraram ao rio e se esqueceram das margens que o comprimiam e comprimem, como tantas vezes aqui escrevi. Então, depois do presidente da República, Armando Guebuza, foi agora a vez do presidente da Assembleia da República escolher o lado real, o lado da consciência do que efectivamente se passou e se passa no país. Assim, segundo o "Notícias" de hoje, "O presidente da Assembleia da República, Eduardo Mulémbwè, considerou como prováveis motivos para as manifestações ocorridas a 5 de Fevereiro último nas cidades de Maputo e Matola e com réplicas em Chókwè e Chibuto, na província de Gaza, o pronunciado desajustamento do crescimento entre as necessidades das pessoas e a efectiva capacidade de satisfação das mesmas, o elevado custo de vida, o desemprego, a excessiva aglomeração de pessoas nos centros urbanos, a corrupção e o burocratismo. Falando na abertura da VIII Sessão Ordinária do órgão legislativo, Eduardo Mulémbwè afirmou, entretanto, que a exploração racional dos recursos adormecidos de que o país dispõe irá produzir a riqueza necessária para a solução dos hodiernos problemas económicos e sociais."
Por outro lado, pela primeira vez o "Notícias" usou a expressão "manifestações populares", em lugar de "tumultos" e de outras palavras similares. Repare-se neste título na versão online do matutino: "É preciso encontrar soluções consentâneas com o país real – afirma Eduardo Mulémbwè, a propósito das manifestações populares"

5 comentários:

Anónimo disse...

La esta, depois de tanta acusacao, la estao as maos invisiveis e externas a cair, foram identificados e punidos exemplarmente, com a sua exoneracao, serao os ex-ministros a mao invisivel? Enquanto o PR nao separar a sua actividade como comerciante de suas funcoes de chefe de Estado, enquanto nao separar espaco domestico com o publico, enquanto nao reflectir sobre o pais, pensando nos mocambicanos primeiro, e nao apenas como riqueza absoluta nem nos sulafricanos primeiro, o pais vai regredindo. O pais nao e feito de orientacoes politicas, que tudo o que geram e paralisia e medo de criar para nao chocar com os interesses do PR, e quando as coisas nao andam caem ministros sem lacos familiares ou de negocios. O pais precisa de solucoes tecnicas factiveis e sustentaveis. Mandem tambem os tecnicos de mobilizacao e propoaganda a cursar sua especialidade, porque e uma area tecnica e nao pau para curiosos. E vergonhoso condicionar ate assistencia a uma palestra em uma universidade publica a ter cartao de determinado partido http://www.canalmoz.com/default.jsp?file=ver_artigo&nivel=1&id=6&idRec=3455

Xiluva/SARA disse...

Inesperada tomada de posição de Mulembwe.

Anónimo disse...

Citando Mulémbwè na abertura da AR.

1. “... o pronunciado desajustamento do crescimento entre as necessidades das pessoas e a efectiva capacidade de satisfação das mesmas, o elevado custo de vida, o desemprego, a excessiva aglomeração de pessoas nos centros urbanos, a corrupção e o burocratismo”...

 Faltou acrescentar Sr Mulémbwè: a ineficiência, evidenciada num défice de produção alimentar superior a 1,250 milhão de toneladas em 2007, … com tendência para piorar se continuarmos a construir barragens, como Massingir por exemplo, e a ceder os terrenos de regadio a Megaprojectos (29.000 ha para Ethanol à Procana), em vez de enquadrarmos a população no cultivo de culturas alimentares e de rendimento em sistema de regadio.

 O Sr. Presidente da AR sabe, ou fica a saber, que dada a irregularidade das chuvas a Sul do Rio Save, qualquer cultura de sequeiro é um autêntico totoloto, só com muita sorte teremos um ano de boas colheitas. Por essa razão, é criminoso não aproveitar Massingir para instalação de pequenos e médios agricultores de regadio.

> Provavelmente, se investigar, encontrará, interesses dúbios ligados à celeridade com que o Megaprojecto Procana foi autorizado, ANTES de aprovada a política nacional de atribuição de terras para biocombustíveis: que devem ser as terras de produtividade marginal, ou seja, potencialmente menos produtivas para culturas alimentares.

2. “ É ainda fundamental materializar, de forma consequente, a acautelada opção de criação de um Estado verdadeiramente interventivo e regulador, capaz de, com a sua autoridade e meios disponíveis, corrigir distorções ou assimetrias sócio-económicas repor a justiça e proteger os mais desfavorecidos dos excessos e insensibilidade próprios do capitalismo no seu estado selvagem, incentivar o sentimento de pertença, partilha e comunhão, potenciando os valores de irmandade, fraternidade e solidariedade.”

 Sr Presidente da AR, com todas as insuficiências que mencionou (citações 1 e 2) e os “hodiernos” (leia-se actuais) problemas económicos e sociais, sugiro que proponha à Assembleia da Republica a aprovação de um Certificado de Incompetência (com distinção e louvor) aos sucessivos governos da Frelimo?

> Presidente Mulémbwé, é preciso menos VERBORREIA e mais acção.

Um abraço,
Florêncio
_________
PS - Permitam-me citar Manuel Tomé, chefe da bancada da Frelimo:

“Sair da pobreza exige tempo, trabalho e visão”.

 O problema do Manuel Tomé e da Frelimo, é terem a VISTA CANSADA. Perderem completamente a capacidade de visão ao longe, já nem os pés alcançam: ficam-se pelo umbigo.
 Sair da pobreza exige visão estratégica, organização, definição de prioridades, austeridade, trabalho e ÉTICA.

Carlos Serra disse...

Alguém deveria dizer "touché", Florêncio...

Anónimo disse...

# Provavelmente, os antepassados de Guebuza, Mulémbwé, Manuel Tomé e outros, ofendidos com tanta insensibilidade /indignidade dos seus descendentes,recordaram-lhes que "quem não sente não é filho de boa gente".
# Ao que parece, acusaram o toque! Nada mais eficáz para uma mudança de comportamento que uma chamada de atenção... de quem diz esperar por nós no além.

FM