1. O importante para muitos intelectuais é mudar as mentalidades rebeldes e não a situação onde essas mentalidades operam. O importante é mudar o rio, não as margens que tornam o rio permanentemente rio. Acções-aspirina, nas palavras de Paulo Freire.
2. Quando um grupo político tem sistematicamente um comportamento violento, os intelectuais almofadados pensam que o grupo não pertence à história dos homens, mas à história das aberrações biológicas eternas. No fundo pensam que há, ab initio, um curto-circuito nas suas sinapses.
3. Intelectuais com ideias diferentes e socialmente críticas podem sempre correr o risco de passar por enfermos, por neuróticos, por estrangeiros, quando os produtores oficiais de opinião defendem que tudo está socialmente bem.
4. Nada provoca mais acidez gástrica nos intelectuais comprometidos com o Poder do que a linguagem comprometida com a crítica social. O seu ideal nefelibata é sempre o equilíbrio, o belo, a razão, a elegância comportamental, o perfume do consenso.
5. A uma sociedade dividida em classes, em grupos sociais antagónicos, os intelectuais da "globalização" opõem as virtudes horizontais e anestesiantes do pluralismo.
6. De tanto defendermos publicamente os nossos prejuízos acabamos por nos convencer de que eles são o produto racional e paciente do que investigámos.
7. Com frequência, as chamadas campanhas de "empoderamento" de grupos sociais considerados vulneráveis visam menos mudar a sociedade que gera desigualdades do que dotar esses grupos dos mesmos meios de que dispõem outros para as manter.
6 comentários:
belo texto doutor. e o que resta para uma intelectualidade periferica? falo da intelectualidade que reproduz-se fora das instituicoes organizadas - barracas, bares, cafes, quintais - ?
Gostava de ouvir a sua opinião sobre ela.
boas "pistas" para a reflecção futura(?)sobre o comportamento/trajeto da intelectualidade nacional nestes 30 anos!Mas creio que para uma "tificação" dos mesmos, teriamos mesmo que revisitar e confrontar velhos e actuais conceitos (orgânicos,liberais,comprometidos,planfetários,ect) sobre o intelectual com o contexto Moçambique/África.Cá para mim,a destinção entre "possuidores/reprodutores de conhecimento" e "possuidores/produtores de conhecimento" parece ser a grande linha de demarcação.Só os últimos podem realmente ter "ideias diferentes e..." (acrescentaria eu,"socialmente operativas"),estejam eles comprometidos ou não com o poder do Estado ( porque há outros "poderes"-universidades,meios de comunicação,corporações profissionais,associações cívicas,org.internacionais,etc).Aquele abraço amigo.
AOS
Leia, entre tantos outros, António Gramsci e Norberto Bobbio.
Já estão lidos prof (fazem parte do cardápio a cadémico..).A nossa sociedade tem naturalmente nuances/conflitualidades que nem sempre "cabem" na parteleira gramsquiana ou bobbiana.Se assim fosse estaria tudo dito...
Ainda bem que estão lidos. Procure, agora, então, operar uma reflexão sobre o que chama intelectual periférico (o padre, o professor, o curandeiro, o régulo e por aí fora). Que tal?
Enviar um comentário