17 julho 2009

Sete milhões: atrás do discurso oficial

Aí vão algumas notas de reflexão, algumas hipóteses para aprofundar.
O discurso oficial fala em sete milhões destinados a desenvolver os distritos, a gerar empregos, comida, portanto a combater a pobreza, etc. Por outras palavras: o discurso oficial é um discurso produzido como neutral, um discurso que despolitiza o desenvolvimento, que lhe dá a propriedade de algo puramente nacional, técnico, ao alcance de todos, dos esforçados, dos que trabalham.
Todavia, para se chegar aos sete milhões é preciso passar por ritos iniciáticos cuja natureza e diversidade reais aparecem ocultados pelos canais oficiais dos chamados conselhos consultivos. Esses ritos são filtradores, operam potencialmente de acordo com critérios clientelo-políticos. Nos comícios, uma parte significativa dos protestos dos cidadãos incide justamente sobre esses critérios.
No que me concerne, seria importante saber, por exemplo, quem são os beneficiários do dinheiro, que lugar ocupam nas relações sociais locais, se estão a constituir-se como pequena ou média burguesia rural, se e com que extensão o campesinato local está a ser usado como mão-de-obra, em que condições sociais ele trabalha, que profundidade está a ter o mercado local, qual o real progresso da agricultura comercial, quais os processos de circulação das mercadorias (linhas férreas, estradas, etc.), quais os pesos do capital comercial e fundiário, etc.

2 comentários:

Reflectindo disse...

Isto que o Prof. Serra coloca é o que é muito importante para avaliar os sete bis. Espero que ha esforco por parte dos nossos académicos e da nossa sociedade civil em avaliar isto duma forma independente.

Viriato Dias disse...

Questões pertinentes, de facto. E quais as medidas a tomar? Quais os resultados efectivos dos sete milhões? E o que está sendo feito para caso de sucessos seja generalizado para outros pontos?

Sempre que oiço falar do desenvolvimento do país, lembro-me SEMPRE de uma frase do Professor José Hermano Saraiva, diz: "Um País pobre não pode aspirar a produzir nem melhor nem mais barato como os outros, mas pode fazer diferente. A solução terá que ser encontrada no fabrico de produtos distintos e na aposta no gosto nacional. Por isso penso que se deveria dar uma importância superior à azulejaria (portuguesa), ao fabrico das porcelanas e aos revestimentos cerâmicos."

Um abraço