17 outubro 2008

Nosso ensino "está em baixo"

Faz muito que não surgia um editorial no "Notícias". Surgiu hoje. Mas não só surgiu: surgiu agressivo, batendo na mouche. O que diz esse editorial? Diz que o nível de ensino no nosso país "está em baixo" (sic). A nível quer da língua oficial quer da cultura geral, cometem-se barbaridades, mesmo entre aqueles que se formaram em universidades. O editorial vai mesmo mais longe: afirma estar aflito com o facto de "altos responsáveis do sector da Educação" furtarem-se de forma sistemática "a aceitar que o nosso nível de ensino baixou. No lugar de se colocarem constantemente na defensiva, deveriam escutar a voz da sociedade e procurar o remédio para a doença."
Observação: aqui está um tema que poderá levar certos apostoleiros da graça permanente - muito aguerridos e vistosos na praça - a acusar o jornal de fazer coro com os apostoleiros da desgraça. Mas enfim: como um dia escreveu o escritor congolês Henri Lopes, “Nenhuma sociedade progrediu sem fazer a sua própria crítica, sem que os seus criadores e pensadores se metessem contra a corrente dos bem-pensantes (…) África tem necessidade de imprecadores.”

19 comentários:

Lisa disse...

Juste passé pour vous desirer une bonne et douce nuit

Lisa

Carlos Serra disse...

Un très grand merci, Lisa, pareillement.

Salvador Langa disse...

Finalmente quem diga de frente as coisas e logo esse jornal...

Anónimo disse...

E todo o mundo já se esqueceu que há bem pouco tempo ainda falavam em centros de excelência!!!
Mas aguardemos que quanto a deterioração da qualidade a procissão ainda vai no adro.
M.

Anónimo disse...

Estou a mexer e remexer o Notícias de ontem (16) e não encontro nenhum editorial. Pode confirmar por favor a referência?

Anónimo disse...

Já encontrei o editorial. Acho que o professor deve alterar a indicação de hora nas postagens porque induz em erro. Ainda não é meio dia, e esta já tem a indicação de 12:01:00.

Carlos Serra disse...

Bem, coloquei a postagem um minuto depois da meia-noite de hoje...Trata-se do jornal de hoje, dia 17. Por outro lado, acabo de verificar que o editorial aparece com o título "opinião" em cima e, logo a seguir, com o de "editorial". Ainda não pude ter acesso à versão impressa.

Anónimo disse...

Prof.
É editorial mesmo, tenho a edição impressa.
È espectacular vindo do matutino oficioso, será p+or causa das ELEIÇÕES que se aproximam????

Carlos Serra disse...

Sim, acabo de ter acesso à versão escrita. Obrigado. Bem, a única coisa que lhe posso dizer da minha experiência de jornalista nos anos 70 é que um editorial pode ser escrito por alguém fora da redacção. No meu tempo, isso acontecia quase sempre.

Anónimo disse...

Acabei de ler o Editorial.

Estou com algumas dúvidas quanto às comparações e as razões evocadas para se chegar à conclusão de que "o nível de ensino no nosso país está em baixo"

Orá, posso concordar com alguns estudos feitos em Moçambique sobre educação (ensino). refiro me à Estatuto E Axiologia da Educação do Moçambicano Severino Elías Ngoenha; GOLIAS, Manuel. Sistemas de educação em Moçambique: Passado e Presente; Editora Escolar, Republica de Moçambique. 1993; MAZULA, Brasão, Educação Cultura e Ideologia em Moçambique: 1975-1985. 1995; etc

Estas referências levantam questões de fundo do SNE e que alguns já estam a ser ultrapassados. Veja que nesses estudos, em nenhum deles mostra qualidade de ensino de um período em relação ao outro porque cada período indentifica-se com os seus próprios problemas. Portanto essa de antes acontecia isto agora não, só se isso for o único indicador de eficiência e eficácia do nosso ensino!

"...há formados em universidades nacionais, que nunca viveram fora do país, a atropelarem a língua oficial"

Não sei de que quadros se refere em termos cronológicos? se são formados na erra colonial, logo depois da independênia? dentro do quadro do famoso novo Sistema ou no redicularizado novo currículo que muinto antes da sua implementação já está sendo avaliado!

Professor, este assunto é complexo porque os antigamente formados quando erram é porque a educação nesse época não era para todos quando erra o jovem é SNE em causa.

E os professores defendem reprovações massiças para melhorar o ensino!... há que racionalizar as reflexões a este nível

abraços

Anónimo disse...

Acho que o MEC deve ter agora uma definição muito própria de analfabetismo. Em Moçambique, "analfabeto" talvez já signifique "indivíduo que não sabe ler nem fazer contas, mesmo tendo o ensino primário".

Ironias à parte, acho que é isso mesmo que podemos estar a fazer. Escudados pela bem intencionada, em teoria, "Educação para todos até ao ano 2015", estamos a criar um exército de analfabetos de 5ª classe. Um analfabetismo que custa milhões e milhões ao orçamento de Estado. Será isso mais "inclusivo", mais "empoderador", mais "justo"? Virá reduzir a pobreza?

Uma coisa é verdade: com os novos modelos de formação de professores (habilitações de base inferiores, tempo reduzido de formação específica para o ensino, currículos feitos à pressa, etc, etc.); de passagens dos alunos (passagens automáticas) e de elaboração de exames (perguntas de escolha mútua, com as quais, mesmo respondendo ao acaso, 25% de aprovações estão já garantidas) vamos sem dúvida reduzir o tão falado "insucesso escolar" (na definição vigente, puramente quantitativa), razão primeira para todas as mudanças que foram feitas no sistema.

Na prática, o que teremos serão analfabetos de 7ª classe e mínimamente letrados de 10ª e 12ª classe. Será este o objectivo final?

(Aqui não há qualquer comparação com o tempo colonial. É pura e simplesmente uma constatação do que temos presentemente. Só não o vê quem não quer. E todos nós somos responsáveis pelo actual estado de coisas por nem sequer as contestamos)

Anónimo disse...

A solucao e simples e o ministro da educacao foi claro, os professores devem ter 100% de aproveitamento porque nenhum encarregado manda seu filho para chumbar. O padre que da missas na UEM mostrou a sua veia apaixonada e disse para quem quis ouvir na graduacao do inicio do ano entram 100 e saem 100, e assim que sera. Vejam os carniceiros chamados medicos que vai formar na medicina com o famoso PBL baseado em um unico manual. Era assim em Nachingweia e a respota do padre reitor. Samora dizia e preciso educar o povo para que ele tome o poder, hoje querem fazer o povo burro e ainda dizem que seguem o legado de Machel.

Anónimo disse...

Tudo se pode resumir assim:
"A comunidade Internacional", os "doadores" são responsáveis por forçarem desmedidamente à quantidade.
O Governo é responsável por aceitá-lo submissamente e o amplificar demagogica e oportunistamente.
Os media, os intelectuais, a massa crítica são responsáveis por não o questionarem.
Os professores e os encarregados de educação são responsáveis por tudo aceitarem sem protestar.
Os alunos são as vítimas imediatas disto tudo e, em última análise, é tenebroso o futuro do país.

Carlos Serra disse...

De qualquer das formas, o editorial do "Notícias" é importante por surgir como surgiu e agora, pouco tempo depois de uma afirmação similar do ministro Aly.

Anónimo disse...

Mas não foi o Ministro que aprovou e continua a aprovar todas estas medidas que estão a levar o sistema aceleradamente à bancarrota?

Anónimo disse...

Nao concordo com "A comunidade Internacional", os "doadores" são responsáveis por forçarem desmedidamente à quantidade. e
Os media, os intelectuais, a massa crítica são responsáveis por não o questionarem. Se estiver atento vera que existem docentes na UEM ameacados. Ha pouco foi exonerado o director do ensino superior no MEC, tudo por estar contra o escangalhamento do ensino. Nunca faltou aviso e o padre couto quando era acessor muitas vezes ameacou no MEC pessoas que nao concordavam com as suas iniciativas escangalhadoras, andava ate com lista de nomes. O governo e o unico responsavel desse acidente que ainda vai crescer.

Anónimo disse...

É verdade que há quem critique e tome posição, mas esses são muito, muito poucos. São a excepção que faz a regra. Vêm-se seminários com mais de uma centena de participantes praticamente sem vozes críticas.
A própria comunicação social reage muito pouco. Houve há dias um seminário ou acção de informação/formação do género em que os jornalistas foram "capacitados" para dar notícias sobre a educação, sobre o sistema de ensino e as inovações introduzidas. Não sei o que isso quererá dizer, mas espero bem que não tenha sido para fazê-los aceitar o inaceitável.
Desejo também que este toque do "Notícias" seja indício de viragem. Já chega de letargia, se não, aonde é que vamos parar?
No futuro, teremos técnicos bons e minimamente aceitáveis, sim senhor: só os poucos privilegiados que podem estudar em Oxford, em Lisboa, no Cabo, no Brasil. Teremos cada vez mais conselheiros e um sector privado crescente com portugueses, sul-africanos, brasileiros, chineses, talvez zimbabweanos e congoleses... e os da assistência técnica internacional. E o moçambicano comum, que expectativas poderá ter? Será isso que queremos?

Anónimo disse...

E isso que querem, veja onde estudam os filhos deles. A essa altura os filhos dos pobres nao haode saber ler nem escrever so poderao serem empregados dos filhos deles que estudam em Lisbos, Oxford, Cabo, Brasil, exploracao legitima. Faca uma lista de filhos de directores nacionais para cima que estudam em Mocambique, e ver donde sai dinheiro que paga essas escolas.

Anónimo disse...

Alo anonimo. Primeiro voce deve deixar de ser cobarde e falar dos assuntos como o Serra o faz, sem esconder o nome. Penso que tens razao emmuitos aspectos que referes, mas reages nuito emocionalmente, como se de uma materia facil fosse. O Director do Ensino Superior nao foi exonerado pelos motivos que referes. Isto vai mais pela fofoca, e o meu professor Serra nao anda nestas coisas.
Penso que trata-se de um debate serio, sobre o ensino, mas precisamos de debater questoes e nao fofocas.

Nota: a falta nas acentuacoes tem a ver com o meu teclado. desculpas.
mas avante ao debate.

J. Mendes