Nos bairros periféricos da cidade de Maputo, aqueles que os seus habitantes consideram ser meliantes são divididos em duas categorias: o muhive (plural=vahive) e o ninja.
O muhive é aquele que não actua imediatamente com violência, aquele que, por exemplo, verte água na soleira da porta de uma casa para que alguém a abra e ele execute, então, o "serviço". Portanto, um malfeitor digamos que pré-mau.
Ao contrário, o ninja é o mau imediato, instantâneo, aquele que fere, esfaqueia, mata, viola.
E assim, por este acto classificatório, as pessoas iniciam um primeiro acto emancipador, libertando-se, pela etiquetagem atenta, daquilo que as magoa. Desvahiveam-se, desninjam-se.
Este dado surgiu quando a equipa da Unidade de Diagnóstico Social trabalhava ouvindo moradores dos bairros periféricos da cidade de Maputo a propósito dos linchamentos, em pesquisa que prossegue.
Ora, aquilo que surge como banal na vida das pessoas que usam esses termos, já não é banal para quem os estuda, para mim, por exemplo.
E aqui está o fascínio do estudo: a colectivização do conhecimento do conhecimento, a surpresa enxertada na rotina.
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Por favor, corrijam-me caso eu esteja enganado.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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