"Para quem tem a felicidade de não saber, nos anos oitenta, formava-se bicha para o pão. Formava-se outra para o açúcar. Outra para o sal. Outra para o repolho. Outra, ainda para o nada. A bicha do nada é aquela que se formava à porta de uma loja sem se saber para quê.. Quando se perguntasse aos primeiros da fila o que é que se estava para vender na tal loja, a resposta era, “eu também não sei. Só vi pessoas a formarem e, formei!” Passadas algumas horas, o dono da loja ou um membro da comissão de organização de bichas aparecia a anunciar que ali não havia nada à venda. Desfazia-se a bicha do nada.
As bichas formavam-se ainda antes da madrugada. Usava-se pedras e cestos velhos ou latas dos vira-latas para as marcar. Encontrava-se cinco pedras enfiladas. Lá para as quatro da manhã, aquelas pedras eram substituídas por dezenas de pessoas. Aí era a esperteza que mais-valia. É o que lembram os espertos das bichas dos barcos da Catembe. Vê-se logo quem foi veterano das bichas dos anos oitenta. Não formam bicha. Já são quarentões e cinquentões. O hábito ficou. É a herança do seu passado. Não são culpados. São o testemunho da história social deste país, sempre em mudanças. Parar é morrer. Andar é pior." - leia o texto completo aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
3 comentários:
Tambem eu andei a bichar nos tempos. Um quilo de carne por semana, lembra?
Podem, por favor me informar o que é bicha? Aqui em Brasil, Bicha é sinônimo de gay. O que não é o mesmo pelo que pude observar no texto.Fiquei curiosa...
Bicha é uma fila organizada. Bichar=fazer bicha
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