17 fevereiro 2011

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local: 
* Genéricos: Diversos
* Séries pessoais: A teoria do pão (4); A cada um segundo as suas necessidades, a cada um segundo o seu Samora (9); O fim dos segredos, dos silêncios e das distâncias (6); O princípio da história (8); À mão a comida tem melhor gosto (7); Da cólera nosológica à cólera social (9); Notas sobre eleições (12); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (47); África enquanto produção cognitiva (21); Política enquanto produção de ideologia (6); Linchar à luz do dia: como analisar? (5) Somos natureza (8); Indicadores suspeitos e comoção popular (11); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (8); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (12); Já nos descolonizámos? (13); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

2 comentários:

ricardo disse...

Perdoa-me, Luanda...

Perguntam-me sempre porque deixei de viver em Luanda. Dou sempre a mesma resposta.

Cansei! Da falta de energia, de andar atrás de camiões cisternas para ter água em casa, cansei das filas intermináveis no trânsito, dos corruptos, da discriminação contra mulatos (segundo algumas pessoas, todas de pele negra..., os mulatos são muito armados e geralmente ricos, por isso, merecem ser maltratados).

Cansei das discotecas com porteiros negros e que me deixavam entrar a mim mas, barravam as minhas amigas negras, porque "mulata atrai". Complexados!
Cansei dos mal educados da DEFA, do gerador velho que todas as semanas avariava, de não me venderem combustível para o gerador nas bombas, "porque não se vende". Ai sim?

Num país que tem cortes de energia diários, onde os alimentos cheiram a mofo nos frigoríficos porque mesmo quando há energia eléctrica ela não chega para arrancar alguns electrodomésticos.

Cansei dos vaidosos, que moram no musseque e andam de Prado, que vivem de aparências, são 'mobília de muitos clubs' mas, comem funge 7 vezes por semana, não por escolha mas, para poupar para festas de 100 dólares.
Pessoas que nunca te convidam para as suas casas, marcam encontros em grandes restaurantes porque, na realidade, têm vergonha das próprias casas.

Cansei da exploração, quem trabalha sem preguiça e tem dois palmos de testa é para ser explorado ao máximo e, fazer o trabalho de 5 pois a Lei do
trabalho - como muitas outras - foi engavetada e comida por ratos, cansei também das professoras do Infantário que ensinam "Ou me matam ou quê" aos putos. Cansei.

Assim, em Dezembro passado voltei para casa.
Onde somos mais pobres, onde diamante não se vê nem em montras de lojas, onde não temos um único centro comercial, onde há poucos carros de luxo ainda a circular mas, as pessoas moram em casas a sério e não ganham 4 mil dólares, nem perto disso. Ganho quatro vezes menos do que ganhava lá mas, vivo quatro vezes melhor.

Tenho saudades e volto com certeza - se não virar persona non grata depois deste post - mas, a passeio. Quero rever o mussulo, ouvir boa música no
'Domingo Vivo' do Miami, comer o peixinho grelhado da Chicala, percorrer os corredores do Belas, falar crioulo na Praça do São Paulo, rever amigos e visitar Benguela, Lobito e Lubango. Visitar Porto Amboim e Huambo e matar saudades do português cantado dos angolanos.

Saudades sim e, muita pena de ver angolanos da South ou dos States falarem mal do seu país no facebook enquanto demoram 15 anos a fazer um curso superior no estrangeiro.

Enquanto lá estive dei o meu humilde contributo para o desenvolvimento daquele país. Ensinei primeiro no Ispra e depois na UnIA tudo o que me
tinham ensinado a mim sobre jornalismo, corrigi erros ortográficos crassos a jovens e adultos mais velhos do que eu, dei sermões e fui apelidada de
'chata' por alguns alunos (outros preferiam amenizar a ofensa e chamavam-me 'a competente') mas, puxei por eles e vi muitos progredirem e serem eles agora os contribuintes para o desenvolvimento económico e social das terras de Agostinho Neto. Apresentadores de TV, artistas de teatro, realizadores de cinema, jornalistas e até misses ficaram com um pouco do melhor que eu tenho para dar.E ainda ajudei a fundar o primeiro canal de televisão privado do país e agora acompanho a sua degradação ao longe por incompetência de gestão.
Chegou a hora de ajudar o meu país e, ser mais feliz.

Perdoa-me Luanda porque não aguentei mas, aprendi a amar-te como és e a desejar dias melhores para ti.

P.S1 : A autora deste texto pediu anonimato

P.S. 2: Morreu no dia 10/02/2011, Carlos Adriao Rodrigues, ex-vice governador do Banco de Mocambique

P.S. 3: Professor, o que sera feito do sr. umBhalane?

Carlos Serra disse...

O Sr. umnBhalane acho que se aborreceu com algo que lhe disse. Não há problemas.