Pouco a pouco as ciências morrem em África em tudo o que ela tem (tinha) de local, de agendas locais, de pensamento local. Deixamos de pensar, passamos a ser pensados. Segundo um estudo recente, a pesquisa não desapareceu, mas em muitos locais o seu modo de produção mudou. Eis alguns princípios desses cenários:
- O cientista trabalha sob o acicate de uma encomenda externa e não nos carris da carreira académica
- A actividade exerce-se em redes mundiais
- A procura internacional (e não mais nacional) regula as agendas de pesquisa
- A busca de benefícios (mais do que de saberes) tornou-se a máxima de acção
- É o mercado que regula e avalia a actividade dos pesquisadores, não mais os pares.
A esse sombrio cenário escapam, ainda, países como a África do Sul e alguns países do norte de África.
(Ver Ronad Waast, Ministère des Affaires Étrangères (France), L´État des sciences en Afrique, Avril 2002, edição bilingue, também em língua inglesa).
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
3 comentários:
Parece que mesmo nos países de onde vêm as “encomendas externas” e nos africanos que aparentemente escapam, cada vez mais o tipo de pesquisa e a sua apropriação se faz “... ao sabor do que deseja a mídia ou, mais geralmente, de maneira quase diletante”, como diria Renato Ribeiro. Ou seja, o mercado acaba por controlar a maior parte desse processo de produção do conhecimento. Não poucas vezes as universidades viram hotéis – ou motéis, em que se pesquisa por dinheiro - em que os hospedes (pesquisadores, no caso) de uma área têm entre si uma relação virtual cuja forma de gestão é por projecto, em primeiro plano.
O quadro que coloca parece-me correcto. Porém, não sou contra quem procura os nossos serviços, quem nos encomenda uma determinada pesquisa. Sou, sim, contra duas coisas: (1) Que, aceitando, sejamos pensados em lugar de pensar; (2) Que esqueçamos por completo as nossas agendas, os nossos temas, tudo aquilo que consiste na pesquisa local por nós pensada. Se temos um projecto e pedimos ao CODESRIA, por exemplo, financiamento, isso é óptimo. Forte abraço!
Grande tristeza por causa disso na ciência africana. Nosso estômago tem dono estrangeiro.
Jonas
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