14 outubro 2008

O que significa a detenção de Manhenje? (4) (fim)

O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores."- Samora Machel
Vou dar fim a esta série.
No número anterior, escrevi que, de forma dispersa ou concentrada, de per si ou acopladas, visíveis ou escondidas nas entrelinhas, três hipóteses parecem emergir em diversos quadrantes para explicar o fenómeno tsunami da operação: pressão dos doadores, estratégia múltipla de uma Frelimo vizinha das eleições e luta inter-elites.
Acrescentei que uma hipótese muito menos considerada publicamente diz respeito ao possível esforço autónomo e genuíno da PGR no sentido de um combate declarado à corrupção.
E aqui está um ponto central: pela primeira vez na história do país, temos um PGR visivelmente na frente do combate, interventiva, seja quais forem os níveis e os casos que quisermos ter em conta. Tenho para mim que não é possível recusar à PGR autonomia no combate.
O que está agora em causa não é a presunção de inocência de A ou B, mas o o enorme rombo financeiro ocorrido no Ministério do Interior, num momento em que a imprensa noticia indícios de rombalheira em outros sectores. A ou B podem estar inocentes, mas o rombo existiu e nada tem de inocente. A detenção de Manhenje e de outros significa que a PGR passou das declarações aos actos, da defesa ao ataque, da lamúria parlamentar à acção.
Creio que a PGR vai continuar a operar nessas e em outras mais frentes num momento em que parece estar em curso uma resamorização do Estado. Ora, isso exige muita coragem, uma imensa coragem para fazer face às múltiplas redes de patronagem e clientelismo político e à espessura da inércia de muitos anos.

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