03 março 2010

Indigenização no Zimbabwe

No Zimbabwe está desde segunda-feira em vigor a lei da indigenização, pela qual as companhias estrangeiras são obrigadas a vender 51% das suas acções a cidadãos negros. O ministro Savious Kasukuwere afirmou que “Seria uma tragédia a vida de 14 milhões de habitantes estar nas mãos de um pequeno grupo de pessoas”. Por sua vez, o presidente da Confederação dos Sindicatos do Zimbabwe, Lovemore Matombo, disse que “apesar de o princípio da lei ser louvável, tememos que isso possa conduzir a criação de uma minoria de negros que se vai limitar a substituir a minoria branca”. A conferir aqui e aqui.
Entretanto, sobre a lei, sugiro a leitura de um debate moderado por Violet Gonda no The African Executive, com a participação do empresário Mutumwa Mawere, do economista Daniel Ndlela, do presidente do Grupo de Acção Afirmativa, Supa Mandiwanzira, e do jornalista Peta Thornycroft. Aqui. Free Translation
Adenda: no Zimbabwe parece não existir possibilidade de cidadãos brancos serem considerados zimbabweanos. Finalmente, recordo a minha série com o título Racializar o social, aqui.

11 comentários:

JOSÉ disse...

A parte mais controversa desta Lei é que a maioria das acções tem de estar na posse de cidadãos negros. Não faz referencia a cidadãos zimbabweanos mas sim a cidadãos negros, e isto levanta questões. Os cidadãos brancos não são zimbabweanos? Este é mais um passo da limpeza étnica?

micas disse...

Bem visto José.

E já agora eu que devo andar distraída...quais os negros que compram? Com que dinheiro?

Bom...serão os mesmo de sempre dirão alguns.Os SENHORES do poder.

Grande lei de um grande Mugabe para um grande país....

Cheira-me a mais um capítulo igual ao da expropriação das terras....está visto que branco não pode ser cidadão nacional.

ricardo disse...

Faz cerca de 20 anos...que num país vizinho do Zimbabwe, a LEI discriminava tambem Brancos e Negros.

Com uma diferença. Os negros é que eram discriminados.

E houve sanções. E houve passeatas. E houve luta armada.

O que haverá desta vez?

Canto do Cisne em Harare. Ultima proposta de "Franz Schubert" Mugabe.

Viriato Dias disse...

Eu não sou contra os brancos. Creio que Mugabe nunca disse, pelo menos abertamente, que era contra os brancos. Todos os branos nascidos no Zimbabué são naturalmente zimbabueanos. Nunca esteve em causa este facto. Nenhum branco, salvo raras excepções, que cumpriu com as leis estabelecidas pela justiça zimbabueana foi expulso do Zimbabué. Meu cunhado, de origem belga, permaneceu no Zimbabué até muito recentemente, nunca foi expulso de lá.

O que está em causa, porém, é a distribuição equitativa da riqueza nacional, coisa que está escrito no Acordo de Lancaster House, ignorado desde sempre pela Inglaterra. Ainda ontem, num outro post, me referi a uma série de documentos disponíveis na biblioteca da UE, em Bruxelas, sobre este acordo e demais documentos. Não é de estranhar que medidas como estas venham à tona hoje, porquanto está escrito e acordado entre as partes signatárias desses acordos. Isto por um lado.

Por outro lado, esta lei deve ser interpretada como “a grande revolução” que a Frelimo fez em 1974/75, incluindo as nacionalizações e o 24/24. Embora tardia, esta medida, terá feito desejável para aquilo que são os anseios do governo zimbabueano liderado por Robert Mugabe, com as quais eu concordo plenamente. Não concordo que os indivíduos de raça branca, só por sim, tenham terras do tamanho de Bruxelas, quando milhares de negros contenta-se com uma parcela do tamanho de uma cela de polícia. É injusto. Como também é injusto que os capitais financeiros das grandes empresas estejam única e maioritariamente nas mãos dos brancos. Já Hugo Chávez, na Venezuela, adoptara esta política.

Portanto, os pronunciamentos do ministro Savious Kasukuwere não só são felizes como justo. Quero aqui lembrar que os negros na Europa não tem as mesmas facilidades que os brancos em África, particularmente no Zimbabué. Edgar Morin, um especialista que admiro, escreveu o seguinte: “Este mesmo dois pesos e duas medidas faz com que recusemos o acesso à Europa aos africanos dos países que explorámos durante a colonização e que são sobre explorados pelas nossas instalações económicas. MEDIMOS AO CONTA-GOTAS O ACESSO DOS LATINO-AMERICANOS ENQUANTO QUE, DURANTE TRÊS SÉCULOS, OS MISERÁVEIS DA EUROPA PUDERAM EMIGRAR EM MASSA PARA AS AMÉRICAS.” O destaque o texto é meu.

Zicomo

PS: Não respondo a anónimo. Se eventualmente alguém me queira responde, que seja frontal e destemido, tal como faço.

Anónimo disse...

hehehehehehehehehehhe...pavão sem asas

Tóxico

Alvaro disse...

Diga-me então Viriato, pessoas de raça branca não têm direito a comprar as acções, mesmo sendo zimbabweanos? Peca esta lei por limitá-la aos pretos quando há brancos nascidos e crescidos naquele país. E quanto aos pretos, tendo em conta a actual situação financeira dos negros após todas as crises que o país enfrenta, aliadas à crise mundial, diga-me quantos zimbabweanos comuns têm capacidade monetária para responder a essa oferta? Não será essa uma forma de introduzir o Mugabe e seu camaradas nessas multinacionais? Esclareça-me, por favor!

Anónimo disse...

quero ver quem vai querer investir num País com estas premissas absolutamente racistas....
e mais,parece-me que depois das farm's este passo é pura e simplesmente para arrancar da mão dos brancos que há muito estão no Zim as suas fábricas,indústrias etc...
Tubarões que não têm a capacidade de criar ,querem se refastelar no banquete do menor esforço,ou seja comer o que não plantaram...é uma vergonha,mas o tempo se encarregará de julgar estes abutres.
Criar,inventar,planear de raiz ,não!!!!
...mais fácil abocanhar o que já está feito!!!!
só a clic do poder tem possibilidade de entrar neste filme,ou seja uma oligarquia se presta a tomar conta do Zim...não o seu povo,pois que eu saiba o governo não vai financiar o cidadão comum a pagar os 51%

Tóxico
PS )aviso já que não respondo a homofóbicos,apologistas de regimes ditatoriais e racistas,que se democratizem tal como eu se quiserem que eu responda

umBhalane disse...

Pois é.

E desde quando é que os brancos foram REALMEMTE considerados cidadãos de pleno direito, e em igualdade, como os cidadãos negros?

NUNCA.

Acordaram agora?

Assimilados, cidadãos de
2ª, mal tolerados, e sobreviventes, talvez graças aos doadores, quiçá como "amostra" de algo passível de moeda de troca...

E não é preciso ser nenhum doutorado, "académico", para verificar tudo isso, e mais...

E nem para mim nem é assunto passível de discusssão, sendo um problema essencialmente dos brancos "cidadãos" de estados africanos - problema de foro individual, seu / deles.

Cada um come do que quer, e do que gosta, e ninguém tem nada a ver com isso.

Deixa-andar.

Viriato Dias disse...

Porque é que quando o governo do Zimbabwe lança uma ofensiva, ou aprova uma lei, no caso vertente, pensa-se logo que Mugabe e do seu partido, a ZANU, são os únicos a tira partido de tudo, como se tal fosse verdade?

Uma carga de críticas é feita sempre que pequenas precipitações abala o Zimbabwe. Felizmente, Mugabe já percebeu que é um homem mal amado, odiado, o pior de tudo, vítima do destino.

Fijamo, meu ídolo, fala do homem desta forma: "O Homem é mau. O Homem não é amigo do outro homem. Na igualdade de valores os homens parecem amigos. Mnetira. Toleram-se. Nestas condições, quando entre eles, um começa a fraquejar, o outro se entumece de vaidade e não oferece ao amigo infeliz o seu frasco de tónico reconfortante, pelo menos, um bocadinho. O Home, meu filho, nem perdoar sabe! Embora peça sempre ao seu pai para lhe perdoar como ele perdoa...aos que ele tem ofendido." Agora estás a ver Mugabe, pergunto eu? Onde estão os indomáveis que tinhas como amigo?

Zicomo

Anónimo disse...

há coisas mesmo dificeis de defender... Mesmo para os fanaticos...
MF

Alvaro disse...

Muito dificil mesmo, meu caro MF, muito dificil...!!!