04 janeiro 2007

Os bem-amados fumos seiscentistas

"(...) o tempo q lhe concedem, q não he mais senão emq.to tem que gastar (...)"

Escrevendo para o rei português em 1648, o então capitão de Sena, Francisco Figueira de Almeida, afirmou que no antigo Império de Muenemutapua (ou Mwenemutapwa ou Munhumutapwa, como queiram, escolhei a grafia), as povoações (muzindas) tinham chefes chamados fumos ou encosses, todos dependentes de um mambo.
Os fumos eram eleitos entre os que mais posses tinham localmente. O seu reinado durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Eram obrigados a tudo gastar: comida, pombe, jóias, tecidos, etc. Quando nada mais lhes restasse, eram distituídos e passavam a pertencer ao grupo dos grandes por mérito, com direito ao uso de um chapéu de palha e de um bordão.
Imaginai se a história se repetisse e se os nossos chefes actuais, certamente de bem mais posses que os fumos, fossem obrigados a inscrever-se na regras seiscentistas das antigas muzindas.
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Consulte: Almeida, Francisco Figueira de, Carta q Franc.co Figr.ª de Almeida, Capitam de Sena, esvreeuo ao Governador Dom Nunes de Alues, dando lhe conta do q hia obrando, acerca da guerra, in Gomes, Antonio, Viagem q fez o Padre Ant.º Gomes, da Comp.ª de Jesus, ao Imperio de de (sic) Manomotapa: e assistencia q fez nas ditas terras de Alg´us annos (séc. XVII), 3, 1959, separata, p. 205.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu tambem sempre achei que aquando de campanhas eleitorais, em vez de retorica se deveriam fazer 'potlach' pelo pais. Bem, se considerarmos as camisetes e os bones como tais... talvez ainda estejamos na senda seiscentista; i.e. ganha quem mais camisetes distribui.

Carlos Serra disse...

Vamos aguardar pelo próximo potlach, não falta muito.