O que é uma essência? Uma essência é a propriedade primária, básica, imutável, de algo, de uma coisa, de um fenómeno.
Alguns exemplos agora, prepositadamente caóticos e algo irónicos: a água é H2O, os homens são homens, o Sr. Jossande é homem, as mulheres são mulheres, cozinhar é tarefa de mulheres, fazer a guerra é tarefa dos homens, a Sra. Josseja é mulher, a vida é complicada, os dumba nengues são desorganizados, os Makondes são orgulhosos, os mistos são ladrões de automóveis, os habitantes do Centro/Norte são atrasados, os brasileiros são bons futebolistas, os membros da Frelimo são comunistas, os membros da Renamo são desordeiros, os Indianos são comerciantes, os Franceses são frios, os Mandau são os reis do mvukwa, os Ajaua não gostam de estudar, os Massena são confusos, etc., etc.
Através de alguns fragmentos de carácter, com o empurrão da nossa majestática intuição, construímos grandes conjuntos de categorias e de atributos irremediáveis com os quais nos orientamos na vida.
Todos os nossos processos de conhecimento buscam domesticar o diferente e tornar os fenómenos coisas conhecidas e estáveis. Somos o scanner sem fim do senso-comum.
E ao fazê-lo, convencemo-nos de que o fazemos independentemente das nossas categorias de pensamento. Essencializar é a nossa essência.
E essencializamos todos os dias. Os verbos, especialmente no presente do indicativo e no infinitivo, são veículos por excelência do essencialismo.
7 comentários:
Neste seu reflectir, como destigue essencialismo de preconceito e esteriotipo?
Tentarei uma resposta mais logo, quando estiver em casa, está bem?
Vamos lá, então, tentar uma pequena resposta. Assumo, por hipótese, que todos os processos cognitivos se destinam a reter o estável no instável, a dar-nos uma viagem o mais calma possível na estrada do conhecido face às inúmeras estradas de desconhecidos e desconhecidas. Uma viagem anti-bergsoniana.Ora, é em meio a esse fundo, a esse lastro, que, damos curso à forma distorcida de ver e de ler os outros. No fundo é o mesmo processo, quero crer, um processo mais consciente, digamos assim. Quando digo, por exemplo, que os Franceses são frios e orgulhosos, eu parto do meu (nosso) lastro "natural" de essências para, a partir de alguns fragmentos, reais ou imaginários, préfigurar um conjunto essencial com o qual me dou (nos damos) bem. Digamos, por hipótese, que o conjunto de mecanismos pelos quais transfiguramos pessoas e coisas mais não é do que uma essencialização exacerbada (a um tempo necessária e belicosa), tão mais exacerbada quanto mais intensos forem, por exemplo, a luta, o ódio, a inveja, a luta por recursos raros, o sofrimento, etc. Repare que estou a usar termos "essenciais", essencialmente "naturais". Finalmente, tenho a certeza de que o que aqui deixo é precário. E, especialmente, muito anti-sociológico.
Entendo, creio... concordo, penso... Tambem penso que no essencialismo contem-se todas as simplificacoes de descricao e percepcao... mas creio que tambem ha uma desticao entre o essencialismo cientifico e o essencialismo 'lugar-comum'... as vezes ser-se analista social nao nos livra de sermos humanos. Mantemos os nossos 'instintos' mas sofisticados e camuflados sob o manto da ciencia...
Uma curta observação sobre o que escreveu, la strega: o essencialismo científico, sempre predador, mais não é do que um senso-comum mais rigoroso. E tem absolutamente razão sobre o nosso saco de instintos camuflados. Bem sabe quanto nós, os "cientistas sociais", amamos pensar à Newton no preciso momento em que somos tão seres humanos quanto as nossas cobaias. Tenho escrito bastante, como sabe, sobre os nossos pruridos, sobre a doença infantil dos aspirantes sociais newtonianos.
Os indivíduos vivem em grupo,usam estigmas para poder atingir a hegemonia na raça, cultura,em suma na vida social. É notável o etnocentrismo em todas categorias,visto que o homem é filósofo por natureza.
essencialismo se diferencia em quais pontos do construtivismo social em sí?
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