Partindo do princípio sensato (ainda que, claro, possível de impugnação) de que a fonte que usei não deturpou o que o psicólogo Vera Cruz disse, então este fez um teste clássico em Psicologia e que consiste em conhecer as reacções das pessoas face a uma pergunta acompanhada de fotos. Que pessoas e quantas foram ouvidas? Quinhentas crianças de três escolas primárias da província de Maputo (amostra visivelmente não probabilística). Qual foi a pergunta colocada? Esta: "qual destas meninas achas que é a mais bonita?" Quais meninas? Uma mesma menina, vestida e penteada da mesma maneira, mas com três cores: branca, negra e mista. As crianças não se aperceberam de que estavam perante uma mesma pessoa, estudante da Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. Qual o resultado obtido? Este: 88% das crianças escolheram a "menina branca", 25% a "menina mista" e 12% a "menina negra" (há, certamente, um erro na reprodução das percentagens...). O psicólogo Vera Cruz defendeu que as ideias são social e não biologicamente adquiridas, que as ideias têm a ver com os adultos de quem aprendemos e de quem reflectimos as posições. E acrescentou que "a associação da cor branca a elementos como a paz, pureza e doçura e da preta como de algo triste e diabólico, entre outros veiculados pelas ideologias da dominação colonial, ajuda a esclarecer a preferência por uma cor em detrimento da outra". De acordo com a fonte que usei, o estudo pertence a uma série de artigos científicos da revista Associação Internacional de Psicologia Intercultural, em edição a ser lançada próxim ano no Brasil por ocasião de um colóquio sobre relações raciais.07 outubro 2008
A cruz do Vera Cruz (2) (prossegue)
Partindo do princípio sensato (ainda que, claro, possível de impugnação) de que a fonte que usei não deturpou o que o psicólogo Vera Cruz disse, então este fez um teste clássico em Psicologia e que consiste em conhecer as reacções das pessoas face a uma pergunta acompanhada de fotos. Que pessoas e quantas foram ouvidas? Quinhentas crianças de três escolas primárias da província de Maputo (amostra visivelmente não probabilística). Qual foi a pergunta colocada? Esta: "qual destas meninas achas que é a mais bonita?" Quais meninas? Uma mesma menina, vestida e penteada da mesma maneira, mas com três cores: branca, negra e mista. As crianças não se aperceberam de que estavam perante uma mesma pessoa, estudante da Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. Qual o resultado obtido? Este: 88% das crianças escolheram a "menina branca", 25% a "menina mista" e 12% a "menina negra" (há, certamente, um erro na reprodução das percentagens...). O psicólogo Vera Cruz defendeu que as ideias são social e não biologicamente adquiridas, que as ideias têm a ver com os adultos de quem aprendemos e de quem reflectimos as posições. E acrescentou que "a associação da cor branca a elementos como a paz, pureza e doçura e da preta como de algo triste e diabólico, entre outros veiculados pelas ideologias da dominação colonial, ajuda a esclarecer a preferência por uma cor em detrimento da outra". De acordo com a fonte que usei, o estudo pertence a uma série de artigos científicos da revista Associação Internacional de Psicologia Intercultural, em edição a ser lançada próxim ano no Brasil por ocasião de um colóquio sobre relações raciais.
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6 comentários:
Dr faça uma outra pesquisa .leva uma foto de um homem vestido de Calças e casaco amarelo e calcados verdes florescente e gravata verde , e outra foto de um sujeito vestido de calcas e casaco azul ou preto e calcados pretos ( combinacao universalmente conhecida como da melhores ) peça que as criancas comparem . vai ver que 99% das criancas vai gostar da foto do Sr de roupa berrante.as crianças na minha opiniao sao igenuas nestas escolhas
A sua proposta contém uma boa hipótese. Mas a ingenuidade é uma coisa bem mais complexa do que pensamos...Obrigado.
Com sinceridade, acho que o professor está a prestar um mau serviço ao tal Vera Cruz, publicando excertos do tal estudo, propiciando, de todos, reacções esteriotipadas de algo que muitos desconhecem.
Mesmo aqueles que velipendiaram o Macarthy e os demais que se insurgiram contra o tal estudo revelador da "beleza branca" podem mudar radicalmente de ideia se tiverem acesso pleno a ele.
Pelo menos que nos indiquem uma fonte onde o possamos buscar e ler. O Link que acompanha este post, pelo menos para mim, dá sempre erro.
A priori me PARECE ser mais do mesmo usando a "ciência". Os resultados não se diferem dos que já ouvimos de "estudos" que remontam ao século XVIII ou XIX bem como aos primórdios da colonização.
Até ler o tal estudo, me sinto como se devem ter sentido os "EXÓTICOS" estudados por R. Brown e companhia séculos atrás...
Não seria a primeira vez, afinal, já durante o século XX muitos estados europeus, serviram-se da antropologia ou da etnografia para
procurar a essência e as tradições que melhor legitimariam a existência dos estados-nação,
sendo esta tendência também conhecida por folclore.
O que, provavelmente Vera Cruz faz, já os Antropólogos tinham feito há muito quando viajaram aos lugares mais recônditos do mundo para perceber como os outros se definiam e se caracterizavam. Assim a dicotomia nós – outros assumiu um papel fundamental no desenvolvimento desta ciência (a Antropologia).
Não é por acaso que, por não conhecer ainda o tal estudo, penso estarmos na presença de MAIS do MESMO com novas roupagens. Tomara esteja enganado
Estou achar muito interessante e preocupado com o debate que está-se a ter em torno do estudo do Dr. Vera Cruz.
Apenas duas coisas que gostaria de colocar: Tal como muitos já se referiram, enquanto não termos acesso ao referido estudo, dificilmente poderemos ter uma análise critica e fundamentada.
O segundo aspecto,relaciona-se com o facto de tais crainças entrevistas ao concluirem que as mulheres claras são mais lindas, resultar de uma construção social da realidade. O meio social em que estas crianças se encontram já o socializa a ver a mulher desta maneira. A exemplo disso, são as maquiagens, mexas, cremes e outros produtos que as mulher usam para a sua beleza e femininidade.
Mas como disse, faltam-nos muitos elementos analiticos para avaliarmos em que condições foi levado a cabo o estudo.
Caros amigos, tratar do cabelo, procurar alonga-lo, alisa-lo, todas as raças, incluindo a branca, o fazem. É só ver a diferença entre o cabelo "natural" duma branca e o cabelo tratado. É muito diferente. Então, porquê quando o negro trata do seu cabelo se diz que é falta de auto-estima?
O uso de cremes que protegem a pele, eliminam manchas e borbulhas, tornam-na mais lisa e bela, é feito por todas as raças. Porque as negras não o deveriam fazer?
Alguém viu as fotos (dessa tal mesma menina) que foram apresentadas às crianças para efeitos da pesquisa? Eu próprio, que não sou um exemplo de beleza, quando analizo minhas fotos concluo que em algumas resulto muito bonito. Não há a possibilidade de, nesses truques fotográficos que Vera Cruz fez, a foto branca ter resultado, realmente, mais bela? Ou seja, pode ser que, apresentando essas três fotos, mesmo a adultos, pode acontecer que nós também optemos pela "branca". Não por ser branca, mas por ser realmente a foto mais bonita.
O que estou a dizer é que, para mim, resulta bastante natural que, em alguns casos, uma branca possa ser mais bonita que uma negra. Será que que o Professor Vera Cruz repetiu várias vezes, a experiência de várias mulheres brancas, várias mulheres mistiças e várias mulheres negras, para concluir com segurança que os moçambicanos preferem as brancas?
Se é que o Professor Vera Cruz lê este blog, por favor, apresente-nos aqui as três fotos. Pode ser que a foto "branca" seja realmente mais bonita. Nisso não há nada de estranho. Eu próprio conheço várias brancas que as classificaria como mais bonitas que algumas negras.
Obed L. Khan
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