Cólera e desacatos

Em artigo de opinião, Paulo Jossias, colaborador permanente do "Magazine Independente", escreveu sobre o que intitulou ser "falha de comunicação" no combate à cólera. As brigadas de saúde chegam, montam o acampamento na comunidade ou reforçam a unitária sanitária local, promovem o tratamento das fontes de água mediante cloro e reforçam as medidas de saneamento ambiental comunitário. O problema, segundo Jossias, é que medidas boas são trazidas por pessoas não pertencentes à comunidade. Deviam ser os líderes tradicionais locais quer a desinfectar a água com cloro, quer a explicar que, apesar da semelhança fonética e gráfica, cloro não é cólera - sustenta. Como isto não é feito, as brigadas de saúde são atacadas e acusadas de contaminar a água - conclui. Tenho para mim que as causas da crença são bem mais complexas do que pensa Jossias, tal como procurei mostrar num livro datado de 2003 (capa ao lado), acrescendo que os líderes tradicionais há anos que participam quer nas campanhas de prevenção quer nas de consciencialização sobre a diferença entre cloro e cólera. Mas isso não é o fundamental no interessante trabalho de Jossias, o fundamental para mim está aqui: "Apanhado em contrapé, o governo, ao invés de identificar as causas do seu falhanço no combate à cólera, desvia a atenção da opinião pública com acusações da existência de possíveis manipulação e aproveitamento políticos da oposição, o que é mau e não ajuda na resolução do problema." (edição de 10/03/2010, p. 6)