Os heróis oficialmente conhecidos em Moçambique são aqueles que a Frelimo, partido gestor do Estado desde 1975, decretou como tais.
São heróis que operaram no interior de um processo histórico: o da luta de libertação nacional a partir de 1962.
Que operaram e que foram definidos no interior de ideais e de virtudes produzidas pela liderança hegemónica da Frelimo. Ideais e virtudes que os produziram com exclusão daqueles que foram considerados traidores.
São pessoas a quem o grupo dirigente da Frelimo atribuiu virtudes extraordinárias em seu papel de pais fundadores e de pais executores da gesta nacionalista e revolucionária, são pessoas que foram consideradas excepcionais na concepção e na implementação dos programas que permitiram que a independência nacional fosse alcançada.
São heróis definidos no interior de uma luta política e militar contra opositores externos (coloniais) e internos da frente de libertação.
Os restos mortais desses heróis estão na Praça dos Heróis.
Existem pessoas que não estão nessa Praça, cujo estatuto foi, certamente, considerado menos relevante ou menos decisivo, mas que têm os seus nomes em ruas e em praças do país.
Na Praça dos Heróis estão, porém, os restos mortais de duas pessoas que não fizeram directamente a caminhada da luta armada, mas cuja grandeza como poeta um, como maestro outro, como patriotas ambos, levaram a Frelimo a dar-lhes o estatuto de heróis. Trata-se de José Craveirinha e de Justino Chemane. São as excepções.
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Espero que me corrijam caso eu tenha cometido erros no quadro traçado.
9 comentários:
Professor, outra excepção, pelos mesmos motivos que José Craveirinha, é o maestro Justino Chemane, não?
Fátima Ribeiro
Mas está Justino Chemane na Praça dos Heróis? Vou tentar apurar. Muito obrigado!
Segundo o "Moçambique para todos", no artigo "Dia dos heróis marcado pela polémica sobre a atribuição do título", de 04.02.2006, "Até agora, no panteão do regime apenas estão destacados dirigentes da FRELIMO, como os seus primeiros presidentes, Mondlane e Samora Machel, ou 'compagnons de route' do partido que lançou a luta anti-colonial contra Portugal, como o poeta José Craveirinha e o maestro Justino Chemane."
Fátima Ribeiro
O "Moçambique para todos" refere o NOTÍCIAS LUSÓFONAS (03.02.2006) como fonte do artigo que atrás citei.
Fátima Ribeiro
Confirmei e corrigi. Muito obrigado!
Acho prof. que as suas últimas reflexões colocaram alguns dos argumentos e exemplos que revelam bem a ambiguidade da “função social” do heroi . E aquí volto à relação “feito/valor” a que me referi na parte (2). Não tenho grandes dificultades de aceitar os herois da luta de libertação nacional,ainda que escolhidos en condições de conflitualidade e de autoritarismo polticico,justamente pelo “valor” fundador dos seus feitos. Pela mesma razão não me incomoda muito a que a André Matsangaíssa lhe seja reconhecida a heroicidade/feito de se inssurgir contra o regime totalitário que vigorou no nosso país de 75 a 94 - quantos de nós, que agora beneficiamos das libertades democráticas, saiu então à rua para dizer “não”? E no “nós” incluo a quase totalidade dos intelectuais,académicos, artistas,jornalistas,técnicos superiores,empresários,activistas cívicos e outros,que são hoje a “nata” do país. Craveirinha está plenamente justificado,como espero que, a seu dia,será também Malagata. Homens que sem dúvida alguna souberam cristalizar o “génio” artistico moçambicano e aí reside o “valor” dos seus feitos. Exemplos apenas para insistir que o problema não está no “quem escolhe/elege/reconhece o heroi” - porque afinal acaba sendo sempre uma autoridade reconhecida - monarca,Estado,direcção de um partido,etc – mas no “porquê e como se escolhe/elege/reconhece” um heroi. Esta última questão remete-nos aos “valores” e ao consenso indespensáveis à eleição. E é precisamente a fragilidade destes dois elementos na nossa sociedade que “stressam” o debate,politiza a escolha e acaba por ser frustrante para o nosso amor-próprio nacional. Creio que seria melhor mesmo ,insisto na ideia do tempo, que se decida,por exemplo,que só serão propostas figuras para o titulo de heroi em datas cinquentenárias (2025) e centenárias (2075) . O que não impediria que cidadãos,grupos de cidadãos,depositassem entretanto os nomes dos seus candidatos.As universidades, os serviços culturais do Estado,as associações cívicas e outros, estarão aí para contribuir para os aosconsensos. E fico por enquanto por aquí…
Aguarde que eu prossiga a série...Mas é importante o que escreveu.
Professor, 'a este assunto se extende a questao da atribuicao de ti'tulos honori'ficos. Sendo algue'm nao simpatizante ou membro da Frelimo como muitos de no's do centro e norte de Mozambique, penso que sera' com muita suspeita ou relutancia receber uma medalha EDUARDO MONDLANE do 1o Grau ou Nachingueiwa que a FRELIMO reserva apenas ao seus membros. Mas a noticia ca' fora, propalada pelos canais oficiais noticiosos como e' o Noticias e RM, soa como se fosse para no's todos. Pois nao e'! Qual e' a sua reflexao sobre o assunto? Antecipadamente agradec. Dede
Olha Sr. PROF. DR. SERRA
Esta pagina tenho visitado incontaveis vezes por simples razao , os debates sao muito interresantes , sobre a heroicidade deixo aqui um pequeno contributo: Se MATSANGAISSA , DHLAKAMA e tAntos outros PERDIGOES , entao Os NIQUINHOS , MANDONGAS tambem o sao HEROIS.
Apenas isso
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