19 janeiro 2007

Como se formou a burguesia moçambicana


"Segundo analistas a ter em conta, a construção da burguesia moçambicana foi claramente baseada no saque de fundos públicos, através do crédito concedido com fundos do Tesouro, para financiar empresas sem recursos humanos e equipamentos adequados para que operassem com sucesso" - esse um extracto de um trabalho publicado hoje no "Savana", baseado no último relatório sobre a Conta Geral do Estado de 2005, a ser discutido em Março na Assembleia da República.
Os créditos, segundo o Savana, estão ainda longe de serem pagos e foram concedidos "na maioria para elites políticas ligadas ao partido FRELIMO" (edição de hoje, 19/01/07, pp.2-3).
Um clássico exemplo de acumulação primitiva de capital, para recordar o velho Marx.
O ex-Banco Austral foi um pivot nessa acumulação (15o milhões de dólares de fraudes e de créditos mal parados). Os assassinatos de Carlos Cardoso e de Siba Siba Macuacua não foram alheios a esse processo.
Entretanto, assinale-se o reaparecimento, através do "Savana" de hoje, na imprensa moçambicana, do termo "burguesia", fenómeno indiscutivelmente inédito após anos de esvaziamento do vocabulário digamos que revolucionário e da orgia dos termos almofadados e inócuos monitorados pela confortante "sociedade civil".

7 comentários:

Anónimo disse...

Isso lembra-se as palavras de Salomão Moyana ontem no seu jornal que acho são dignas de citação:

“Noutros países democráticos, o escândalo, na gestão da coisa pública é assumido com tanta vergonha que até os envolvidos se demitem dos seus cargos. Entre nós, o roubo, o desvio de fundos e da conduta recomendável são celebrados com cada vez mais arrogância pelos envolvidos e cada vez maior apadrinhamento político materializado pelas promoções descaradas, em congressos partidários” Salomão Moyana, Jornalista Moçambicano. Zambeze, Editorial, 2007-01-18.

Carlos Serra disse...

Exactamente, Egídio!

Elísio Macamo disse...

atenção, por favor. aqui na alemanha nunca vi nenhum político envolvido em escândalos se envergonhar pelos seus actos; o que fazem até é fazer tudo para impedir que os factos sejam conhecidos. existem, portanto, processos sociais que precisamos de conhecer e que, provavelmente, explicam porque as elites políticas de outros países parecem mais comedidas. acho profundamente significativo que o tribunal administrativo tenha produzido estas análises. isso devia ser tema de reflexão entre nós os cientistas sociais, pois o que deu coragem aos juízes pode explicar o que precisamos de saber para tornar a vida política mais saudável.

Carlos Serra disse...

Aproveito dizer-lhe uma coisa, Egídio, completamente fora do tema aqui: tenha prudência quando acessa o site do "macua", pois ele tem um robusto "dialer", uma coisinha maliciosa, como tantas há na net, que introduz um código no seu portal e aproveira fazer muitas coisas das quais você não sabe nem saberá...

Anónimo disse...

Obrigado profesor Serra pelo alerta. Isso quer dizer que deverei evitar acessar a essa página. Há algo de errado que notou no meu portal? Qual?
Sobre as palavras de Moyana, acho eu que ele queria se referir ao bons exemplos onde os políticos prestam contas as instiuicões e ao povo, diariamente.
Aconteu por exemplo que o Ex-ministro dos negócios estrangeiros portugues Martins da Cruz PEDIU demisão depois de aparecer na imprensa uma notícia dando conta que ele teria pedido ao ministro da educacão, uma consideracão especial a sua filha que estava para entrar para a Universidade, Faculdade de Medicina, na Universidade NOVA DE LISBOA.
A filha inteligente mas envergonhada, foi estudar na Espanha,e ele íntegro DEMITIU-SE do cargo. Foi a era do Primeiro Governo de Durão Barroso.
O que acontece na Alemanha pode tambem acontecer na Russia, mas quero, como Moyana, me referiri aos bons exemplos de Governos democraticos onde há o mínimo de respeito pelos dinheiros dos outros, aliás dos contribuintes e dos doadores.
Acho que o Professor macamo estaria de acordo comigo!

Elísio Macamo disse...

caro egídio, a nossa discussão é capaz de ser semântica. não creio que o ministro português se tenha demitido por ter vergonha. a melhor explicação está no início da sua resposta: prestar contas ao povo e às instituições. se fossse por vergonha, não ficava à espera da denúncia na imprensa. nem teria feito a coisa, mas aí já estou provavelmente a exagerar. eu vejo isto na perspectiva do que significa para nós que somos cientistas sociais. penso que a nossa maior contribuição deve ser em ajudar as pessoas a abandonarem a nociva ideia de que o nosso desenvolvimento depende da criação de gente perfeita. veja o meu comentário mais prolongado no meu blogue "ideiascriticas.blogspot.com"

Carlos Serra disse...

Egídio: o que sei é que ao acessar o tal portal, o sistema de segurança do meu computador imediatamente avisou para a existência de um "espião", que foi "morto". Se vc possui um bom firewall, ele tb o avisará. Se não tem, sugiro-lhe o mais popular importável na net, o "zone alarm". Abraço.