Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
03 janeiro 2007
A grande festa da carne do elefante
I
Século XVII, vale do Zambeze
Elefante morto, século XVII, algures no vale do Zambeze, descrição feita por Francisco de Almeida, então capitão de Sena:
"(...) mandão chamar as molheres, filhos, e mais gente de sua pouação, fazem aly suas casas, começa cada hu cõ sua faca a cortar no Elefante, hus da banda de dentro, outros de fora, e as vezes se encõtrão, e se cortão hus, aos outros, e não se vão daly, athe q não deixão tudo limpo (...) (Almeida, Francisco Figueira de, Carta q Franc.co Figr.ª de Almeida, Capitam de Sena, esvreeuo ao Governador Dom Nunes de Alues, dando lhe conta do q hia obrando, acerca da guerra, in Gomes, Antonio, Viagem q fez o Padre Ant.º Gomes, da Comp.ª de Jesus, ao Imperio de de (sic) Manomotapa: e assistencia q fez nas ditas terras de Alg´us annos (séc. XVII), 3, 1959, separata, p. 58.
II
Século XXI, Matola-Gare, província de Maputo
Dois elefantes abatidos, século XXI, Dezembro de 2006, Matola-Gare, província de Maputo, descrição do diário "Notícias":
"(..) assistiu-se a uma verdadeira festa da carne do elefante. Um verdadeiro assalto a um donativo raro por alturas da grande festa. Sem que nenhuma ordem tivesse sido dada, gente de todas as idades entre crianças e adultos, homens e mulheres, empunhando catanas e outros instrumentos assomaram ao matadouro de circunstância, ida de diversos sítios (...) E naco a naco, a carne dos dois elefantes que poderia ser acima de uma tonelada foi esgotada num período de aproximadamente duas horas." ("Notícias", 02/01/07, p.2)
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Foto do "Notícias".
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2 comentários:
Jornalismo puro. Duas imagens podem sair desta descrição.
1. A de que os moçambicanos adoram comer carne e
2. Por que ela é rara e inacessível para muitos, então nunca perdem a oportunidade de matar saudades quando esta for de borla.
Independentemente das conotações pejorativas que tanto a minha interpretação como a descrição dos autores das estórias, acho eu bastante interessante a forma como as pessoas "exorcisam" as suas dificuldades, transformando uma carne em "bode expiatório". lembre-se, os elefantes faziam estragos às machambas.
Enfim, questões para pensar!
Abraço!
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