Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
31 janeiro 2007
Florestas a saque
O "mediafax" refere-se na edição de hoje ao saque das florestas. Importe e leia aqui.
Uma prova de que a voz do Professor é ouvida e que terá de ser considerada. Obrigada por ter dito o que eu e muitos outros gostaríamos de ter sido capazes de dizer, tão bem e com tanta força como fez. Aguardemos agora por algum resultado na protecção das nossas riquezas naturais e na valorização do nosso capital humano.
Obreigado, Fátima e Egídio. Tenho sempre para mim que nós, estudantes do social, não podemos apenas ficar na estética confortante das análises hermenêuticas, nas perguntas almofadadas, nas dúvidas caseiras. Como disse um dia o falecido Pierre Bourdieu, a sociologia é um desporto de combate. E quem diz sociologia pode dizer outra ciência social qualquer. A luta continua na nossa terra amada.
É preciso ser sociólogo para ficar indignado ao ver os recursos naturais na nossa terra amada serem delapidados? É preciso ser sociólogo para que o presidente da república nos dê ouvidos e atenção quando precisamos colocar alguma preocupação que diz respeito a nossa própria existência futura? Sim e não, penso! Há sociólogos que ao longo da sua carreira adquirem um notável capital simbólico (prestigio, poder etc). Esse capital simbólico pode ser usado nas lutas sociais que este achar justo envolver-se nelas. Mas estará este ainda a exercer o ofício de sociólogo? As denúncias, as marchas, o engajamento político de forma geral constituem algum passo no sentido de compreender, sociologicamente, as razões para a ocorrência deste tipo de fenómenos no nosso país? Nestas circunstancias quem agiu? O sociólogo ou o cidadão? Tenho para mim que falou mais alto o cidadão, indignado. Não vejo nada de errado nisso. Sim, é preciso sair da ‘cidade do saber’, ‘da estética confortante das das análises hermenêuticas’, etc. Mas a que custo? Ao preço da diluição das fronteiras entre as regras e procedimentos que regem aquela cidade e o bom senso?
Tenho, para mim, que quando Bourdieu marchava pelas ruas de Paris numa guerra declarada e aberta contra o neo-liberalismo do mercado (globalizante) era o cidadão e não o sociólogo que ia as ruas. Estes dois seres não são, necessariamente, mutuamente exclusivos. No entanto, penso que são distintos na sua essência e acção. No meu entendimento, visualizamos a ponta do iceberg e já estamos a arremessar. Teremos efectivamente identificado problema? O problema é aquele que achamos ser problema? Estamos a adoptar os meios adequados? Estamos exercendo com eficácia o papel que nos é reconhecido e com o qual ganhamos legitimidade para agir?
O problema mais bicudo, penso, é de um governo (Estado) institucionalmente fraco, incapaz de prover e prever este tipo de situações desempenhando aquilo que seriam suas funções básicas. Controlar a concessão de licenças, fiscalizar com uma guarda-florestal minimamente equipada etc. Existe isso? Onde andavam quando iniciou esta delapidação? Porque temos que esperar que um ‘estrangeiro’ (não vejo mal algum na apreciável atitude do denunciante) para vir denunciar este tipo de espoliação dos nossos recursos? No entanto, isso é sintomático de uma fragilidade ainda maior. Essa fragilidade é que me parece constituir o nosso calcanhar de Aquiles. Como resolver? Não sei! Mas pelo menos sei que não sei. Suponho que esse deveria ser o primeiro passo, antes de partirmos para a acção. P.L
Patrício Langa, julgo que é o que significam as iniciais P.L. colocou, quanto a mim, o problema real. Na verdade pode ser que o Presidente leia a carta do Professor Serra. E depois? Vai construir as infra-estruturas instituionais em falta ou debilitadas por decreto?
Parece-me que definir como deve ser o problema da delapidação dos nossos recursos, florestais e outros, deverá ser o primeiro passo. Porqué esses recursos são delapidados? É porque as elites ganham com isso? É porque o nosso Estado é fraco? É pelas duas razões e mais outras? Porqué o nosso Estado é fraco? É fraco porque isso intessa às elites? É fraco porque partimos de zero? É fraco porque se necessitam muitos recursos (humanos, financeiros...) para o construir? A onde localizar recursos em falta para tornar eficientes e eficazes as instituições moçambicanas? Há, em minha opinião muitas perguntas a fazer, perguntas essas que suscitariam outras tantas respostas. Pode ser que as respostas às nossas perguntas mudem o sentido da nossa legítima indignação.
Com todo o meu respeito pelo trabalho dos nossos estudiosos e cientistas, e a minha estima por Patrício Langa, deixem-me contar esta história que me parece vir a propósito: Há dias estava eu a falar com um casal amigo de Quelimane, querendo saber novidades da terra. À minha pergunta sobre se a cidade, nos mais diversos aspectos, estava melhor do que quando lá estive há algum tempo atrás, responderam-me mais ou menos assim: Sabes, antigamente, lá em Quelimane via-se um problema e, bem ou mal, ia-se imediatamente tentar resolvê-lo. Agora, primeiro vai alguém ou uma equipa fazer uma apreciação rápida, depois vão outros fazer o estudo de viabilidade, o projecto, a avaliação de impacto, etc., e só então é que se começa a fazer de facto alguma coisa. Assim, quase nada de visível para melhoramento da vida das pessoas acontece. Quanto ao que se está a passar nas nossas florestas, é urgente fazer-se alguma coisa. Não vamos esperar por resolver a fragilidade do Estado para travar a pilhagem que todos sabemos existir. É urgente que a consciência de cada um dos nossos cientistas os motive a agir em defesa de um bem que é de todos. E sobretudo num país tão pobre como o nosso e em que as florestas se contam entre os principais recursos.
Xi mwana, vc anda fazer muito milando, sabe? Vc deve fazer como la na terra da India, onde nos tempos pessoas jogavam xadres enquanto a guerra estava fora de casa, quase pegar fogo na casa. Agora problema, xamuali, vc precisa primeiro pensar as feridas do estado e depois fazer barulho da madeira. Mesmo se vc quando chegar ao fim ja nao tem arvores, melhor primeiro pensar direito no estado pangono pangono. Vc nao precisa fazer barulho, precisa ficar no seu gabinete. Quando machamba nao e sua, vc nao pode comer milho la, ouviu? Se presidente vai ler ou nao sua carta, xamuali, so Deus sabe.Mas mwana, vc precisa continuar a fazer barulho, a gente precisa mesmo disso.Assim mesmo.
Agora so falta dizer que o professor devia ter ficado calado no quarto da ciencia. So falta mesmo um dia ficarmos sem arvores e sem vozes criticas. "Enquanto o poco nao seca, nao sabemos dar valor a agua". (um curioso)
CONTRA A DELAPIDAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS, estamos juntos. Apenas um aspecto que preciso desabafar: Os chineses estão a dar cabo às nossas florestas. Claro que com eles, estão os nossos familiares, moçambicanos a carregar troncos de um lado para outro, corta-los, armazen-alos ou escondê-los; estão os nossos irmãos como contra-parte moçambicana ou foi o moçambicano e re vendeu a licença de exploração, etc. E aí no topo, está algûem a partilhar os dinheiros com os "chineses". Fui muito especulador, mas que fazer...também sinto dores.
Professor Serra, jogue xadrez como vem na história da sra. esfinge, mas faça também "milando" para conhecermos o que tantas vezes nos escondem.Um abraço forte. JCTivane
Neste blogue o Professor Carlos Serra vem nos ensinando a pensar e a problematizar. Ele é dos que mais vem advertindo contra o perigo de arremeçar contra a primeira ponta do iceberg que nos apareça.
De facto a nossa indignação é grande contra a delapidação dos nossos recursos. Nao creio todavia que seja de se incitar para uma de acção deagitação política antes de percebermos bem onde está o problema. A denúncia está feita. O que é que queremos que o Presidente faça com base na nossa denúncia? Isso que queremos que se faça é factível ou é mais ou menos do género da Ofensiva Política e Organizacional da década 80?
Problematizar não é perder tempo. Esse é um dos grandes ensinamentos que retenho do Professor Carlos Serra.
A conversa da Fátima é mais uma lição viva. O Egídio descreveu bem de como a negociata de madeira está a andar. Somos todos moçambicanos, não somos?! Falar de falta de fiscais ou de outro problema? Nestas queixas fala-se de contactos com fiscais, polícias e membros da direcção da agricultura, membros da população manipulados. Ainda temos lá os régulos ou chefes tradicionais que uma das suas tarefas é controlar o uso dos recursos naturais...
Queira-se estudar é bom, mas um dos problemas é o facto de ninguém ter o receio que outro responsável saiba da negociata – um tema. Todos já sabem e estão directa ou indirectamente envolvidos?... Aí está bem descrito pelos denunciantes que em nenhuma instância eles recebiam apoio ou foram bem vistos, porquê? Faltou-lhes ir ao administrador do distrito para ouvirmos de como ele reagiria. Não seria da mesma maneira dos polícias, director da agricultura? Gostariamos ouvir de como reagiu o governador. Não será o problema de compromissos do topo para a base?
Estou convencido que para pôr-se isto em marcha ou dar-se ao fim, este foi o melhor caminho e por isso, o meu apoio incondicional. Os de direito já não vão fazer com que o Presidente da República não saiba disto. Do resto ele exerce uma presidência aberta, significando um contacto permanente e na medida do possível com o cidadão.
Agradeço a todos a participação no fórum que é este blogue. Tenho para mim que cada um de vós faz o melhor para sentir, como sente, os problemas que nos afecta. Sempre defendi que as instituições não são formadas apenas por pessoas em si, independentes de relações sociais, de grupos, de alianças, de interesses quantas vezes fortes e inamovíveis. Não me parece ser má hipótese defender que muitas vezes as coisas não andam ou não melhoram porque há interesses em que as coisas assim fiquem, assim permaneçam como naturais, lógicas. Uma análise social que se baseie apenas nas pessoas e não nas pessoas socialmente inseridas em redes de aliança, em interesses vários e antagónicos, acaba por resvalar para o discurso piedoso e inútil que entende que a boa consciência e os apelos tudo resolvem. Não me parece ser má hipótese defender que muitos dos problemas que temos são justamente originados por poderosos interesses nada interessados que as feridas (deixem-me dizer assim)sejam curadas ou cicatrizem. Uma pedagogia deve sempre estar conjugada com a consciência clara e aberta de que em certos momentos é necessário ter coragem para encontrar com clareza os nós de estrangulamento. Importa, assim, ter uma análise "social" e não tanto uma análise "psicológica". E análise que exige coragem e tomada de medidas consentâneas. Eu prosseguirei a minha resposta em resposta a uma bela intervenção do Muthisse. E muitas vezes é necessário, sim, Gabriel Muthisse, uma espécie de ofensiva (eu não tenho receio do termo)se em jogo estiver o nosso País, o nosso bem-estar, se em jogo estiverem os nossos filhos, o nosso futuro. E eu quero acreditar que o Presidente Guebuza poderá levar a sério a carta que lhe escrevi. Um abraço para todos.
15 comentários:
Uma prova de que a voz do Professor é ouvida e que terá de ser considerada. Obrigada por ter dito o que eu e muitos outros gostaríamos de ter sido capazes de dizer, tão bem e com tanta força como fez. Aguardemos agora por algum resultado na protecção das nossas riquezas naturais e na valorização do nosso capital humano.
De certeza que o Presidente vai ler ainda hoje.
Não haja dúvida.
Obreigado, Fátima e Egídio. Tenho sempre para mim que nós, estudantes do social, não podemos apenas ficar na estética confortante das análises hermenêuticas, nas perguntas almofadadas, nas dúvidas caseiras. Como disse um dia o falecido Pierre Bourdieu, a sociologia é um desporto de combate. E quem diz sociologia pode dizer outra ciência social qualquer. A luta continua na nossa terra amada.
Quando sair da ‘cidade do Saber’?
É preciso ser sociólogo para ficar indignado ao ver os recursos naturais na nossa terra amada serem delapidados? É preciso ser sociólogo para que o presidente da república nos dê ouvidos e atenção quando precisamos colocar alguma preocupação que diz respeito a nossa própria existência futura? Sim e não, penso!
Há sociólogos que ao longo da sua carreira adquirem um notável capital simbólico (prestigio, poder etc). Esse capital simbólico pode ser usado nas lutas sociais que este achar justo envolver-se nelas. Mas estará este ainda a exercer o ofício de sociólogo? As denúncias, as marchas, o engajamento político de forma geral constituem algum passo no sentido de compreender, sociologicamente, as razões para a ocorrência deste tipo de fenómenos no nosso país? Nestas circunstancias quem agiu? O sociólogo ou o cidadão? Tenho para mim que falou mais alto o cidadão, indignado. Não vejo nada de errado nisso. Sim, é preciso sair da ‘cidade do saber’, ‘da estética confortante das das análises hermenêuticas’, etc. Mas a que custo? Ao preço da diluição das fronteiras entre as regras e procedimentos que regem aquela cidade e o bom senso?
Tenho, para mim, que quando Bourdieu marchava pelas ruas de Paris numa guerra declarada e aberta contra o neo-liberalismo do mercado (globalizante) era o cidadão e não o sociólogo que ia as ruas. Estes dois seres não são, necessariamente, mutuamente exclusivos. No entanto, penso que são distintos na sua essência e acção. No meu entendimento, visualizamos a ponta do iceberg e já estamos a arremessar. Teremos efectivamente identificado problema? O problema é aquele que achamos ser problema? Estamos a adoptar os meios adequados? Estamos exercendo com eficácia o papel que nos é reconhecido e com o qual ganhamos legitimidade para agir?
O problema mais bicudo, penso, é de um governo (Estado) institucionalmente fraco, incapaz de prover e prever este tipo de situações desempenhando aquilo que seriam suas funções básicas. Controlar a concessão de licenças, fiscalizar com uma guarda-florestal minimamente equipada etc. Existe isso? Onde andavam quando iniciou esta delapidação? Porque temos que esperar que um ‘estrangeiro’ (não vejo mal algum na apreciável atitude do denunciante) para vir denunciar este tipo de espoliação dos nossos recursos? No entanto, isso é sintomático de uma fragilidade ainda maior. Essa fragilidade é que me parece constituir o nosso calcanhar de Aquiles. Como resolver? Não sei! Mas pelo menos sei que não sei. Suponho que esse deveria ser o primeiro passo, antes de partirmos para a acção.
P.L
Em frente, PL!
Patrício Langa, julgo que é o que significam as iniciais P.L. colocou, quanto a mim, o problema real. Na verdade pode ser que o Presidente leia a carta do Professor Serra. E depois? Vai construir as infra-estruturas instituionais em falta ou debilitadas por decreto?
Parece-me que definir como deve ser o problema da delapidação dos nossos recursos, florestais e outros, deverá ser o primeiro passo. Porqué esses recursos são delapidados? É porque as elites ganham com isso? É porque o nosso Estado é fraco? É pelas duas razões e mais outras? Porqué o nosso Estado é fraco? É fraco porque isso intessa às elites? É fraco porque partimos de zero? É fraco porque se necessitam muitos recursos (humanos, financeiros...) para o construir? A onde localizar recursos em falta para tornar eficientes e eficazes as instituições moçambicanas? Há, em minha opinião muitas perguntas a fazer, perguntas essas que suscitariam outras tantas respostas. Pode ser que as respostas às nossas perguntas mudem o sentido da nossa legítima indignação.
Gabriel Muthisse
Com todo o meu respeito pelo trabalho dos nossos estudiosos e cientistas, e a minha estima por Patrício Langa, deixem-me contar esta história que me parece vir a propósito:
Há dias estava eu a falar com um casal amigo de Quelimane, querendo saber novidades da terra. À minha pergunta sobre se a cidade, nos mais diversos aspectos, estava melhor do que quando lá estive há algum tempo atrás, responderam-me mais ou menos assim: Sabes, antigamente, lá em Quelimane via-se um problema e, bem ou mal, ia-se imediatamente tentar resolvê-lo. Agora, primeiro vai alguém ou uma equipa fazer uma apreciação rápida, depois vão outros fazer o estudo de viabilidade, o projecto, a avaliação de impacto, etc., e só então é que se começa a fazer de facto alguma coisa. Assim, quase nada de visível para melhoramento da vida das pessoas acontece.
Quanto ao que se está a passar nas nossas florestas, é urgente fazer-se alguma coisa. Não vamos esperar por resolver a fragilidade do Estado para travar a pilhagem que todos sabemos existir. É urgente que a consciência de cada um dos nossos cientistas os motive a agir em defesa de um bem que é de todos. E sobretudo num país tão pobre como o nosso e em que as florestas se contam entre os principais recursos.
Xi mwana, vc anda fazer muito milando, sabe? Vc deve fazer como la na terra da India, onde nos tempos pessoas jogavam xadres enquanto a guerra estava fora de casa, quase pegar fogo na casa. Agora problema, xamuali, vc precisa primeiro pensar as feridas do estado e depois fazer barulho da madeira. Mesmo se vc quando chegar ao fim ja nao tem arvores, melhor primeiro pensar direito no estado pangono pangono. Vc nao precisa fazer barulho, precisa ficar no seu gabinete. Quando machamba nao e sua, vc nao pode comer milho la, ouviu? Se presidente vai ler ou nao sua carta, xamuali, so Deus sabe.Mas mwana, vc precisa continuar a fazer barulho, a gente precisa mesmo disso.Assim mesmo.
Agora so falta dizer que o professor devia ter ficado calado no quarto da ciencia. So falta mesmo um dia ficarmos sem arvores e sem vozes criticas. "Enquanto o poco nao seca, nao sabemos dar valor a agua".
(um curioso)
CONTRA A DELAPIDAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS, estamos juntos.
Apenas um aspecto que preciso desabafar:
Os chineses estão a dar cabo às nossas florestas. Claro que com eles, estão os nossos familiares, moçambicanos a carregar troncos de um lado para outro, corta-los, armazen-alos ou escondê-los; estão os nossos irmãos como contra-parte moçambicana ou foi o moçambicano e re vendeu a licença de exploração, etc. E aí no topo, está algûem a partilhar os dinheiros com os "chineses".
Fui muito especulador, mas que fazer...também sinto dores.
Professor Serra, jogue xadrez como vem na história da sra. esfinge, mas faça também "milando" para conhecermos o que tantas vezes nos escondem.Um abraço forte.
JCTivane
Neste blogue o Professor Carlos Serra vem nos ensinando a pensar e a problematizar. Ele é dos que mais vem advertindo contra o perigo de arremeçar contra a primeira ponta do iceberg que nos apareça.
De facto a nossa indignação é grande contra a delapidação dos nossos recursos. Nao creio todavia que seja de se incitar para uma de acção deagitação política antes de percebermos bem onde está o problema. A denúncia está feita. O que é que queremos que o Presidente faça com base na nossa denúncia? Isso que queremos que se faça é factível ou é mais ou menos do género da Ofensiva Política e Organizacional da década 80?
Problematizar não é perder tempo. Esse é um dos grandes ensinamentos que retenho do Professor Carlos Serra.
Gabriel Muthisse
A conversa da Fátima é mais uma lição viva. O Egídio descreveu bem de como a negociata de madeira está a andar. Somos todos moçambicanos, não somos?! Falar de falta de fiscais ou de outro problema? Nestas queixas fala-se de contactos com fiscais, polícias e membros da direcção da agricultura, membros da população manipulados. Ainda temos lá os régulos ou chefes tradicionais que uma das suas tarefas é controlar o uso dos recursos naturais...
Queira-se estudar é bom, mas um dos problemas é o facto de ninguém ter o receio que outro responsável saiba da negociata – um tema. Todos já sabem e estão directa ou indirectamente envolvidos?... Aí está bem descrito pelos denunciantes que em nenhuma instância eles recebiam apoio ou foram bem vistos, porquê? Faltou-lhes ir ao administrador do distrito para ouvirmos de como ele reagiria. Não seria da mesma maneira dos polícias, director da agricultura? Gostariamos ouvir de como reagiu o governador. Não será o problema de compromissos do topo para a base?
Estou convencido que para pôr-se isto em marcha ou dar-se ao fim, este foi o melhor caminho e por isso, o meu apoio incondicional. Os de direito já não vão fazer com que o Presidente da República não saiba disto. Do resto ele exerce uma presidência aberta, significando um contacto permanente e na medida do possível com o cidadão.
Agradeço a todos a participação no fórum que é este blogue. Tenho para mim que cada um de vós faz o melhor para sentir, como sente, os problemas que nos afecta. Sempre defendi que as instituições não são formadas apenas por pessoas em si, independentes de relações sociais, de grupos, de alianças, de interesses quantas vezes fortes e inamovíveis. Não me parece ser má hipótese defender que muitas vezes as coisas não andam ou não melhoram porque há interesses em que as coisas assim fiquem, assim permaneçam como naturais, lógicas. Uma análise social que se baseie apenas nas pessoas e não nas pessoas socialmente inseridas em redes de aliança, em interesses vários e antagónicos, acaba por resvalar para o discurso piedoso e inútil que entende que a boa consciência e os apelos tudo resolvem. Não me parece ser má hipótese defender que muitos dos problemas que temos são justamente originados por poderosos interesses nada interessados que as feridas (deixem-me dizer assim)sejam curadas ou cicatrizem. Uma pedagogia deve sempre estar conjugada com a consciência clara e aberta de que em certos momentos é necessário ter coragem para encontrar com clareza os nós de estrangulamento. Importa, assim, ter uma análise "social" e não tanto uma análise "psicológica". E análise que exige coragem e tomada de medidas consentâneas. Eu prosseguirei a minha resposta em resposta a uma bela intervenção do Muthisse. E muitas vezes é necessário, sim, Gabriel Muthisse, uma espécie de ofensiva (eu não tenho receio do termo)se em jogo estiver o nosso País, o nosso bem-estar, se em jogo estiverem os nossos filhos, o nosso futuro. E eu quero acreditar que o Presidente Guebuza poderá levar a sério a carta que lhe escrevi. Um abraço para todos.
Sugiro-vos que leiam os comentários na entrada da minha da minha carta ao Persidente Guebuza e, em particular, a intervenção do Sr. António Chuva.
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