29 janeiro 2007

Kusondzokera ndale pa dziko (2)


"Só há duas maneiras de analisar política: a certa que é vossa e a errada que é minha" (provérbio meu cuja patente não registei)

Vamos lá então prosseguir, em pequenos textos de cada vez, o kusondzokera ndale pa dziko (espreitando a política na terra).

Temos duas grandes virtudes no nosso pensamento avessos à angústia dos detalhes:

(1) Agrupar numa palavra, num conceito, uma realidade que pode ser ser (e é) vasta (a "unidade psicológica de grupo", diria Georg Simmel). As palavras ganham então uma clareza, uma homogeneidades e uma necessidade indiscutíveis. Por exemplo, em relação às eleições de 2004: "Embora o voto da Frelimo fosse mais baixo de 15-20% relativamente a 1999, a maior parte da abstenção foi do lado da oposição. Afonso Dhlakama perdeu 53% e a Renamo 45% do seu voto de 1999." Temos assim grandes conjuntos (Frelimo, Renamo, oposição, abstenção, 53%) reduzidos a uma carne sem ossos ou aos ossos sem carne, como quiserem. Com fragmentos conhecidos formamos uma unidade que julgamos sólida reconstituindo por extrapolação o que é desconhecido.

(2) Por extensão, atribuir a um fenómeno já de si complexo uma causa julgada tão clara como a água dos Pequenos Libombos. Por que razão menos pessoas votaram pela Renamo em 2004? Resposta: "Os eleitores potenciais da oposição decidiram que, tendo começado as chuvas, era melhor ir semear a machamba do que votar pela Renamo."

O nosso grande problema em sociologia política consiste justamente em usarmos florestas para nos pouparmos o abominável trabalho de tomar em conta a singularidade de cada árvore.

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