06 julho 2007

Privatização da violência e da justiça: a criminalização do social em Moçambique (2) (continua)


I

"(...) sou jovem e fiz o pré-universitário. Há cinco anos que faço exames de admissão e não consigo entrar em nenhuma universidade. Estou desempregado. Já fui cobrador de chapa, mas, até agora, estou-me aguentando porque tenho trabalhado numa barbearia, mas se um dia aparecer uma boa alternativa, mesmo que seja desonesta, terei de pegá-la, pois não há moral que aguente quando a fome aperta. Neste bairro, do jeito que levamos a vida, é do jeito que o destino quer" (Lucas Thai, 05/06/07)

II
"Ser ladrão, aqui no Bairro de Inhagóia, padronizou-se como profissão. As pessoas que roubam não nasceram ladrões. Não estou a defendê-las. Cansaram de ser olhadas como fracassados, a sua dignidade foi roubada. Algumas foram à África do Sul, frustraram e voltaram. Tornaram-se ladrões e violadores de mulheres. Como é possível um jovem sem emprego, beber todos os dias e vestir bem? De certeza é ladrão. Alguns até são chefes de família, roubam aqui no bairro e noutros bairros e vendem o produto no mercado Estrela Vermelha" (Marta Novela, 07/06/07)
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Entrevistas conduzidas por Cremildo Bahule no Bairro Inhagóia, periferia da cidade de Maputo. Ele é um dos investigadores que dirijo na pesquisa sobre linchamentos em Maputo.

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